quinta-feira, 27 de junho de 2013

Vocábulos da minha terra





Versalhada
de
José Rodrigues



O Balurco de Baixo visto da Casa Branca. Foto JV

 
 
Eu gosto da minha Terra,
E dos vocábulos q´ela usa.
Ovelha que come, não berra,
Cântara de barro é enfuza.

Ramo grande é pernada,
Rebento novo é galhoto,
Terreno no monte, raciada,
Pássaro pequeno é ploto.

Coelho piqueno é caçapo,
Hortelã bravo é mantrasto,
Ganducho faz manta de trapo,
Arbusto pequeno é carrasco.

Aldrabice é cambalacho,
Sexo do homem é chula,
Cavalo com burra “dá” macho,
Burro com égua “dá” mula.

Onde há caca é cagadoiro,
Ovelha “faz” caganitas,
Bosta é trampa de Toiro,
O burro expele bonicas.

Acarta-se lenha em cangalhas,
E esterco nas gorpelhas,
As redes carregam palhas,
Encerram também as ovelhas.

Tigela grande é Pelengana,
Tacho de barro é caçoila,
Moça estouvada é magana,
Cueca d´homem ceroila.

Ordenha-se a cabra mocha,
Rouba-se o leite ao chibinho,
Amêndoa falida, tá xoxa,
Monte piqueno é Montinho

A perdiz faz recocão,
O coelho caçapeira,
Cotovia nino no chão,
A merrola na romaneira.

A cabra é bicho de mato,
Tem chibo de criação,
Chibo grande é chibato,
Ou simplesmente cabrão.

Lebre nova é laboracha,
Lebre macho é lebrão,
Lenha d´azinho não racha,
Figueira não ”dá” carvão.

Penêra passa a farinha,
Limpa-se o grão na joêra,
A grama é erva daninha,
Um tufo é uma rabolêra.

É na feira que se merca,
Leva-se a mrenda no talego
Rega-se do poço na cerca,
Adoça-se tramoço no pêgo.

O moiral guarda gado,
Lavra a terra o ganhão,
Com charrua e com arado,
Semeia-se seara de pão.

Ovo de negaça é endés,
Chama-se boleta à bolota,
Uma vaca é uma rés,
Raiz de esteva, arregota.

Filha de rés é bezerra,
Camisa também é blusa.
Eu gosto da minha Terra,

E dos vocábulos q´ela usa.