terça-feira, 25 de junho de 2013

As minhas memórias mais próximas (XLIX)




Escreve

Daniel Teixeira



JORNAL RAIZ ON LINE

COLUNA UM
  
COMEÇAR DE NOVO OU MUDAR DE VIDA

Fiquei um pouco surpreso quando li no Blogue Alcoutim Livre, dirigido pelo amigo José Varzeano, que este ia, pelo menos, suspender a actividade do Blogue, por todo um conjunto de razões que aponta. O meu conhecimento directo com o José Varzeano é praticamente nulo, e digo praticamente porque na verdade acaba por haver sempre um conhecimento directo através do conhecimento indirecto que a Internet faculta.

Entre as razões apontadas, para além das familiares que eu conheço tão bem, há sempre aquela razão que como se costuma dizer «faz transbordar o vaso». Embora não acredite muito que uma só razão seja a gota de água, ou que essa razão possa funcionar como tal (é preciso não esquecer que para o vaso transbordar é preciso que esteja cheio) pareceu-me entender que havia da parte deste amigo alguma frustração pela quebra estatística de leituras no Blogue.

Bem... gostaria de contar algumas partes da minha história que se enquadram dentro deste discurso: no meu primeiro tempo de Internet havia um site no Brasil, dirigido pelo Soares Feitosa, que era uma verdadeira enciclopédia de poesia e de poetas. Havia ainda um outro Blogue que se dedicava exclusivamente a divulgar poetisas que praticamente tinha tudo sobre a poesia feminina ou feita pelo sexo feminino, havia...havia...havia, todo um conjunto de sites, em plena pujança, que na altura, em páginas minhas que ainda vão mexendo, eu colocava como referências.

De tempos a tempos faço uma volta por esses sites (que durante estes anos todos juntaram milhões de visitas - 1.874.890 neste site, por exemplo) isto apesar de eu não lhes mexer (já nem sei os códigos de acesso e nem me tenho preocupado muito com isso) e verifico que daqueles links que eu forneci na altura, há talvez 10 anos, muito poucos estão «vivos».

Por outro lado, em pesquisas sobre coisas antigas, sou confrontado muitas vezes com sites informaticamente activos, mas sem actividade há cinco anos, quatro, etc. O post de despedida encima muitos deles, com explicações que normalmente se relacionam com o tempo de vida de cada site ou blogue, ou seja, entende-se que os sites e os blogues, pelo menos na forma expressa, têm um tempo de vida e que todas as coisas têm um fim.

Verdade, um dia também nós seremos confrontados com essa ideia. As coisas cansam, e mesmo quando não cansam os leitores cansam quem as faz. A sensação que se adquire ao ver que as coisas não correm bem (menos leitores, menos visitas, menos comentários, etc.) são de facto frustrantes para quem dá o corpo todo e a alma a um projecto que não vê correspondido. Mas não vê correspondido como (?): segundo as nossa expectativas, é claro. Das expectativas dos outros (aqueles que nos lêem, comentam ou colaboram) ninguém sabe ou sabe muito pouco.

Eles estão para lá do ecrã, podem muito bem dar-nos incentivos que funcionam do género do quase sempre inócuo «gosto» no Facebook, outros vão mais longe e colaboram mesmo de forma mais activa, mas também podemos perguntar-nos quando chegará (se chegar) a altura dessas pessoas mais próximas serem confrontadas com a tal ideia que referimos acima, ou seja, que todas as coisas têm um fim?

Não é propriamente um mundo complexo o mundo da internet nem o mundo da nossa actividade na internet: a efemeridade pode ser mais pronunciada ou menos pronunciada mas ela existe e faz parte do jogo. Como em tudo, aliás...o belo tempo em que não havia machado que cortasse a raiz ao nosso pensamento em muitos casos já foi, já foi mesmo e não volta aos sítios donde partiu.

Por isso somos forçados, pelas circunstâncias, a ser ainda mais efémeros que a efemeridade. No nosso caso contamos as semanas, semana a semana e esta foi mais uma.