quarta-feira, 12 de junho de 2013

"Alcoutim, um concelho com futuro"

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 10 DE ABRIL DE 1986, Brisas do Guadiana)

Vista ribeirinha de Alcoutim nos dias de hoje. Foto JV
 Jornada de informação

A magia do Guadiana, no seu calmo serpentear pelas terras de Alcoutim, foi uma das constantes da visita de trabalho dos representantes da imprensa regionalista algarvia à bonita vila sobranceira ao rio.

Os visitantes saíram da estrada nacional nas imediações do Azinhal, por aí começando o seu contacto com o elevado número de pequenas povoações que, no seu todo, constituem parte apreciável do concelho alcoutinense. Após percorrerem algumas dezenas de quilómetros da terra serrana do interior, detiveram-se no lugar de Vale da Rosa, onde apreciaram a curiosidade que é a central de energia solar instalada naquela zona nordestina, dois jogos de acumuladores fornecendo, quando trabalham em condições normais, o que no momento não acontecia, luz eléctrica às diversas residências e energia suficiente para fazer funcionar o telefone, a televisão e uma arca congeladora. Aí foi-lhes explicado o meio de actuação e as vantagens do sistema quando puder generalizar-se, em especial nas terras com idênticas características.

Na aldeia de Vaqueiros apreciou-se o aglomerado urbano e na de Martinlongo houve oportunidade de visitar a igreja, não há muito restaurada.

Na tarde e após o almoço, os jornalistas reuniram-se nos Paços do Concelho, com o Presidente da Câmara Municipal, sr. Manuel Cavaco Afonso, o vice-presidente, sr. Manuel Carvalho e o “alcalde”da fronteira vila espanhola de Sanlucar del Guadiana, sr. Manuel Peres Nogueras. O sr. Cavaco Afonso deu as boas vindas aos visitantes, agradeceu a presença e aludiu ao interesse especial desde sempre notado na Imprensa regionalista pelo seu concelho., talvez resultante da constatação de se tratar de uma zona desprotegida. Disse não ter sido por acaso que se entrara na área de Alcoutim pelo lado do Azinhal, mas para serem apreciados motivos que, anos antes, estavam na origem do trasporte de doentes em padiola, de umas terras para outras, na procura de cuidados clínicos e por falta de vias de ligação, enquanto o vizinho turismo ia evoluindo e o ruído dos automóveis não conseguia chegar ao interior do concelhio. Apontou as vantagens da abertura da fronteira de Alcoutim com Sanlucar e referiu a ajuda dos jornais para que as crianças tivessem escola, sem dificuldade de percorrer grandes distâncias para aprender as primeiras letras, e também para se saber que, se de imediato não lhe acudissem nas carências mais urgentes, a região não tardaria a tornar-se desértica.

O sr. Cavaco Afonso disse ainda estar nos propósitos da edilidade a ampliação das instalações camarárias, para o que já foi adquirido um prédio contíguo, e pensar-se na construção de uma pousada de 40 quartos, num monte ao lado da vila, com excelente perspectiva. Concluiu afirmando ser preciso criar condições para que as zonas pobres se tornassem menos pobres e pedindo palavras de crítica, mas bem intencionada, para os problemas poderem ser resolvidos.

A estrada marginal, factor positivo
 para o desenvolvimento da região

Em nome da AIRA – Associação da Imprensa Regionalista Algarvia, o Reverendo Carlos Patrício referiu a vantagem dos jornalistas conhecerem os problemas para poderem ajudar a resolvê-los e fez votos pelo progresso de Alcoutim, que considerou zona rica e vital ao progresso e valorização do Algarve.

Após percorrerem alguns pontos, de interesse, foi facultado aos visitantes um passeio a Sanlucar, a pequena, branca e florida vila do outro lado do rio.

Aí, e nas “Casas Consistoriales”, apresentou cumprimentos o sr. Manuel Nogueras, considerando Sanlucar uma terra sem pretensões, sendo a maior destas, à semelhança de Alcoutim, a reabertura da fronteira comum. Nesse sentido, informou, estava a ser comprado o terreno para a implantação da Alfândega. Para facilitar os acessos, começara em Sanlucar o alargamento de uma via de ligação a S. Juan del Puerto. A reabertura não visava negócio, mas amizade, pois há muitas famílias com parentes num lado e noutro que para se encontrarem, têm de ir a Ayamonte.

Pela AIRA, o dr. Joaquim Magalhães lembrou serem muito antigas as relações entre Alcoutim e Sanlucar e apelou para que se construíssem mais pontes, traços de união entre os dois países ibéricos que haviam revelado o mundo ao mundo.


De novo em Alcoutim, o regresso dos jornalistas às terras de origem fez-se pelos novos troços da estrada marginal do Guadiana (Laranjeiras e Guerreiros do Rio) que se antevê como importante factor de progresso não só para aquele concelho como para o de Castro Marim, pelo encurtamento de distâncias e na extraordinária beleza dos seus recantos e paisagens.

NB - A rubrica Brisas do Guadiana era nesta altura assinada pelo grande jornalista José Manuel Pereira.