domingo, 30 de junho de 2013

Até sempre ALCOUTIM LIVRE!



 Escreve

Amílcar Felício


Anunciou o Amigo Nunes no seu post de 19 de Junho a suspensão por tempo indeterminado ou até possivelmente o fim do Alcoutim Livre,  ao fim de 5 anos de existência de uma invejável actividade quase diária o que é obra. Mas tenhamos esperança de que se trate apenas de umas retemperadoras férias e de que o Amigo Nunes não irá ter coragem de“matar” o filho que criou com tanto carinho!

Ao longo destes últimos 5 anos, o Alcoutim Livre tem sido a maior parte das vezes o veículo de um exaustivo e talentoso trabalho de décadas como investigador e historiador da “nossa terra”, a que o Amigo Nunes deitou mãos praticamente desde que chegou a Alcoutim em 1967 – e que tão pouco acarinhado tem sido pelos alcoutenejos parece-me – dando-nos a conhecer quer no seu Blogue quer mais profundamente na sua obra escrita, páginas da história de um Alcoutim desconhecido para a maioria de todos nós alcoutenejos! Trata-se realmente de um trabalho extraordinário e único de que todos os alcoutenejos se deveriam orgulhar independentemente da sua cor clubística!

Por outro lado, o conjunto de colaboradores que a ele se foi juntando e a que tive a honra de pertencer, com as crónicas das suas vivências foram revelando a alma de uma Vila e dos seus Montes nos seus tempos áureos das décadas de 30/40/50/60, com relatos de acontecimentos da vida alcouteneja por si vividos ou presenciados que vão desde a chegada provavelmente do primeiro Automóvel, Rádio e Cinema à Vila ou o início da Guerra Civil Espanhola em Sanlucar nos anos trinta até aos grandes êxodos, dos finais da década de cinquenta princípios da década de sessenta. Eram tempos difíceis -- mas que tinham uma auréola muito especial -- para uma comunidade fechada sobre si mesma e quase exclusivamente debruçada sobre o Guadiana e que para sobreviver ia inventando no seu dia-a-dia a sua própria vida, cultura e meios de diversão, constituindo uma sociedade muito sui generis cujo traço dominante era sem qualquer dúvida a imaginação e a solidariedade, formando como que uma verdadeira tribo que olhava com desconfiança para quem chegava de novo ao burgo.

Outros colaboradores, embora sem participação activa na escrita, não deixaram contudo de contribuir também com um importante espólio, fornecendo fotos que vão desde 1873 – uma delas provavelmente da formação da 1ª Banda de Música de Alcoutim – até aos tempos mais recentes da década de sessenta, o que permitirá no conjunto das três participações diversificadas a qualquer desconhecido que se interesse por Alcoutim, ter para lá de uma visão histórica do desenvolvimento da Vila, uma imagem quase cinematográfica do dinamismo de uma Vila e do seu Concelho ao longo de todo o séc. XX e que vai definhando dolorosamente a olhos vistos.

No que me toca pessoalmente, não tenho qualquer dúvida em afirmar: a mim, o AL deu-me incomparavelmente muito mais do que eu lhe ofereci e na hora de despedida já sinto saudades! De facto ao ler os seus textos ou ao escrever as minhas crónicas desde os finais da década de 40, o AL proporcionou-me enquanto o lia ou enquanto “pintava” o Alcoutim que me rodeava, reviver uma infância e uma juventude felizes e enterradas há muito nas brumas da nossa memória e esquecer por momentos as misérias de um Portugal à beira do afundanço completo! É nestas alturas que eu gostaria de ser poeta para poder retribuir-lhe com palavras simples e bonitas, aquilo que me ia na alma ao longo destes anos que fui lendo ou escrevendo as vivências de uma infância e de uma juventude já distantes. Mas nem tudo são azares. Felizmente tropecei num soneto que acaba por traduzir aquilo que o AL me ia fazendo sentir pessoalmente ao longo destes anos e recordar aquele menino, que conheceu um Alcoutim Dourado e que transportaremos toda a vida dentro de nós num cantinho muito especial. Quem me dera que os belos versos deste poema fossem meus para lhos poder dedicar! Ainda vai havendo coisas bonitas na vida, neste mundo cada vez mais feio como dizia a Tia Ana Costa do mundo de antigamente...

Recordo ainda...

Recordo ainda, e nada mais me importa...
aqueles dias de uma luz tão mansa
que me deixavam, sempre de lembrança,
algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança,
soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... mas ai,
embora idade e senso eu aparente,
não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino, acreditai...
que envelheceu um dia, de repente!

(Mário Quintana, poeta brasileiro. Morreu
em 1994 aos 88 anos) 


Obrigado Amigo Nunes por nos dar a conhecer melhor a nossa terra!

Obrigado Alcoutim Livre por tão belas recordações que nos proporcionou ao longo destes 5 anos!