quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Janeiro e as Janeiras!



Escreve

  Maria Dias
http://viseumais.com/viseu/?p=7489

 À tardinha, lusco-fusco regressavam os” moirais” com os seus enormes rebanhos a perder de vista!

Metiam-nos nas grandes cercas, com a ajuda dos seus cães rafeiros e ao som de um linguajar que só eles, os cães e os rebanhos entendiam, lá se amalhavam as ovelhas.

Regressavam a casa e acompanhados dos rafeiros chegavam-se à lareira e comiam os jantares de grão ou feijão com couves e a bela carne de porco da matança de alguns dias atrás, (os rafeiros contentavam-se com algumas sobras e uns bocados de pão de farelo que as donas preparavam de semana a semana para eles).

Mas o serão de 5 de Janeiro tinha na minha meninice um encanto especial!

Esses ditos pastores e outros vizinhos, mulheres também, reuniam-se em grupos e de porta em porta, alumiados pelo lampião a petróleo, quando não calhava haver um belo luar de janeiro, iam cantar as janeiras! Cantigas, que surgiam espontâneas, fruto das tradições e da inspiração de cada um mas ,com vozes timbradas, aquecidas previamente com um copinho de medronho ou de aguardente de figo antes de saírem de casa.

Lembro-me pouco das letras, mas há uma frase que achava graça e quase sempre anunciava a chegada dos janeireiros: depois de baterem à porta, e sabendo que nessa família havia um luto recente, perguntavam: quer que cante ou quer que reze? Consoante a resposta assim procediam, mas nos restantes casos as cantigas eram divertidas e quase sempre começavam: Estou aqui vizinha Maria, com o cu na pedra fria.....abra a porta ou o postigo.... Eu e os meus irmãos entrávamos numa excitação misto de medo e de alegria ao ouvirmos o “rasmalhar” das botas dos janeireiros e dos gatos em corrida à frente dos cães. Eram eles, os janeireiros que se aproximavam da nossa porta. Ouvíamo-los e depois sim é que íamos dormir. Tinha encanto a nossa meninice!