terça-feira, 30 de abril de 2013

Herdade da Corte Velha

Corte Velha, 1972. Foto de JV
Desconheço a quem pertence esta herdade mas penso que parte ou no todo será propriedade dos descendentes do médico Dr. João Francisco Dias, natural do concelho de Castro Marim, freguesia de Odeleite e da pequena povoação de Corte Velha.

Pertenceu à Real Capela de Nª Sª da Conceição, na vila de Alcoutim a quem teria sido doada em época que desconheço.

O dado mais antigo que possuo é de 1826, pois nesta altura pagava de décima 2.160 réis.

O prof. Trindade e Lima num dos seus escritos, afirmou: Das abas do concelho de Castro Marim, que deitam para a Foupana, veio um ano à feira de Alcoutim um velho e abastado lavrador. Encontrou meu pai, e como eram conhecidos, com ele travou conversa. Meu pai, como era seu costume, fez a apologia da necessidade de os homens se instruírem. Dizia ele:- Os pobres ficam mais ricos e os ricos ficam mais protegidos contra os reveses da fortuna. Se a roda desta desanda, a sua cultura ajuda-os a ganhar a vida em qualquer parte e em qualquer circunstância. Ouviu, convenceu-se e decidiu-se o velho lavrador. Voltando a sua casa, na Corte Velha, disse para o filho: Eu quero que os meus netos vão estudar.
Acabam com esta decisão os ócios de um filho do lavrador e começou, então, propriamente, a vida do saudoso doutor João Francisco Dias. (1)

Este abastado lavrador era, segundo creio, Manuel Francisco Dias, avô paterno daquele que veio a ser o distinto médico Dr. João Francisco Dias. (2)

A herdade que em título referimos estava aforada em 1851 a José Dias que se apresenta com o seu filho Francisco na Câmara (proprietária da Real Capela) pretendendo que fosse feito um novo aprazamento a favor de seu filho, passando o foro para mais dez alqueires de trigo, o que ficou a constituir o foro anual de oitenta alqueires.

Foi lavrada então nova escritura de aforamento, pelo tempo de três vidas, sendo a primeira a do dito Francisco, este indicará a 2ª e esta a 3ª.

O foro veio a ser remido em 7 de Novembro de 1878, tendo sido entregue pelo Administrador do Concelho seis inscrições de dívida pública que totalizam 1.900 réis e provenientes daquela alienação. (3)

As hoje designadas Corte Velha e Corte Nova eram por essas alturas conhecidas por Cortes de S. Tomé.
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(1)     “ Um Médico Exemplar: o Dr. João Francisco Dias”, Trindade e Lima, Revista O Século  (?) . Tomámos conhecimento deste artigo na barbearia do Sr. João Madeira (Ricardo), onde se encontrava exposto. Não nos soube dizer o título da Revista e muito menos a data.

(2) - Assento de baptismo nº 33, de 2 de Maio de 1899, freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim. O padre que o ministrou, Augusto Octaviano Rafael Pinto, tinha ligações familiares à vila de Alcoutim.

(3)) - Acta da Sessão da C.M.A. de 31 de Outubro de 1878.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Recordações das férias grandes de há 40/45 anos [2]




Escreve

José Rodrigues





A CAMIONETA DAS 5


O acontecimento de cada dia, mesmo aos domingos e feriados, era “a camioneta das 5”, como vulgarmente era conhecida. A camioneta das 5, era o regresso da carreira diária, entre Vila Real de Santo António e Beja, cujos horários fixados nos Balurcos de Baixo eram: no sentido ascendente 10h e 30m, e no descendente às 17h e 30m. O seu percurso desenrolava-se, em toda a extensão, pela estrada nº 122, sendo que no Cruzamento, fazia o desvio pela 122-1 até Alcoutim, retornando ao ponto de início do desvio, para retomar o percurso na 122 (tanto na ida, como na volta). Era, na época, o único autocarro que fazia ligação à capital do país, com transbordo em Beja, e era por esta via que as pessoas da zona se deslocavam de, e para a Grande Lisboa, para onde o fluxo migratório tinha sido, e ainda era nessa altura, bastante significativo. Ir à camioneta permitia saber as novidades, conviver, e ver quem partia e quem chegava.

Nesse tempo existiam no Balurco de Baixo, no entroncamento da Estrada Nacional nº122 com a estrada municipal n º1057, que atravessa os Balurcos em toda a extensão, a venda e mercearia da ti Catrina Botelha ao lado da qual se situava a paragem da camioneta, e em frente, do outro lado da estrada municipal, a venda do ti Zé Cavaco. A ti Botelha detinha a agência da Rodoviária e o ti Cavaco o Posto Público de Telefone, tendo tido também, em tempos, a distribuição do correio. Por cima da porta da Ti Botelha havia um letreiro, ainda visível apesar da remoção do reboco em alto-relevo em que fora construído, onde se lia: JOSÉ DIONISIO GONÇALVES – Negociante de Solas e Cabedais, este anúncio devia-se ao facto do marido da Ti Botelha, sapateiro de profissão, ter tido, em tempos, negócio nessa área.

O pátio em frente da paragem da camioneta enchia-se de gente, onde era frequente sentir-se um aroma intenso a uma mistura entre o “tabú” e “madeiras do oriente”; havia quem viesse só pelo convívio, quem viesse esperar familiares ou amigos que chegavam, os que partiam e os que os vinham acompanhar. As bagagens eram maioritariamente compostas por cestos e canastas de cana com tampa do mesmo material ou cobertos com pano-cru cosido nas respectivas bocas, cestas de vime ou de empreita, uma ou outra mala de cartão castanha ou protegida por forra em tecido cinzento, sacos de viagem em napa, castanha ou preta, numa imitação pobre de pele e, imagine-se, até bicicletas “pasteleiras”, que normalmente eram usadas para complementar a viagem dos respectivos proprietários, até à camioneta ou desta até ao destino final ou, quem sabe, nas duas situações. Grandes rótulos, em forma rectangular, de madeira ou em cartão grosso, amarrados à bagagem, com corda de sisal, identificavam o titular, e o destino.

O destino dos que partiam situava-se, na maior parte dos casos, entre Vila Real e Faro, ou Lisboa para alguém que em vez de seguir de camioneta no dia seguinte, preferia apanhar o comboio-correio em Vila Real e viajar a noite inteira até Lisboa. Incluíam-se neste último caso os militares que, creio, já que tinham desconto nos caminhos-de-ferro. Quanto aos que chegavam, provinham de Lisboa, de Mértola onde muita gente que se deslocava para fazer compras, ou da Vila onde iam tratar dos mais variados assuntos relacionados com as repartições próprias da sede de um concelho.

Actual pátio da Ti Botelha. Foto JDR

No largo em frente da venda do ti Cavaco jogava-se às malhas. Equipas aguerridas que gritavam, quando “trucavam” ou “revidavam” e tiravam meças ao milímetro adivinhando-se, mesmo à distância, que os jogos eram bem disputados e renhidos.

Pelas 17,30, mais minuto menos minuto chegava finalmente a camioneta, agitavam-se os que partiam, e assomavam-se os curiosos na ânsia de ver quem chegava, havia até pausa no jogo das malhas para matar a curiosidade. Ao volante o experiente Palminha e como cobrador o Russo (penso que se chamava Vargas), que só não marcavam presença, no dia da sua folga semanal. O Russo, sempre com a malinha dos bilhetes e do dinheiro a tiracolo, geralmente mal-humorado e cheio de pressa, arreava a escada que dava acesso ao tejadilho da camioneta, (era lá que, nesse tempo, era transportada toda a bagagem) e com algumas ajudas descarregava os haveres dos que terminavam viagem, para a seguir içar os volumes dos que a iniciavam, (as malas, os sacos, os cestos, as canastas, as bicicletas, as caixas, etc.), posto isto, dirigia-se à venda onde inquiria a ti Botelha, a quem tratava por madrinha, se havia algum despacho. Concluído o serviço e já com os passageiros acomodados nos seus lugares, saltava ligeiro para dentro da camioneta, pela porta de trás e, batendo com o alicate fura-bilhetes na coluna metálica onde os viajantes se agarravam ao entrar, dava ordem de marcha ao condutor. Era assim porque, segundo diziam as más-línguas, cobrador e condutor não se falavam há anos, não havia comunicação verbal, só o alicate dava ordens de arranque, ou de paragem se fosse esse o caso. Conta quem viu que um belo dia, nas Quatro Estradas, o bom do Palminha confundiu o som do alicate com o som do encalhar do relógio, ou de outra peça metálica da bagagem de mão, de algum passageiro, e pôs-se em marcha com o Russo ainda em terra, só dando pela sua falta na paragem de Santa Marta, uns 5 quilómetros à frente. Não teve outro remédio senão dar a volta à camioneta e regressar ao Cruzamento para retomar o 2º elemento da tripulação. Poder-se-ia pensar que haveria discussão no reencontro mas as mesmas testemunhas afirmam que nem nessa circunstância houve qualquer troca de recados. Tal era a zanga!

Com a abalada da camioneta, rumo a Vila Real, começava também a debanda do pessoal, permanecendo aqueles que estavam entretidos nas malhas, ou os que ficavam com a barriga encostada ao balcão, numa ou noutra tasca onde, não raro, se assistia ao homicídio, involuntário embora, do belo cante alentejano. Era já o vinho a “falar mais alto”.

Íamos saindo, sem pressas, já com o “cheiro” no jantar, (ou na ceia, como o meu avô teimava em chamar-lhe), apesar de haver ainda “um pedaço de sol”.


Duas notas breves:

A carreira entre Vila Real e Beja ainda hoje existe mas não é todos os dias da semana e há muito que deixou de ser “a camioneta das 5”. Mesmo que haja quem ainda insista em chamá-la por esse nome, “a camioneta das 5”, marcou uma época e nunca mais poderá ser a mesma.

Quero solenemente afirmar, para que não fique qualquer dúvida, que os dois profissionais referidos no texto sempre me mereceram o maior respeito e, do que ficou escrito mais ou menos fantasiado, nunca se pôs em duvida a sua competência e profissionalismo. Digo-o com legitimidade de quem muitas vezes viajou, na camioneta das 5, até Vila Real, em trânsito para Faro onde estudava, e pude comprovar a proficiência do seu trabalho. 

domingo, 28 de abril de 2013

"Montes do Concelho - Giões", pequena análise

Monte de Farelos. Entrada. Foto JV.
Como temos vindo a fazer com os outros TEMAS iremos hoje abordar o de “Montes do Concelho – Giões".

Trata-se da freguesia mais pequena, em área, do concelho mas não o era a nível de população.

O movimento verificado até agora oferece-nos o seguinte resultado e isto, como temos vindo a referir, dentro de determinados parâmetros.

1º - Farelos, o “monte” mais importante da Freguesia de Giões – (2009.11.30) – 415

2º - Alcaria Alta foi o mais importante “monte” da freguesia de Giões – 2009.07.24) – 296

3º - O “monte” de Clarines (Alcoutim), de ontem e de hoje – (2011.06.16) – 274 (*)

4º - Velhas, pequeno “monte” da freguesia de Giões – (2009.12.08) – 181

5º - Marim, pequeno “monte” da freguesia de Giões – 2009.10.16) – 115

6º - Montes desaparecidos ou despovoados da freguesia de Giões – (2009.12.27) - 100

A diferença entre a procura do 1º e do 2º é considerável como se pode verificar. Não causa admiração pois o monte dos Farelos é o mais povoado e dinâmico da freguesia.

Incluímos no TEMA O monte de Clarines (Alcoutim), de ontem e de hoje ainda que tivesse sido publicado na rubrica Ecos da Imprensa cujo texto foi originalmente publicado na revista STILUS, da A.J.E.A. (Associação de Jornalistas e Escritores do Algarve), nº 4 / 5, de Janeiro / Dezembro de 2001.

sábado, 27 de abril de 2013

Mariola

Foto de Gaspar Santos

Mariola é a designação popular e corrente de marioula, um arbusto que se encontra nos outeiros secos do Alentejo e do Algarve.

Tem uma flor lilás e as folhas verdes, pontiagudas e providas de uma espécie de penugem, de cor mais clara.

Era muito usada em verde pelos alcoutenejos para desengordurar a louça principalmente as caçoilas quando se fazia a fritada pela “matação” do porco.

Além de económico era eficiente segundo nos relatam.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Cravos Murchos


Des. do alcoutenejo João Pedro Rodrigues.
Tem sido norma deste espaço apresentar meia dúzia de palavras sobre o 25 de ABRIL, neste dia.

Este ano, assim não foi e isso tem uma explicação.

O 25 de ABRIL está de LUTO!

Os cravos vermelhos estão a murchar! A planta que os suporta tem” jardineiros” incompetentes que em vez de adubar o terreno estão a colocar-lhe, “metodicamente”, herbicida cujas doses vão aumentando de dia para dia!

Falta destruir a liberdade de expressão mas por este andar chegaremos lá e quem a isso nos levar continuará a passear-se de cravo vermelho ao peito!

Há gente medíocre que fez da política a sua profissão. Uns nunca tiveram outra e outros deixaram a que tinham por falta de vocação ou procurando regalias que de outro modo nunca obteriam. Todos conhecemos exemplos destes de norte a sul do país.

Quem tem 39 anos nunca viveu em ditadura. Têm mais dificuldade em saborear os valores da DEMOCRACIA. A POLÍTICA não é para ALGUNS mas sim para todos os cidadãos que dela não se devem alhear.

Há muito que não se cantava tanto “Grândola, Vila Morena”. É a demonstração do PERIGO que corremos.

25 DE ABRIL SEMPRE.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Jarrinha [2]



 Esta peça de cerâmica com as mesmas características da anteriormente apresentada, decorada a corda seca parcial, igualmente islâmica e do mesmo período (séc. X – XI) foi também recolhida no Castelo Velho de Alcoutim.

Parece-nos que teria uma forma semelhante à anterior, a diferença estará na parte que foi recolhida.

Med. Alt. 7,7 cm (s/bordo), Diâm. 8,2 cm.

Encontra-se em exposição ao lado da primeiramente referida e tem o nº 45.

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Gradim, Alexandra, 2011, Cardoso, João, Catarino, Helena, Guia do Núcleo Museológico de Arqueologia, C.M. Alcoutim, p.27

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A minha escolinha - Ensino Primário






Escreve

António Afonso


Em Portugal, na última metade do século XIX a percentagem de analfabetos era aterradora, o que muito atormentava o espírito humanista do poeta e pedagogo João de Deus, por sinal, um algarvio, nascido em S. Bartolomeu de Messines.
Para inverter tal situação, ele criou um método simples de aprendizagem da Língua Portuguesa, o qual tomou o seu nome. Foi pai da Cartilha Maternal publicada em 1886,sendo instituída por decreto, no ano seguinte, tornando-se obrigatória nas escolas régias por alguns anos.

Com a implantação da Republica, na verdade, houve alguns avanços neste tipo de ensino, mas vieram entretanto anos muito turbulentos, que se reflectiram em todos os sectores, chegando mesmo ao encerramento de algumas Escolas do Magistério, onde se formavam os professores que futuramente iriam leccionar nas escolas. Como já foi frisado, no A L, as escolas públicas funcionavam somente na sede dos concelhos e freguesias, onde o Concelho de Alcoutim estava incluído naturalmente, tendo ficado as restantes povoações simplesmente excluídas.

Nos grandes montes surgiam alguns professores particulares que leccionavam, a quem lhes pudesse pagar, e eram muito poucos; no monte da Barrada o mestre-escola era o – Manuel Sapateira e um outro creio de nome Armando.
Escola Velha
Como seria possível a uma criança em idade escolar, habitando na periferia de qualquer uma das freguesias alcoutenejas, deslocar-se por caminhos pedregosos, poeirentos ou lamacentos, sob as intempéries próprias da serra, aventurar-se até à escola? Não existia abandono escolar, simplesmente porque não havia iniciação à escola.

Quando, nos dias de hoje, algumas mentes insanas, me dizem: - “Actualmente as crianças, até as vêm buscar a casa para irem à escola!” Eu simplesmente discordo! Pois ainda bem, é um direito que lhes assiste, oxalá que esta situação continue, mas, por este andar da carruagem, tenho as minhas dúvidas! Desculpem exprimir-me neste tom, mas eu já trilhei esse calvário a caminho da escola, por quatro anos consecutivos, sei do que falo!

A memória popular recitava uma quadra que encerrava uma grande verdade, à época, claro! Quem teve a grande desgraça / de não aprender a ler/ sabe só o que se passa no lugar onde estiver.

No início dos anos trinta, o Estado Novo resolveu alargar a rede escolar primária às zonas rurais, em todos os locais que reunissem trinta ou mais alunos; contudo surgiu um problema: O número de professores qualificados era insuficiente!

O governo ultrapassa airosamente tal obstáculo, criando a figura de Regente Escolar e os Postos Escolares, para ocupar os lugares então criados; a maioria dos docentes eram mulheres, ganhavam 300$00 mensais, mas apenas de Outubro a Junho.Devo dizer, que no início, aos candidatos eram exigidos apenas os seguintes requisitos:

Serem fiéis ao regime vigente, possuir idoneidade moral e intelectual. Quanto à exigência de habilitações académicas dos candidatos a regentes, era omissa, passando posteriormente a ser exigida uma prova de aptidão que constava de um reconhecimento de cultura geral, um ditado, uma redacção e resolução de seis problemas.

Para constituírem matrimónio, o futuro cônjuge tinha de apresentar credenciais credíveis e possuir posição social equivalente ou superior; o regente só poderia casar após completar determinada idade, segundo informações era vinte e três anos.

Quanto a mim penso e a maioria das pessoas o reconhece, todos estes profissionais prestaram um notável serviço às populações, sobretudo no mundo rural. Sem eles as crianças continuariam analfabetas; os mestres eram pessoas muito prestigiadas e acarinhadas, representavam uma autoridade moral e cívica, sendo dotados de conhecimentos e também de grande equilíbrio psicológico. Não sei como conseguiam impor a disciplina e leccionar numa sala com quatro diferentes classes!

Por mim, rendo-lhes a justa e merecida homenagem, continuarei eternamente grato pelos valores e tudo o que me transmitiram, pois serviram como pilares base na minha formação.

Logo no primeiro dia, a professora nos apresentava as primeiras letras a que chamava Alfa Beto, (coisas gregas!), que tínhamos de aprender a conhecer e desenhar; umas eram as maiorcas (ou coisa semelhante) por serem grandes, depois apareciam as minorcas, mais enfezadas, mas que tinham o mesmo valor.

 Depois, neste conjunto, havia as vogais e consoantes, que andavam de braço dado, formavam ditongos e sílabas originado palavras, frases e textos.

Agora, apareciam os números, de 1 a 10, chamados algarismos árabes. Descobri mais tarde, que eram assim chamados, não só por serem os árabes os seus inventores, mas porque na forma primitiva eram contados os seus ângulos internos; assim o 3 tem três ângulos, o 2 tem dois, o 8 tem oito e (O) por ser rechonchudo não possui ângulos internos, chamaram-lhe Zero, que pode valer muito ou pouco, depende da sua posição à direita de outro número ou à esquerda da vírgula.

Para complicar, ainda aparecia a numeração romana, que afinal não eram números, mas sim letras, conclusão: os Romanos não queriam nada com os Árabes.

Esta coisa de mandar os meninos e meninas para a escola, nem sempre foi bem aceite, os governos não viam nisso grande vantagem, jogo estratégico; pois um indivíduo esclarecido é mais difícil de convencer.
Alguns pais também não achavam muita graça, pois os meninos na escola não ajudavam nos campos e futuramente procuravam um emprego diferente, deixando o trabalho braçal campestre; quanto às meninas, nem pensar! Tal facto desviava-as da sua aprendizagem dos lavores femininos, de futuras donas de casa e aprendendo a ler e a escrever, desatavam a namorar e ler livros, alguns nada recomendados, era um desperdício de tempo!

Felizmente que esta questão foi bem resolvida, o DL nº 42 994 de 28 de Maio de 1960 tornou o ensino obrigatório até à quarta classe para ambos os sexos, obrigando os pais a mandar os petizes à escola, sob pena de pagarem multa, além de cumprirem o determinado.

A minha Escolinha situava-se no monte da Barrada, esta que está na foto, já velhi..nha com muitas rugas e algumas notórias cicatrizes; outrora era branca, todos os anos era caiada por dentro e por fora, havia gosto e sentido de boa higiene (com cal não há micróbio que escape); nos anos sessenta foi construída uma nova escola, naturalmente com mais condições, mas eu nunca a visitei, nada me dizia, faltava algo que nos aproximasse.

Deixo um apelo a quem de direito, não permitam que a minha escolinha acabe em ruínas! Seria uma tristeza para muita gente, para mim também, com certeza!

Na primária tive duas professoras, muito eficientes, a D. Maria Lúcia da Luz, mulher alta e morena, rígida e austera, muito exigente, mas boa profissional.

 A outra senhora, também era alta, de tez muito clara, de cabelo loiro e olhos azuis, era meiga, ternurenta, era exemplar, diria mesmo um anjo caído do céu. Menina Ivone Teixeira era a sua graça, sempre mantivemos uma boa relação de amizade, acabou até, por vir a ser madrinha da minha irmã mais nova.

Já com família constituída e com dois filhos foi leccionar para Faro. Nesta cidade continuou os estudos e chegou a licenciar-se na sua área.

Escola nova da Barrada, desactivada.
Esta minha professora já não está entre nós, mas recordá-la-ei sempre com muita saudade. Despertou-me o interesse para a leitura, gostava muito de Goa embora não conhecesse, ensinou-me o nome dos rios do então Estado da Índia, que ainda sei na ponta da língua, o que fez nascer em mim uma paixão. Sempre li artigos e revistas sobre este tema, mesmo no período após Invasão a que os goeses chamam de Libertação.

Conheci muitas pessoas ligadas a Goa, que lá nasceram, ou que por lá passaram. Em 2012 o meu sonho de conhecer Goa materializou-se. Visitei a Índia, e naturalmente o Estado de Goa, no dia do meu aniversário aterrava no aeroporto de Santa Cruz, vindo de Bombaim; senti-me feliz e realizado, atravessei o Mandovi e o Zuari, visitei monumentos de raiz portuguesa, onde as ruas ainda mantêm os nomes originais. O nosso guia, o Bento Manuel expressava-se em português; aqui e ali os mais velhos, chamavam-nos para conversar….Tantas vezes me lembrei de ti D. Ivone!

Prof. D. Ivone
Os goeses, não se definem como indianos, foram hábeis, souberam negociar com o governo central de Dheli, para que Goa se constituísse como estado autónomo, embora sendo o mais pequeno, mantendo todos os seus usos e costumes. Actualmente é um estado próspero com bom nível de vida.

Quanto aos territórios Damão e Diu, não foram absorvidos pelos estados vizinhos e dependem directamente do Governo Central. Quanto ao ensino do Português, apenas existe uma escola a leccionar. Dentro de poucos anos será extinto o nosso idioma naquelas paragens, pois não há vontade de ambos os países, Portugal /Índia, em manter viva essa chama do passado.

Em sinal de homenagem, dedico todo este texto à memória da minha estimada professora, Senhora D. Ivone.

terça-feira, 23 de abril de 2013

"Março"




Poeta

José Temudo






Em dez, primeiro,

em doze, o terceiro,

Março, do deus da guerra

o nome tomou.

O deus, o tempo o levou.

A guerra, porque é má, ficou!

domingo, 21 de abril de 2013

Rumo à Corte Velha


Fotografia com fraca qualidade e que representa uma “comitiva” em direcção ao monte de Corte Velha a convite dos irmãos Fernando e Dr. João Lopes Dias.

Segundo consta ,o móvel da deslocação era um ensopado de borrego.

A fotografia é de 1969 e os convivas são à base do funcionalismo público, incluindo a guarda-fiscal representada por quatro elementos, sendo outros tantos funcionários de finanças.

O local escolhido para a pose parece-nos ser o cais, junto ao muro, próximo da guarita.

Nessa altura já nos encontrávamos em Alcoutim e daí conhecermos todos os fotografados.

De pé, da esquerda para a direita, António Galrito e Alberto, guardas-fiscais, António Maria Corvo, 2º sargento da GNR reformado que presidiu à Câmara Municipal, o anfitrião Dr. João Lopes Dias (médico), Dr. Abrantes Pereira na altura Conservador do Registo Civil e Notário de Alcoutim, o outro anfitrião, Fernando Lopes Dias, delegado da propaganda médica e tenente Marguilho, comandante da Secção da Guarda-Fiscal de Alcoutim.

No primeiro plano e pela mesma ordem: João Baltazar Guerreiro, aferidor municipal de pesos e medidas e comerciante local, 2º sargento Folgado, da Guarda-Fiscal, Francisco Ribeiros, José Madeira Serafim, Duarte e José Francisco Cavaco, que nos cedeu a fotografia e todos funcionários de Finanças.

Dos treze, que saibamos, cinco já não estão entre nós.


sábado, 20 de abril de 2013

Tabernas em Alcoutim a meio do século XX





Escreve

Gaspar Santos



Havia várias tabernas ou vendas na Vila de Alcoutim. Lá se vendia para levar para casa ou se bebia ali mesmo vinho, cerveja ou aguardente e ainda outras bebidas alcoólicas. Também vendiam vinagre.

O aspecto típico duma destas casas era um balcão, atrás do qual havia umas estantes com os produtos expostos e na parte inferior dois barris, um de vinho tinto outro de vinho branco, e por vezes outro de aguardente de bagaço ou medronho, providos das respectivas torneiras. A cerveja era vendida em garrafas que vinham em conjunto acondicionadas em grades de madeira.

Os típicos barris de madeira cintados de aço, que vinham pelo Guadiana de barco, caíram em desuso quando o transporte passou, com os camiões, a ser feito porta a porta e todos aqueles produtos passaram a ser acondicionados em garrafões de vidro que eram mais leves de carregar e descarregar.

As tabernas tinham uma ou duas mesas, bancos corridos ou bancos individuais em pequeno número onde as pessoas se sentavam para permanecer mais um pouco ou então eram servidas de pé ao balcão. Outras tabernas tinham uma divisão mais discreta a que se dava o nome de escondidinho, onde eram acolhidos clientes mais diferenciados o que não significa que fossem menos borrachos do que os demais.

A higiene era reduzida, por não haver água corrente. Na maioria havia em cima do balcão um alguidar onde os copos eram passados por água. As melhores já tinham um pequeno depósito com torneira onde os copos eram lavados em água corrente.

As tabernas desempenhavam uma função social e de convívio, no tempo em que não havia cafés nem restaurantes. A outra alternativa, mais cara, era fazer uma refeição numa casa de hóspedes.

Complementavam e substituíam assim as casas de hóspedes na sua função de restaurante. Era nas tabernas que comiam o seu quase sempre pobre farnel, descansavam, trocavam novidades, as pessoas que vinham à vila abastecer-se, pagar os impostos, obter licenças e tratar de outras questões burocráticas, enterrar os seus mortos, consultar o médico ou vir à farmácia; ou onde os caçadores à tarde no seu regresso da caça comiam os restos do almoço e bebiam um copo.

Também era nas tabernas que faziam as suas refeições muitas pessoas de fora, de poucas posses, que então acorriam em grande número a Alcoutim consultar o Dr. João Francisco Dias – aquilo que costumo chamar de turismo de saúde, e que não tinham capacidade financeira para ir a uma casa de hóspedes.

As tabernas, como já dissemos, eram também centros de convívio. Conversava-se, jogava-se às cartas, às damas, ao dominó e…cantava-se à alentejana, o flamengo ou o fado. Mas os cantares não eram para divertir espectadores, era para divertir os próprios cantadores, sem preocupações de qualidade e muito menos culturais. Aliás cantavam quando as gargantas e a mente já estavam um bocado dormentes e o próprio cantar tinha até um certo ar"chocarreiro".

Nos Montes também havia tabernas ou vendas. O comerciante que aqui se estabelecia era muitas vezes um sapateiro ou um carpinteiro. Ele tinha disponibilidade para o atendimento, interrompendo por momentos o que estava a fazer no seu ofício, além de que o tempo também não era ainda um factor com a importância que os ingleses já lhe davam: time is money.

Quando se tratava de comércio um pouco maior, e justificava uma atenção mais constante por ter mais artigos em venda e vender mais já se tratava de uma mercearia, que tinha também o serviço de entrega da correspondência dos CTT e do telefone público, para além da venda de bebidas. Por vezes, quando o comerciante era mais dinâmico, não só vendia, também comprava para exportar produtos da terra: amêndoas, alfarroba, cereais, favas secas e figos.

Nos montes além das funções descritas para as da vila, as vendas tinham ainda um salão que muitas vezes servia para realizar animados bailes.

A venda por vezes estava identificada, embora para os moradores locais não fosse necessário. Lembro-me que nos Guerreiros do Rio na rua onde morava o meu avô havia uma taberna que tinha na fachada uma tábua que pomposamente dizia: JOSÉ GONÇALVES HABILITADO. Por vezes eu remoía á volta do “habilitado”. Hoje penso que se tratava de afirmar para todos os interessados que estava munido de todas as licenças, que não era uma venda clandestina.

As licenças de que me inteirei, nesse tempo eram: A licença de porta aberta, a licença da Junta Nacional dos Vinhos e a licença de venda de tabaco. Mas é natural que houvesse mais. Uma dessas licenças detalhava um a um todos os artigos que na venda se podiam adquirir. A licença da venda de vinhos era paga anualmente no Grémio da Lavoura, o seu escalão mínimo incidia sobre 1000 litros, nos seguintes termos: Autorizada a venda de 1000 litros de vinho e seus derivados. O fiscal da JNV podia lá aparecer, observava durante uns instantes as vendas que realizavam e alterar para 1500, 2000 ou mais litros.

Taberna da Ti Maria José Luísa
Em Alcoutim quem subisse desde o cais até às Portas de Mértola ia sucessivamente encontrando:
-Taberna da Ti Maria José Luísa/Ti Pimenta, onde é hoje a Caixa Agrícola. Era muito virada para os pescadores e gente do rio. Por encomenda ela até confeccionava muito bons guisados ou caldeiradas.
-Taberna da Ti Maria Balbina, logo a seguir, onde hoje está o mini mercado Soeiro, também muito virada para as fainas do rio, mas que eu conheci já em processo de proximidade de fechar as portas.
-Taberna Vicente Romana, no mesmo lado da mesma rua, a seguir ao edifício dos Paços do concelho. Quando fechou deu lugar ao talho do Joaquim do Rosário.

Taberna Joaquim do Rosário
-Taberna Joaquim do Rosário, na Praça da República onde hoje é a loja de electrodomésticos.
-Taberna Manuel Serafim, na Praça da República, onde hoje é o café da Lurdinhas/Caldeira.
- Taberna Ti Maria do Nascimento/Ti Pimenta, na Rua da Misericórdia, onde hoje é a casa de Ilda Afonso. Além da taberna exploravam também aqui um talho. Quando cessou de funcionar e se mudou para as escadinhas da Rua da “Aparada”, Manuel Serafim instalou neste local uma padaria que aqui laborou vários anos.

-Taberna do Leopoldo Martins, na Rua da Misericórdia em frente da Ti Maria do Nascimento, na casa da família Custódia Madeira.
Rua Portas de Mértola. Foto JV
- Taberna Felício, na Rua das Portas de Mértola, onde hoje é a mercearia de Rosa Inácio. Era então taberna, mercearia, drogaria e loja de ferragens. Tinha tudo o que não havia noutro lado, o que lhe mereceu o nome de Loja do José Silvestre, por analogia com outra desse nome que existia em Vila Real Santo António.
- Taberna da família Simões, mais tarde do Chico Canelas. Tinha duas portas providas de escadas para a rua. Na primeira era a mercearia e na outra os vinhos. Vendia também farinhas para fabrico de pão. Às vezes funcionava a cozinha para fazer um ou outro petisco por encomenda, sobretudo coelhos ou lebres.

- Fora desta rota, ao cimo da Rua D. Sancho II, numa casa de Isabel Teixeira, o mestre Carlos Sapateiro teve uma taberna, com pouca expressão, pois era só para ele e alguns amigos que aqui vinham conviver.

As vendas ou tabernas com as funções sociais que descrevemos, ainda existem, mas em menor número no concelho de Alcoutim, com um ou outro aspecto mais actualizado. Algumas evoluíram para cafés ou para restaurantes. No concelho de Cinfães que conhecemos bem, antigamente existia aquilo a que chamavam venda, tal como em Alcoutim, mas como quase toda a gente produzia vinho as vendas não o vendiam tanto…

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Perspectivas de futuro não passam pelo Pereiro


(Publicado no Correio da Manhã de 26 de Janeiro de 1994, texto de João dos Reis e fotos de Luís Forra)

Faro, da nossa Delegação

Se há terras do Algarve onde as crianças não nascem, os idosos estão mais velhos, onde não existe nada de nada, uma delas é a freguesia do Pereiro, uma povoação bem encravada no interior do concelho de Alcoutim, onde até para se urinar, é necessário recorrer à via pública, porque nem mictórios públicos existem.

O Pereiro é uma dessas muitas aldeias espalhadas por esta região onde o Algarve é diferente do outro Algarve, do litoral, onde, apesar de tudo, se tem de tudo um pouco. O que não acontece nesta nordestina aldeia por onde passaram os romanos e o Príncipe D. Carlos onde antes de ser rei, caçou.

A aldeia do Pereiro é sede de uma das cinco freguesias que constituem o concelho de Alcoutim, sendo seu presidente, João Custódio Marques da Palma, que já vai no seu terceiro mandato à frente dos destinos da Junta de Freguesia.

Para este autarca, o nordeste é uma zona que os algarvios desprezam porque não há nada, excepto a solidão de se ver todos os dias apenas o sol, o vento ou a chuva a fustigar os campos xistosos desta freguesia de onde os jovens desde há muito abalaram para nunca mais regressarem.

Situada a cerca de 15 quilómetros da vila de Alcoutim, no caminho para Martim Longo, o Pereiro é uma freguesia onde, como refere João Custódio Marques da Palma, ainda se calçam as bestas como no antigamente e os pequenos povoados que lhe pertencem têm todos água, luz eléctrica e caminhos alcatroados.

“Isto tem-se desenvolvido mais ou menos. Não temos postos de trabalho, que é coisa que não há nem se prevê a curto ou médio prazo. Indústrias também não existem. Não vejo nada assim que possa incentivar as pessoas a ficarem, a desenvolverem a própria terra onde nasceram”, disse-nos.

No Pereiro todos os caminhos estão alcatroados. O saneamento básico funciona bem. A freguesia não possui nenhuma equipa de futebol apesar de ter campo construído para o efeito.
“Não temos pessoal para jogar. Apenas temos dois rapazes com 18 anos e um deles é meu filho. Temos um clube com estatutos e tudo, mas falta o essencial, “os jovens”, adianta o Presidente da Junta de Freguesia do Pereiro.

João Marques da Palma tem em vista a construção de um pequeno parque de campismo, mas a sua construção depende, como nos afirmou, da “In Loco”, através do seu programa Leader. Mesmo junto ao Pereiro existe uma reserva de caça, que o Presidente da Junta severamente criticou pelas promessas que então os seus responsáveis fizeram, que seria a construção de um hotel e diversas outras infra-estruturas turísticas que muito beneficiariam a freguesia.

“Gostaria que a reserva de caça funcionasse como deveria ser. O Pereiro seria muito melhor, haveria muito mais empregos, a vida seria outra neste nordeste”, afirmou.

Nesta reserva de caça, de 3774 hectares, existem muitas lebres, coelhos, javalis e perdizes. Os velhos alfarrábios dão-nos conta que o Pereiro, em tempos bem distantes, foi uma grande zona de caça, tanto mais que nesta freguesia, por onde os romanos andaram, foram encontrados vestígios arqueológicos, entre os quais alguns denários, dos mais antigos do séc. III a. C., datando do fim da 1ª Guerra Púnica.
Nestes achados foi também encontrado um pequeno busto, que o historiador e arqueólogo, Leite de Vasconcelos, afirmou tratar-se , talvez, de Diana, a deusa da caça. O príncipe D. Carlos, mais tarde rei, veio aqui muitas vezes caçar às suas “achadas” (planuras), de vez em quando aparecendo por esta zona do nordeste em digressões venatórias.

O presidente da Junta de Freguesia do Pereiro teceu, por diversas vezes, sérias críticas à actuação dos responsáveis pela referida reserva de caça, que em sua própria opinião não teriam pago as rendas de alguns terrenos que a constituem.

Construção
da barragem
beneficiará
a freguesia

Junto a Pereiro está actualmente a ser construída uma barragem com o mesmo nome, que muito irá beneficiar a freguesia e os povoados vizinhos. Trata-se de uma barragem que tem como finalidade o principal reforço do abastecimento de água às populações de Pereiro, Balurcos, Tacões, Vicentes do Pereiro, Fontes do Zambujo, Coito, Cerro da Vinha e Alcaria Cova, num total de 628 habitantes.

A sua bacia de recepção pertence à bacia hidrográfica da Fonte do Barranco. Bacia integrada na baía  hidrográfica do rio Guadiana e a sua linha de água principal terá uma extensão de 1,5 quilómetros.

“ O pessoal que está a trabalhar na sua construção é que tem dado um pouco de vida ao Pereiro”, acentuou o presidente da Junta.

Para João Custódio Marques da Palma, que é proprietário no Pereiro do “Café Central” e que possui ainda um táxi , o único na aldeia, esta zona do nordeste algarvio é rica  em pedra que se encontra desaproveitada.

“Temos aqui em todo o concelho de Alcoutim pedra de boa qualidade, mas se precisarmos de pedra para qualquer construção, vamos comprá-la a Loulé, o que eu critico e condeno. Toda a pedra que se gasta em Alcoutim tem que vir de Loulé, porquê? Acho isto um absurdo quando temos tanta pedra e da melhor”, afirmou.

Em sua opinião, não há quem invista neste tipo de indústria e pedra não falta por toda esta zona.

João Custódio Marques da Palma é de opinião que muita coisa, apesar de tudo, está a mudar na sua freguesia.

“Isto tem-se desenvolvido bastante para o meio que é”, finalizou.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Recordações das férias grandes de há 40 / 45 anos [1]


Pequena nota
O nosso recente colaborador inicia hoje a sua colaboração, passe a redundância, em prosa com um texto de grande realismo que mostra aos jovens de hoje como era a vida na altura e este ainda teve o privilégio de poder estudar o que estava vedado à grande maioria dos jovens alcoutenejos.
J V

 



Escreve

José Rodrigues



ALGUNS DIAS DE TRABALHO NO CAMPO

Em Balurcos, naqueles dias estivais do final dos anos 60, inícios dos anos 70, do século passado, nada se passava de novo na passagem lenta do tempo, como se esse tempo nunca mais tivesse fim.

Os meus avós “impunham-me” o adágio popular, que diz: “deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer”,

Costa
O deitar era-lhes sempre difícil controlar, mas o toque de alvorada era dado por volta das 6,00 da manhã, quando o meu avô batia com o cajado no postigo da porta da casa (separada da deles) onde eu dormia. Não havia hipótese de safa. O pequeno almoço, constituído alternadamente, por uma torrada besuntada com toucinho cozido, sobra do jantar do dia anterior, ou uma costa, ou até um caldo de farinha torrada, vezes havia em que marchava apenas o café e pão com “dentes”. A primeira refeição seria no entanto rematada com os melhores figos, doces, frescos, colhidos directamente da figueira ou por umas amêndoas esquecidas da safra anterior, torradas pelo sol, em cima da árvore (as do chão faliam ou rançavam e por isso não eram comestíveis).

Depois do “café” tínhamos pouco tempo para albardar a burra e zarpar ao destino onde, desejavelmente, devíamos chegar ao mesmo tempo do clarear do dia, para a apanha das amêndoas ou das alfarrobas, cujo produto da venda, num tempo em que ambas ainda valiam “alguma coisa” acrescentava rendimento, para ajudar (mal) a subsistência da família. Para garantir o sustento dos animais, nomeadamente da burra e do porco, apanhávamos também os figos, que poderiam ser consumidos em “verde” ou em “passas”, depois de aturado processo de secagem no almeixal. Os dias de brandura aproveitavam-se para apanhar e transportar para a eira os tremoços, fundamentais, depois de adoçados, para misturar na travia do porco. Os tremoços eram, geralmente, tão saborosos que até nós os comíamos, salpicados de sal grosso.

Para garantir acumulação de energia potencial calorífica, necessária à lareira no Inverno e ao aquecimento do forno do pão todo o ano, acarretava-se com a burra, aparelhada de cangalhas, a lenha de esteva que fora arrancada, junta em fascinas, e embarbada, no Inverno anterior. Aos poucos e poucos, íamos ampliando o manturo, para regozijo da minha avó.

Caldeirão
Outra actividade obrigatória era a rega da cerca, cuja água era retirada do poço, conforme se podia, com um caldeirão suspenso por uma corda na qual se davam, a espaços, alguns nós por forma a não escorregar pelas mãos, mesmo assim, frequentemente, apareciam as desgraçadas “burrefas” que ao rebentar causavam algum padecimento. Muitas vezes eu fazia uma “tácita sociedade” com o meu avô, resultante da verificação insofismável dos seguintes factos; ele ainda com força nos braços e as pernas já a fraquejar, eu já com o vigor nas pernas, que ainda me faltava nos braços. Usávamos então a seguinte táctica: ele sentava-se no gargalo do poço e tirava a água com o caldeirão, a pulso, com uma facilidade que me impressionava, e depois despejava-a numa lata (balde cilíndrico) de chapa de zinco, que levava dois caldeirões e que eu transportava, num ápice, vertendo o seu conteúdo nas covas das plantas (batatas, feijão, couves, etc.) e nas leiras (cebolas, alhos, coentros, etc.), ou até nas árvores que careciam de rega (limoeiros, laranjeiras, etc.). Era uma parceria perfeita, ele descansava enquanto eu transportava e ao invés folgava eu, enquanto ele atestava a lata.

Pela razão manifestada na parágrafo anterior, o lugar “a cavalo” na burra, era sempre do meu avô, quer na ida, quer na volta entre a carga, sendo o limite de volume e peso dessa mesma carga, fixado de acordo com a necessidade de ele ter que ir e vir sempre montado. O trabalho durava, normalmente, até 10,30 / 11,00, hora a partir da qual era praticamente impossível trabalhar no campo, por via do calor, vindo directamente do sol a pique, ou daquele que era irradiado do solo, que entretanto tinha aquecido. Já tá uma calma dum cabrão, afirmava o meu avô, e eu corroborava imediatamente, por motivos fáceis de adivinhar. Mas o melhor e mais incomodativo sinal de que a jornada se esgotava tinha a ver, sobretudo, com o canto estridente e repetitivo da cigarra, que é das coisas mais irritantes que se podem ouvir no campo, por aquelas paragens. O mal-estar agravava-se com o leite das figueiras pegado aos braços ou com os piolhos das amêndoas  a percorrer as nossas costas, causando tal comichão, que o coçar pouco amenizava, mesmo recorrendo à ajuda do tronco de alguma amendoeira ou azinheira, uma solução a que a burra também acedia frequentemente, quiçá com melhores resultados do que nós. Outro problema residia na água potável de enfuzinha que, ou se esgotava cedo ou, não se esgotando, ficava quente que nem um caldo de açorda. Levando também em conta que a pouca água que se podia encontrar nos barrancos, por essa altura do ano, já estava imprópria para consumo, imaginem o sofrimento!
Burra albardada
A primeira sensação de alívio do dia experimentava-se quando arreávamos a carga no monte, fazendo depois recolher a burra à arramada , a segunda quando, com a ajuda de uma falha de sabão azul e brando e de uma cápsula de champô com “sabor” a maçã , todos os produtos agarrados ao exterior do corpo, acumulados pela transpiração, pelo pó, pelos já aludidos leite da figueira e piolhos das amêndoas ou, certamente, por tudo isso à mesma vez!

Matava-se igualmente a sede com a água sempre fresca do poço, devido à profundidade do seu nível. Ficava novo e fresco que nem uma alface e de caminho para casa carregava ainda dois cântaros de água, de 25 litros cada, destinado a beber, cozinhar e lavar, parcimoniosamente, a pouca louça que se sujava (a água canalizada chegaria muitos anos depois).

"Mujo"
Prontos para o almoço, que a minha avó preparava e onde normalmente não havia grandes surpresas. Um gaspacho acompanhado de uma sardinhita assada ou frita não era mau, mas um feijão careto de azeite e vinagre, com um ovinho cozido também não estava mal, umas postas de peixe mujo com uma saladinha de alface, também entravam, como entravam igualmente, uma sopas de bacalhau, ou de presas com alhos areios. Digamos que eu não era esquisito, comia bem e cumpria o ditado, que diz: barriga de moço, não tem osso. A dieta podia não ser modelo de equilíbrio, mas não se passava fome e, se necessário, recorria-se ao suplemento do pão com azeitonas, que nunca faltavam, e que tão bem sabiam, às vezes!

Cumprido o dia de trabalho, tinha o resto do dia livre de tarefas laborais, a não ser que surgisse algum imprevisto. Sabia então bem dormir uma folga, cuja duração era inversamente proporcional à duração das horas de sono da noite anterior.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Crónicas e Ficções Soltas - Alcoutim - Recordações, XLVIII



Escreve

Daniel Teixeira



















AS ESCOLAS EM ALCARIA ALTA

Este nosso jornal tem a sorte de ter entre os seus colaboradores uma Professora Primária, Lina Vedes, já aposentada, que tem contado uma parte, pelo menos, daquilo que foram os dramas e as primeiras experiências dos professores formados aqui no Magistério de Faro, anos 50 e poucos.

Nessa altura eu estava longe de saber que um dia viria a frequentar uma Escola mas quando anos depois chegou a minha vez, as coisas não me pareceram ser muito semelhantes àquelas que a Lina Vedes relata e isto porque já tinham passado alguns anos, as coisas vão evoluindo (nem sempre bem) e no meu tempo o professor primário embora se imaginasse que não vivia na abundância tinha já um estatuto económico e financeiro mais elaborado, para ser simpático, ao mesmo tempo que as escolas que frequentei tinham também já algumas condições diferentes para bastante melhor do que aquelas que foram as Escolas no campo e as primeiras escolas dos primeiros professores.

Mas em Alcaria Alta, já com os meus 10 anos, pelo menos, acabei por encontrar coisas bem semelhantes àquilo que a Lina Vedes descreve embora com intervenientes diferentes. Na altura funcionava por essa serra o sistema das «Regentes Escolares» e salvo erro só em Alcoutim havia professores com a formação própria. A minha mãe, por exemplo, com mais uns quantos anos que eu como é claro foi fazer o exame da 4ª classe a Alcoutim e ainda no meu tempo nem todas as Escolas de Faro tinham essa faculdade, de fornecer o Diploma do final do Ensino Básico (4ª Classe).

Em minha casa ainda ficaram alguns moços e  moças filhos(as) de amigas da minha mãe ou do meu pai, que viviam na cidade e vinham fazer o exame da 4ª ao Bom João, onde havia uma Escola, na altura na Rua Ataíde de Oliveira. O ficar lá em casa era apenas por uma noite, e isto para evitar um acordar muito cedo nas suas casas e a deslocação até ao local do Exame, que era visto também com alguma solenidade e preocupação pelos intervenientes (pais e filhos).

Pois bem e entrando em Alcaria Alta, antes da chamada Escola Nova (agora fechada) estar construída as aulas eram dadas numa divisão emprestada para o efeito por um dos Lavradores lá do Monte. Num dos anos em que lá estava ou a minha Escola começou mais tarde ou a deles começou mais cedo e tive então oportunidade de ver os alunos da Serra em aulas. Para mim e embora a vida me tenha preparado para muita coisa, só o fez mais tarde, e achei muito estranho que as cadeiras fossem também emprestadas pelo Lavrador e que os alunos escrevessem e tivessem o livro em cima do seu colo.

Edifício escolar há muito desactivado. Foto JV
 Alguns dos miúdos e miúdas traziam as cadeiras de casa, aqueles que eram do Monte, mas havia pessoal de vários Montes das redondezas, uns que traziam a sua cadeira logo no primeiro dia com os pais e lá a deixavam ficar e outros que precisavam mesmo de uma cadeira emprestada.

A Professora (Regente) comia e dormia em casa dos Lavradores e segundo me pareceu só ia ao seu Monte ao fim de Semana, que na altura era só o Domingo, embora fizesse para acabar as aulas mais cedo no Sábado a fim de se poder meter a caminho, a pé. Boleias em carro de mula naquela altura, e dependendo dos Montes, eram por vezes mais complicadas do que ir a pé: a volta que se tinha que dar para seguir caminho mais largo que desse para carro de mula podia duplicar ou triplicar o percurso.

Havia um sistema que poderia ser mal visto, por pessoas de fora, e que em pequena parte tinha a sua razão abstracta de ser, que eram as ofertas à professora: ovos, azeite, mel, coisas deste género. Não faltava a má língua também por causa disso e por causa da Escola ser numa casa particular, mas pelo que me apercebi havia sempre um ar de gozo na conversa, do género: «Pois, deste mais uma dúzia de ovos à professora, já tens a moça passada (de classe)» ou «fulano e beltrano não chumbam nenhum ano pois os pais são os donos da escola», o que era seguramente embaraçante.

Ao que me parece havia de facto quem não passasse mas também por aquilo que fui reflectindo depois, era também uma forma da própria regente não sofrer avaliação negativa mandando para exame quem iria provavelmente chumbar oficialmente. Por outro lado o ensino não me parecia ter grande qualidade, nem era possível, naquelas condições: tenho uma prima velhota que foi colega da minha mãe e que escrevia lá para a nossa casa a dar notícias mas só a minha mãe conseguia lê-la e calculo que os moços da minha idade teriam também esse problema se não se aperfeiçoassem depois porque escrever em cima dos joelhos não fomenta uma boa caligrafia.

O que mudou? Quase nada neste aspecto, se descontarmos os desnivelamentos entre o antes e o agora: uma parte substancial da formação que é hoje dada se não for complementada no dia a dia acaba por perecer tal como aquela que era dada literalmente «em cima dos joelhos».

terça-feira, 16 de abril de 2013

Um fuzilamento e outros assassinatos



No nosso trabalho, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), 1985, escrevemos o que sabíamos sobre o período político conturbado que se passou no século XIX entre absolutistas e liberais.

Aproveitando o que então escrevemos e com investigação posterior, publicámos neste espaço três textos sobre a mesma temática, o primeiro em 18 de Janeiro de 2011 com o título “Liberais e absolutistas em Alcoutim”, o segundo em 30 de Março de 2012. “Guerrilhas – Lenda e tradição oral” e por último, em 24 de Julho do mesmo ano, “A guerrilha do Remechido no concelho de Alcoutim.

Utilizámos a bibliografia que conseguimos encontrar além da consulta feita em documentação local, principalmente, nos livros de actas da Câmara Municipal.

Há dias, em pesquisa on line e sem termos esse intuito, fomos encontrar documentação e factos que se incluem e alargam o conhecimento sobre o assunto.

Na aldeia de Martim Longo, região muito afectada neste período de lutas internas, encontrámos que pelas cinco da tarde do dia 15 de Novembro de 1838 foi fuzilado nesta aldeia José Thomaz, solteiro, o qual tendo sido soldado de Caçadores 5, desertou depois para os Guerrilhas.

Martim Longo. Antiga Rua Direita, actual Dr. Antero Cabral.
Foto JV
Nesta qualidade e com armas na mão, foi aqui apanhado por uma força de Cavalaria comandada pelo Major Manuel Maria Cabral do referido Caçadores nº 5 e pelo mesmo foi mandado fuzilar.


Certifica o Pároco Encomendado, José Pedro Rodrigues Teixeira, que lavrou o assento de óbito, que o dito José Thomaz é o mesmo que nesta aldeia esteve destacado.

Meses depois, em 5 de Maio de 1839, encontrámos outro assento de óbito, desta vez de José da Costa, casado com Ana Joaquina, natural de Vila Nova de Gaia, morto em fogo num encontro com os Guerrilhas no dia 4.

Era soldado do Regimento de Cavalaria nº 5.

Cerca de dois anos depois, vamos encontrar o assento de três óbitos ocorridos no mesmo dia e no mesmo lugar, situado entre Corte Serranos, freguesia de Martim Longo e Vale de Odre, freguesia de Cachopo.
Um aspecto de Corte Serranos. Foto JV
Estão datados de 27 de Setembro de 1841 e dizem respeito a Francisco Gomes Delgado de Martim Longo, casado com Maria Isabel das Dores, Manuel Afonso Guerreiro, casado com Maria Dionísia de Martim Longo e José Joaquim de Ataíde, casado com Benedita dos Mártires, igualmente de Martim Longo.

Quanto ao primeiro, o Pároco José Pedro Rodrigues Teixeira diz que não recebeu os últimos sacramentos porque morreu às mãos dos seus inimigos que barbaramente lhe tiraram a vida, as razões para o segundo são semelhantes, porque morre às mãos dos seus inimigos que desumanamente o mataram, sendo para o terceiro escrito como justificação, porque foi tiranamente morto por seus inimigos.

Dá-nos a impressão que são vítimas de emboscada e ainda que o pároco não o refira concretamente, parece-nos estar na presença de um assassinato político, em consequência ainda daquelas lutas partidárias de concepções opostas.

É mais um pequeno texto para a história dos guerrilhas no concelho de Alcoutim.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Junta de Província do Algarve - Centenários


 Boletim da Junta de Província no formato de 24,5 X 30,5 cm que refere as Comemorações Centenárias no Algarve.

A síntese histórica da Província é assinada pelo algarvio Mário Lyster Franco e ilustrada pelo brasão de todos os concelhos que constituem o distrito.

Na Exposição de Arte Sacra e em Utensílios de Altar, estiveram presentes: (13) - Cálix – de prata dourada, mandado vir por D. Francisco Gomes. P. à freguesia de Martinlongo, (22) – Custódia-cálix da freguesia de Martim-Longo. No género das precedentes mas mais ornada, (25) – Custódia-cálix da freguesia de Giões. Tamanho médio. Campainhas pendentes do ostensório.”  Como Utensílios de Culto o concelho de Alcoutim fez-se representar: (14) – Cruz paroquial de Giões, de prata lavrada. Antiga. (15) – Cruz paroquial de Martim-Longo. De prata lavrada. Antiga. (20) – Palio branco - da igreja de Martim-Longo. Uma colcha da Índia a que se aplicaram sanefas, formando assim o palio. Quanto a Vestes Sagradas a representação fez-se por (8) Paramento para missa cantada – tecido persa com fundo branco. Muito antigo. Composto de casula, dalmáticas, pluvial, estolas e manípulos, bolsa de corporais. Pertence à igreja de Giões. (9) Véu de ombros – de lhama branca, com aplicações de lhama de outras cores e bordados a ouro, feitos à cerca de um século (1840) na própria freguesia de Giões, a que pertence (11) – Casula de brocado de prata sobre fundo de um formoso rosáceo. Pertence à freguesia de Martim-Longo. Por último e relativo a Roupas de Altar – (17) – Frontal branco. Tecido oriental. Pertence à freguesia de Giões.

Admira-nos de não haver nada em exposição das três restantes freguesias, Vaqueiros, Pereiro e Alcoutim, principalmente desta última.

O texto que se apresenta é assinado pelo P. José António Pinheiro e Rosa..

No artigo “Os Arquivos Municipais do Algarve e a Restauração”, assinado por Alberto Iria, transcrevemos o seguinte parágrafo: - De Alcoutim, onde as campanhas da Restauração mais duramente se fizeram sentir no Algarve, sobretudo na de 1642, pelo constante duelo de artilharia com o castelo fronteiriço de S. Lucar do Guadiana, sabemos que, de 1833 – 1834 “ as guerrilhas das lutas liberais inutilizaram, pelo incêndio, todos os arquivos existentes na sede deste concelho.

Na conclusão 10 o autor refere: A luta no Algarve gira em torno das praças fronteiriças de Alcoutim e Castro Marim sobretudo na campanha de 1642.

Em O Algarve sob o ponto de vista pecuário, o autor, Eduardo Gomes Calado, refere em Alcoutim a existência da sub-raça bovina Mertolenga e os ovinos merinos, principalmente, bordaleiros.

Luís Chaves em “As Estradas Arcaicas do Algarve” indica vestígios romanos em Martim-Longo, Cortes Pereiras e Alcoutim.

Nas “Notas sobre as Amendoeiras”, o autor refere... algumas plantações junto de Alcoutim, de produção bastante precária.

Dos objectos de Arte Sacra expostos só conhecemos a Cruz Paroquial de Giões, uma linda peça de prata lavrada, o que teve lugar haverá 30 anos.

A execução gráfica foi da responsabilidade de Bertrand (Irmãos), Lisboa, 1942.

Resta-nos dizer que o livro foi-nos transmitido, entre outros, por nosso pai. Mandámo-lo encadernar, tem lombada e cantos de carneira e é um trabalho artesanal.