terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O Entrudo que eu recordo




Escreve

Maria Dias



Entrudo era o termo usado na serra, Carnaval era mais nas cidades. Lembro-me que em Vila Real de Santo António e Tavira onde passei alguns Carnavais, o termo mascarinha abrangia no geral os mascarados. Mas também se designava de caraça ou mascarinha um disfarce que ocultava apenas o rosto, deixando obviamente abertura para os olhos, narinas e boca.

No monte os mascarados ou, mascarinhas chamavam-se “farranchões”. Os “farranchões” eram divertidos e faziam imensas “travessuras”. O meu pai gostava de se mascarar e ir de porta em porta mostrar-se. A minha mãe irritava-se muito com as “palhaçadas.”. Ele adorava vestir-se com a roupa da irmã que não vivia lá e portanto podia ser mais difícil de reconhecer. Divertia-se mesmo muito com isso! Lembro-me de nos rirmos à gargalhada quando ele saía de casa com um lenço na cabeça, atado com um nó debaixo do queixo e que lhe dava enormes semelhanças com a sua mãe (minha avó ). Em todas as casas se faziam filhoses e galo guisado com batatas pelo Entrudo, e os homens bebiam muito vinho, o que quase sempre proporcionava alguns excessos. Os rapazes compravam umas bichaninhas, qualquer coisa que continha pólvora? E que possuía um rastilho onde pegando fogo aquilo começava a correr e a girar! Os rapazes largavam isso próximo dos pés das raparigas, para as verem fugir e gritar desalmadamente, o que os divertia imenso!

Na 4ª feira de cinzas havia um enterro! Era um boneco grande de palha de centeio que ia em ombros, acompanhado de grande algazarra, até à sepultura!

A partir desse dia, dava-se início aos “contratos.” (a esses, a minha mãe, achava graça e divertia-se bastante.). Esses contratos, que nunca cheguei a saber bem se teriam outro significado, senão o lúdico, consistiam em apostar amêndoas da Páscoa (uma ou duas, não um pacote! (isso era muito luxo!) e essa aposta terminava no sábado de Aleluia, quando um dos contratantes avistasse o outro e gritasse: Rebenta! Ou Arrebenta! Lembro-me da excitação que se vivia nesse sábado de Aleluia! Havia quem não dormisse mais que umas poucas horas, para de manhãzinha muito cedo, se ir esconder próximo da porta do outro, para ganhar uma ou duas amêndoas (confeitos) como lá se chamavam. Estes contratos eram efectuados geralmente por jovens e adultos ou crianças mas já com 10/12 anos. Nessa época, o monte tinha uma população razoável e na manhã desse sábado até muitas vezes ao meio dia, ouvia-se pelas esquinas: Rebenta! Sim, porque havia quem trocasse de casa para dormir, a fim de poder andar escondido à coca do outro!