segunda-feira, 30 de julho de 2012

Balança decimal


Este tipo de balança que foi muito usado em todo o país, incluindo naturalmente Alcoutim, era próprio de comerciantes-armazenistas devido aos volumes com que lidavam.

O exemplar que a fotografia apresenta é mesmo de Alcoutim.

Tinha, naturalmente, menor mobilidade do que a romana que já apresentámos, mas era mais precisa.

Para a sua utilização necessitava-se de um conjunto de pesos que deviam estar aferidos.

Aqui a alavanca tem braços desiguais, mas é fixa em relação dos seus comprimentos. O braço que sustenta o prato é dez vezes maior do que o que sustenta o estrado onde se coloca o objecto a pesar.

Enquanto na balança vulgar de dois pratos para equilibrar o fiel da balança tínhamos de ir colocando pesos, aqui também acontecia, mas com uma grande diferença vantajosa, já que um quilograma no prato representava 10 kg no outro prato (estrado). É por isso mesmo que é designada por balança decimal.

domingo, 29 de julho de 2012

Revolução de Setembro de 1836


A Rainha D. Maria II
Após a instituição do liberalismo, as lutas internas não acabaram. A Carta e a Constituição dividem os liberais.

A 9 de Setembro de 1836 deflagrou uma revolução com o fim de abolir a Carta Constitucional e fazer proclamar a Constituição de 1820.

Desembarcaram no Terreiro do Paço os deputados oposicionistas ao Governo e vindos vindos do Norte. Recebidos por apaniguados, manifestam-se mais de 6 mil pessoas com foguetório e bandas. Pouco depois batalhões da Guarda Nacional aderem ao movimento, acontecendo o mesmo às tropas destinadas a defender o Governo. É assim imposta à rainha a Constituição de 1820, formando-se um Governo chefiado pelo 4º Conde de Linhares que acaba por durar menos de dois meses.

Conde de Linhares
Passos Manuel sobraçava a pasta do Reino e Sá da Bandeira era responsável pelas da Fazenda e dos Estrangeiros.

Bastaram cinco dias para que se realizasse uma Sessão Extraordinária na Câmara de Alcoutim, com o objectivo de fazer a aclamação da Constituição do Ano de 1820 com a presença da municipalidade, juntamente com o clero, nobreza e povo e o Governador Militar (interino). Na sessão ordinária do dia 22, lavrou-se o auto de juramento. Então como agora, houve quem tivesse aclamado a Carta e depois a Constituição!

Significa isto que Alcoutim, nesta altura em que os meios de comunicação eram muito deficientes, estava mais próximo do Terreiro do Paço do que está hoje!

sábado, 28 de julho de 2012

Dos privilégios reais aos actuais - Pereiro, freguesia das achadas nordestinas

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 22 DE AGOSTO DE 1985)



Mercês Reais

A – Era couto para pessoas endividadas, às quais bastava assinar termo na Câmara de Alcoutim a que chamavam assentar praça de burlão e não podiam ser citados nem demandados por dívida anterior. (1)

B – Os varões do Pereiro estavam isentos de recrutamento, mas no caso de guerra deviam defender os pontos vitais do Guadiana. (2)

C – Beneficiou da primeira estrada construída no concelho (Alcoutim-Pereiro) que se julga ter obedecido à necessidade do príncipe real, D. Carlos vir caçar às achadas das redondezas. (3)

Autarcas pós-25 de Abril, possibilitaram:

A – Fornecimento de energia eléctrica a quase toda a freguesia – restavam três ou quatro pequenos “montes”

B – Abastecimento de água, drenagem e tratamento de águas residuais domésticas na aldeia e abertura de onze poços artesianos nas povoações.

C – Criação do Centro de Convívio que, juntamente com a Junta de Freguesia e a Casa do Povo, passaram a estar instalados em edifício próprio.

A aldeia do Pereiro é sede de uma das cinco freguesias que constituem o actual concelho de Alcoutim.

Romanos passaram por esta zona, como provam vários achados: onze denários, o mais antigo do século III A.C., data do fim da 1ª Guerra Púnica e um pequeno busto que, segundo Leite de Vasconcelos, representa talvez Diana, a Deusa da caça. A peça é atribuída, com reservas, ao século III e figura no Museu Nacional de Arqueologia. Apareceram também mais duas moedas. (4)

Num mapa de 1663 existente em Londres, em que se encontra representado o Reino do Algarve, não aparece referida a aldeia, o que não acontece em relação a Giões e Martim Longo.

Silva Lopes diz que embora esta região, fosse escassamente povoada, a sua organização paroquial estava definida na primeira metade do século XVIII. (1)

Contudo, Frei João de S. José (1577), define-a como ua aldeã de trinta vizinhos… (5). Em 1842 possuía 208 fogos e em 1890, 1008 habitantes, números referentes à freguesia.

A freguesia situa-se numa achada –c campos limpos, abertos com cultura cerealífera quase intensiva e curtos pousios – sistema que era orientado para o mercado do trigo e criação de gado, sobretudo nas herdades. (6)

Igreja Matriz em dia de nevoeiro. Foto JV

De onde em onde, entre o xisto foliáceo (talisca), aparece a esteva ou xara, além do pereiro bravo que deve ter dado origem ao nome da aldeia.

Nada de arvoredo, os solos são delgados. Um ou outro raquítico eucalipto que ladeia a estrada e nos barrancos o enxerto de um zambujeiro em oliveira, confirmam, como excepção que são, a regra.

Pinho Leal, no Portugal Antigo e Moderno, pág. 686 do VI volume, obra obrigatoriamente consultada para quem desejo conhecer algo do passado, diz que a povoação está na encosta da serra algarvia, entre duas ribeiras, a do Vascão, que lhe fica ao Norte, e a da Foupana, ao Sul.

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, pág. 231 do fascículo 243, situa-a a cerca de 3 km desta ribeira.

Foi um curato da apresentação do bispo. (2) O cura tinha 360 alqueires de trigo e 70 de cevada. (7)

É zona de pouca água e a que existe é só de poços (7), ultimamente captada por intermédio de furos profundos.

Em 13 de Agosto de 1876 foi concedida a verba de quarenta mil réis, pela Câmara Municipal à Junta de Paróquia, para a abertura de um novo poço.

Além do trigo e gado miúdo, as suas principais riquezas, agora em declínio, fazem aqui muitos bons queijos.

A criação de ovinos e o cultivo do linho deram origem ao artesanato têxtil que abastecia a população local e os excedentes alimentavam as trocas comerciais na feira local e nas redondezas. Sorianos, frisas , estamenhas, cobertores grosseiros e colchas, saíam dos toscos teares manuais, um ou outro existente na freguesia, mas pensamos que todos parados. Ainda assistimos ao funcionamento de um, no monte dos Tacões, em 1974.

À feira e romaria ao seu orago, São Marcos (25 de Abril), concorriam

Feira de S. Marcos. Negociando em gado. Foto JV, 2012

 Gentes não só da província mas também do Alentejo e Espanha. Podemos dizer que, dentro do seu tipo, é actualmente a feira mais concorrida do concelho, lá se vendendo de tudo, desde o gado às mobílias, passando pela roupa, calçado, olaria, plásticos, etc. Existem meios de comunicação que facilitam a deslocação e poucos ficam em casa. Já lá vai o tempo em que ia tudo a pé. Pois nem estradas existiam.

Ainda hoje é dia de comprar o porquito para engorda.

Quem não vai ao são Marcos!

A situação geográfica, no centro do concelho tem contribuído para importância que a feira usufrui, mas nunca é demais pôr em destaque a acção dos pereirenses que aqui se deslocam, nesse dia, alguns vindos de bem longe.

Em 15 de Abril de 1873 a Câmara Municipal, em sua reunião, deliberou que o tesoureiro fosse à feira de São Marcos fazer a cobrança da contribuição directa.

Os marcados mensais também se mostram concorridos.

A igreja matriz, único templo da freguesia, já era considerada no “Portugal Antigo e Moderno”, como pequena, velha e pobre.

Situada num mais elevado em relação à aldeia, tem perto o cemitério. No adro, um cruzeiro também sem qualquer valor artístico e perto, vestígios da residência paroquial.

Fachada de bico, torre sineira de quatro olhais e uma só nave. Esteve bastante arruinada em 1976, tendo recentemente recebido grande reparação.

Na primeira metade do século XIX a aldeia era rodeada por herdades limpas e bem cultivadas por raçoeiros que a habitavam.

Entre estas estariam as pertencentes à Casa do Infantado, de que na altura era donatário o Barão de Beduído, e que eram: Posto Fuzil, que veio a ser adquirida por Manuel Afonso e Domingos Martins, a Ruy Martins, mais tarde de D. Raimunda Pinto, e a da Galega, que veio a pertencer a José Nobre.

Em 1799 a Confraria do santo Nome de Jesus era a mais pobre do concelho, onde pontificava, a grande distância, a de Nª Sª da Conceição, na vila. Acusava o diminuto saldo de 40 réis.

Um aspecto da aldeia. Foto JV, 2009

A campanha trigueira da década de 30, fixou novos povoadores nas achadas cerealíferas, com reflexos no crescimento da população. Com a desvalorização do cereal e a pouca produtividade deu-se a emigração e o consequente abandono da terra pelas populações.

No aspecto cinegético, as lebres foram em tempos não muito distantes, abundantes. Foi e é terra de bons caçadores, sendo outrora alguns semiprofissionais.

Em 1879 pagava a Câmara de renda por uma casa, para servir de escola, trezentos réis. O edifício actual, de duas salas, é do “Plano dos Centenários”.

Também existem escolas em Tacões e nas Soudes, esta desactivada.

Moagem, ferreiro, albardeiro, estabelecimentos comerciais mistos e um café, semi-restaurante, dão alguma vida à aldeia, onde se fazia sentir o dinheiro proveniente da emigração.

As povoações de Alcaria Cova, Serro da Vinha, Coito, Tesouro, Vicentes, Fonte Zambujo, Matos, Portela, Silveira, Soudes e Tacões, constituem os núcleos populacionais da freguesia.

Alguns dos topónimos tiveram origem na flora, outros em situações geográficas ou topográficas e outros são obscuros.

Alcaria, do árabe, significa a aldeia. O topónimo Coito parece-nos estar relacionado com o privilégio real já referido.

Vários cidadãos da freguesia desempenharem funções administrativas a nível concelhio e alguns presidiram ao município.

Uma palavra de saudade para o lavrador João Gomes Alves, em casa de quem, provei, sem gostar e que hoje muito aprecio, “azeitona de sal”.

Já lá vão quase vinte anos!


NOTAS

(1) Corografia do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841.
(2) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(3) “Caminhos e Estradas são Suprema Aspiração da Gente de Vaqueiros”, Luís Cunha, Jornal do Algarve de 10 de Fevereiro de 1973.
(4) Arqueologia Romana no Algarve, Maria Luísa Estácio da Veiga Afonso Santos, 1971.
(5) Corografia do Algarve (…)
(6) O Algarve Oriental, Carminda Cavaco, 1976.
(7) Portugal Antigo e Moderno., A. S. B. Pinho Leal, 1873
(8) Livro mod 1-A, de Registo de Rendas … pertencentes à Fazenda Nacional, iniciado em 13 de Março de 1867, Arquivo da Repartição de Finanças de Alcoutim.
(9) Livro de Contas da Real Confraria de Nª Sª da Conceição, iniciado em 1785, pág. 15, Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Alcoutim.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Augusto Gregório Lourenço


Foi sepultado no dia 26 de Junho último no cemitério da Vila de Alcoutim este seu filho nascido a 21 de Setembro de 1932.

Era conhecido, como todos os irmãos, por Balbino, visto sua mãe se chamar Maria Balbina.

De uma prole de oito filhos, cinco rapazes e três raparigas, dizem-nos que era o mais novo dos rapazes, constando-nos ser ainda viva uma irmã. Só conhecemos além deste, Manuel e Francisco. O Francisco descreveu-nos em pormenor toda a vida do pescador do Guadiana, dados de que ainda hoje nos servimos para os nossos escritos.

Augusto Balbino, que era casado e deixou filhos e netos, fez a maior parte da sua vida em Vila Real de Santo António onde foi funcionário dos CTT e onde vivia.

Aqui deixamos a notícia para conhecimento dos seus amigos que visitam o ALCOUTIM LIVRE e que se encontram espalhados por todo o país e mesmo no estrangeiro, nomeadamente na Europa.

As nossas condolências.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Matos, freguesia do Pereiro, o monte ressuscitado!



Tenho procurado conhecer todos os montes do concelho de Alcoutim, mesmo os mais inóspitos. Primeiro foram os mais próximos da vila, principalmente aqueles que tinham via de acesso. O primeiro que visitei foi o da Corte das Donas, seguiram-se Cortes Pereiras e Afonso Vicente. Numa segunda fase, Marmeleiro, Corte da Seda, Balurco de Baixo e os montes do Rio, o que fiz por estrada e que representava mais de duas dezenas de quilómetros.

Não é esta estória que pretendo abordar, mas sim, o ultimamente badalado “monte” dos Matos, freguesia do Pereiro.

Confesso que nunca lá tinha ido, pois além de estar completamente desabitado, o acesso não era convidativo e por me informarem que tinha sido um monte muito pequeno.

Não foi por isso que o deixei de incluir no meu trabalho, A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim), do passado e do presente, 2007, numa edição exclusiva da Junta de Freguesia do Pereiro que não contou com qualquer subsídio, ainda que solicitado.

Pode orgulhar-se a Junta de Freguesia do Pereiro de ser a única do concelho e das únicas da Serra do Caldeirão, que possui uma “monografia”, ainda que modesta.

Agora que tudo indica que o Governo a irá extinguir, ficará para memória dos vindouros este trabalho que lembrará aos descendentes daqueles que nela nasceram, como foi a freguesia dos seus antepassados.

Transcrevemos o que escrevemos a páginas 246 e 247.

H – MATOS

Topónimo que não necessita de explicação, tal a sua evidência.

Podemos alcançar este monte que se encontra desabitado mas que em 1992 nos dizem ainda ter tido dois habitantes, por um caminho que parte de (...)

Em 1775/76 exercia a função de fabriqueiro (tesoureiro) da Igreja, Miguel da Palma, aqui residente e sabemos que em 1884 constavam do recenseamento escolar, três crianças do sexo masculino residentes neste monte.

Em 1946, por proposta do presidente da Junta de Freguesia, Diogo Xavier da Palma, é aprovado o arranjo do poço, onde trabalharam, além de outros, os residentes Manuel António e Manuel João.

Além disso, indiquei três cidadãos daqui naturais que foram mobilizados para a Guerra Colonial.

Hoje sei que a pequena povoação já é referida nas Memórias Paroquiais de 1758.

Atendendo às notícias vindas a público na imprensa regional em vários jornais e mesmo em diários a nível nacional e aproveitando uma visita ao concelho, percorri cerca de 50 km, propositadamente, para o ir finalmente visitar. Segundo as indicações, parecia estar em desenvolvimento.

Fui no meu veículo, paguei a gasolina e não recebi ajudas de custo.

Procurei o monte que lhe dá acesso, pois sabia que era a partir de lá que se poderia alcançar. Ainda hesitei meter por ali o automóvel que não é nenhum jipe. Lá fui passando, temendo sempre que algum dos moradores viesse em sentido contrário, pois se assim acontecesse, iria haver complicação para nos cruzarmos. Felizmente isso não aconteceu.

Depois de umas centenas de metros percorridos e após uma leve subida, lá o descortinei ao fundo

É referido o regresso dos filhos à terra depois de muitos anos de abandono, para passar os últimos dias de vida na terra que os viu nascer.

São apontadas duas famílias que têm o desejo de voltar. Vê-se na situação o repovoamento e na electrificação a grande ajuda e para a qual está previsto um investimento de 43.000 euros.

Confesso que não consegui ver vivalma. Nem os tradicionais cães apareceram dando sinal de um intruso.

Vi na realidade um prédio restaurado, a água da fachada fronteira, ao gosto antigo, a da retaguarda numa situação mais moderna.


Lá está o poço apetrechado de bomba manual elevatória que presumo funcionar, ainda que não lhe tivéssemos tocado. Era dele que a população se abastecia e penso que o mesmo sucederá hoje.

Não acredito no repovoamento deste monte nem de qualquer outro, o que vai acontecer é que a desertificação irá acelerar, aqui e em todo o interior do país, mas principalmente aqui como as últimas estatísticas demonstram.

Um fenómeno semelhante está a acontecer, mas por razões diferentes, nos centros históricos e que eram o pulsar da vida, das velhas cidades. Era ali que vivia grande parte da população e onde se concentrava o comércio. Na periferia das cidades não havia nada.


O traçado medieval destas zonas não facilita a circulação automóvel e os locais de estacionamento são poucos e estão sempre ocupados. As velhas construções, muitas delas ainda com muita madeira, não têm condições de habitabilidade e algumas com o abandono e o rodar do tempo estão em ruína e as derrocadas surgem. Por esses locais não mora ninguém e o comércio existente começa a fechar as portas por falta de clientes.

As populações fixaram-se na periferia das cidades e levaram atrás de si o comércio.

Deverão ser cerca de seis os montes completamente desabitados no concelho de Alcoutim, depois uns tantos com menos de seis habitantes e a grande maioria terá menos de uma dúzia. Por mais que se queira fazer crer, não há varinha mágica que mude esta situação. As próprias sedes de freguesia estão definhando e raramente alguém regressa definitivamente ao seu local de origem, após a reforma e até aqueles que podiam aqui exercer a sua actividade profissional, nomeadamente na vila, não o procuram fazer e estão no seu pleno direito.

NÃO HÁ DUAS VERDADES.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os mangas de alpaca



O nosso colaborador e amigo, Amílcar Felício, chamou-lhes os engravatados e nós vamos chamar-lhes mangas-de-alpaca.

São sensivelmente os mesmo que aparecem na foto que apresentámos num texto de Amílcar Felício e que pertencia ao espólio de seu pai, grupo de que também fazia parte.

A foto parece-nos ter sido tirada junto ao edifício recentemente destruído e onde funcionaram durante muitos anos os serviços de Finanças (Secção e Tesouraria) e mais tarde, igualmente, o posto da G N R. Nesse local veio a ser feito um pequeno muro protector destruído quando foram feitos os edifícios de grande volumetria, que ocuparam a periferia da Praça da República.

O grupo era composto por funcionários que ali exerciam funções, o nosso colaborador Gaspar Santos já identificou um ou outro e estão todos de gravata, pois era obrigatório o seu uso no exercício de funções. Ninguém podia ir trabalhar sem esse adereço e muito menos em mangas de camisa.

Mangas-de-alpaca era a designação dada ao funcionalismo público de caneta por usar meia manga de um tecido leve, primitivamente alpaca, para resguardar as mangas do casaco.

A fotografia deve ser da década de 40 do século passado e vivíamos no regime do “Estado Novo”. Os fatinhos tinham de ser poupados ao máximo e o uso dos “manguitos”, também chamados assim, evitavam que se puíssem mais facilmente as mangas dos casacos.

A economia era palavra de ordem!

terça-feira, 24 de julho de 2012

A guerrilha do Remechido no concelho de Alcoutim

Já fizemos algumas referências documentais à guerrilha que se instalou na serra e isto devido à necessidade de o fazer, motivado pelos assuntos abordados e especificamente quanto à lenda e à tradição oral que foi passando de geração em geração com as inevitáveis deturpações.

Agora iremos dar testemunho do que conseguimos encontrar, nomeadamente nos arquivos locais.

Referimos o incêndio da Câmara, principalmente a perda dos títulos que obrigavam ao pagamento dos foros, a venda da palha armazenada pelos rebeldes, entre outras coisas.

Ainda em 25 de Março de 1863 (quarenta anos depois!) foi expedido para o Governador Civil do distrito um inventário, mas só com os nomes dos foreiros, já que os títulos e escrituras, segundo constava, levaram descaminho pelos acontecimentos de 1833. (1) Reparar que não se é claro no assunto e se limite apenas a referir “acontecimentos”.

Figura marcante desta guerrilha é o celebrado Remechido que teria incendiado as repartições da vila por duas vezes, onde não encontrou dinheiro. (2)

A presença por estas paragens do “homem da serra”, capitão guerrilheiro miguelista que espalhou o terror entre as falanges liberais, é um facto.

José Joaquim de Sousa Reis nasceu em Estombar em 1797.

Remechido

Cursou o Seminário de Faro, onde se distinguiu no Latim e na Dogmática. Chegou a receber as primeiras ordens.

Casou antes do voto de presbítero, com D. Maria Clara Bastos, sobrinha do capitão de ordenanças, Manuel Inácio.

Remechido, assim chamado pela esposa, em mercê do muito que “mexeu” e “remexeu” para se soltar do vínculo da igreja e construir a seu gosto o ninho comum, tomou por apelido de família “Remechido”, escrevendo-o sempre com um ch.

Miguelista ferrenho, emigrou em 1826 e regressou à Pátria em 1828, sendo nomeado capitão de ordenanças de espingarda no povoado de São Bartolomeu de Messines, onde construiu o seu lar.

Era baixo de estatura, escuro de tez, entroncado de corpo, a barba a roçar-lhe o peito, vestia a farda dos seus serrenhos, jaqueta azul de gola virada com botões amarelos, calça de pano escuro, da nossa fábrica, com folha inteira forrada de couro branco, sapatos brancos abotinados.
Duque da Terceira
Quando o Duque da Terceira desembarca em Alagoa, Remechido fugiu para a “serra” com uma hoste de guerrilheiros e espiando os movimentos dos constitucionais, hostilizou-os constantemente, incluindo as tropas de Sá da Bandeira.

Desceu ao Alentejo e como o General Molelos recusasse o seu auxílio, recrutou mais guerrilheiros por conta própria e com eles continuou a sua luta.

Depois da Convenção de Évora-Monte, depôs as armas por algum tempo.

Perseguido pelos liberais que procuravam vingar as suas proezas, foi-lhe incendiada a casa e brutalizados a mulher e os filhos. Foi então que organizou uma quadrilha que praticou as maiores violências.

As tentativas para o dominar eram baldadas: redobraram-se esforços por todos os modos imaginários, empregaram-se colunas volantes em todas as direcções. Tudo em vão. Prenderam-lhe outra vez a mulher e fazendo-a acompanhar das filhas que estavam em ADOLETE (Odeleite), perto de Alcoutim, conduzem-nas para a cadeia de Faro, havendo anteriormente sido capturado e morto no Azinhal o seu segundo filho, que apenas contava treze anos de idade.

D. Maria II
Numa luta desigual, foi aprisionado pelas tropas de D. Maria II, após apertado cerco na Portela da Corte dos Velhos, acompanhado de 248 guerrilheiros. Conduzido a Faro, foi julgado em conselho de guerra e fuzilado no Campo da Trindade em 2 de Agosto de 1838. (3)

Em 23 de Março de 1837, teve lugar na aldeia de Martim Longo uma sessão extraordinária da Câmara de Alcoutim.

Convocados todos os cidadãos probos do concelho a fim de se tomarem medidas eficazes para preservar os povos do concelho do flagelo dos salteadores e guerrilhas, a Câmara, depois de ouvir a opinião dos cidadãos presentes, acordou estabelecer nesta aldeia, uma força de vinte homens que rondando diariamente pela freguesia e vizinhas, as ponha a salvo dos roubos e mortes que um tal bando de malvados costuma perpetrar.

A Câmara pagaria as despesas que se fizessem com o arranjo do armamento que tem que se distribuir, assim como dando a cada indivíduo que faça parte da dita força, um pão de arrátel e meio por dia.

Porém, no dia seguinte e no mesmo local é modificado parte do que foi aprovado na sessão do dia anterior.

Atendendo a que, segundo notícias recebidas de todos os lados, os inimigos a bater são somente quatro salteadores, os quais por uma força de dez homens podiam ser batidos e dispersos, acordaram em suster por ora o efeito do acórdão do dia anterior, armando assim na aldeia de Martim Longo, como em Giões, uma força de dez a doze homens capazes, comandados por dois vereadores, os quais servindo gratuitamente se dispõem defender qualquer ponto ameaçado.

Martim Longo. Rua Direita, actual Rua Dr. Antero Cabral. Foto JV, 2010
Aprovou-se, igualmente, que sem demora, seria publicado em cada uma das freguesias, ao sair da missa conventual, o seguinte aviso: Todo o indivíduo seja obrigado a avisar e dar notícia de qualquer acontecimento que tiver lugar no seu monte e denunciar o lugar onde ache qualquer sujeito escondido sob pena de pagar de multa desde 1200 réis até 10.000 réis, conforme a gravidade do crime em que incorrer além de prisão e penas a que estiver sujeito pelas Leis Gerais do Reino.

Em 1838, (4) não compareceu na sessão camarária o Tenente-coronel do Batalhão Nacional de Vila Real de Santo António, como havia prometido.

Era duro e penoso para este concelho o recrutamento de elementos para aquele batalhão pela distância e incómodo que daí resultam, dando origem a funestas consequências.

Opina a Câmara, para ultrapassar esta situação, que se organizasse um pequeno corpo ou companhia sedeada neste concelho ficando independente do Batalhão de Vila Real de Santo António.

Em 25 de Abril seguinte, a Câmara acordou que se levasse ao conhecimento superior as arbitrariedades praticadas com o novo recrutamento para voluntários e linha pelo Governador Militar interino desta Praça.

Na sessão de 24 de Agosto, a Câmara aprovou, unanimemente, enviar ao Comandante da Força de Operações na Serra, o Coronel Fontoura, as felicitações, agradecendo a apreensão do chefe da guerrilha, o rebelde Remechido.

O recrutamento e incorporação no batalhão de Vila Real de Santo António continua a gerar polémica. (5) Queixam-se as autoridades militares da frouxidão e pouco zelo com que a Câmara e o Administrador do Concelho se tem empregado na prontificação dos indivíduos recrutados.

Perante a acusação defende-se a Câmara do seguinte modo:- ”Tem servido de obstáculo à não prontificação (...) a continuada presença dos Guerrilhas no concelho que tem feito que nenhuma autoridade possa cumprir o seu dever sem risco da sua vida”. A confirmar tal situação, faz-se saber que um capitão do referido batalhão veio, propositadamente, a este concelho com vinte soldados fazer o recrutamento e que nem um só puderam capturar.

Em 1846, (6) Sebastião José de Freitas, da vila, apresenta um requerimento no sentido de ser nomeado oficial de diligências da Câmara, devido a ter sido soldado durante o tempo dos guerrilhas que infestavam a Serra do Algarve, contra os quais andou quatro anos.

Aqui deixamos algo que conseguimos compilar sobre esta temática.


NOTAS

(1) – Of. Nº 83 de 13 de Abril de 1878 ao Governador Civil.
(2) - “Caminhos e Estradas são suprema aspiração de Vaqueiros”, Luís Cunha, in Jornal do Algarve de 10 de Fevereiro de 1973.
(3) - Grandes Crimes, Ed. Liv. Civilização; Dicionário Enciclopédico Lello e Remechido - Célebre Guerrilheiro do Algarve e Sua Guerrilha (Autor Desconhecido)
(4) - Acta da Sessão de 1 de Fevereiro.
(5) - Acta da Sessão de 4 de Novembro de 1839
(6) -- Acta da Sessão de 2 de Março de 1846.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Alcoutim e Cinfães




Escreve

Gaspar Santos




A Alcoutim e a Cinfães ligam-me fortes laços afectivos. Pelo nascimento e pelo casamento, já que eram de Cinfães os pais e avós de minha mulher. Observo semelhanças e diferenças no modo de ser destes dois povos que hoje aqui comparamos.

Cinfães e Alcoutim foram sempre dois concelhos agrícolas pobres, e hoje, por razões que desconheço, estão no fim da tabela dos indicadores de qualidade de vida. Mas ambos têm orgulho do seu passado.

 Cinfães orgulha-se de ser berço do explorador Serpa Pinto que ligou por terra pela primeira vez Angola e Moçambique de costa a costa. Alcoutim orgulha-se do médico e benemérito Doutor João Francisco Dias. E do seu passado histórico, dos seus castelos e da colaboração que deu na fixação das fronteiras de Portugal.

Alcoutim. Praça da República. Foto JV, 2009

Presumo que Cinfães tem esses indicadores assim tão maus por causa da economia paralela, isto é, que não é contada nas estatísticas; ao contrário de Alcoutim em que esses indicadores, sendo igualmente maus e sendo contados, devem estar correctos.

Há em Cinfães uma certa vida agrícola e pecuária que não entra nos circuitos comerciais. Aquilo que no campo se consome passa despercebido, ou melhor entra nos 10% que por defeito é considerado nas estatísticas, mas que deverá ser bem maior: os frangos caseiros, os ovos, as galinhas, borregos, cabritos e porcos; as couves, legumes e cereais, além das batatas, castanhas, cerejas e vinho. O mesmo se pode considerar do trabalho artesanal que aqui se oferece e se pratica sem o conhecimento estatístico.

Povos pobres de recursos, aquilo que comem apresenta diferenças quiçá estranhas. O cinfanense come o tomate quase apenas em salada, não come queijo fresco e ainda menos o almece ou requeijão já que não aproveita o leite dos animais que cria. Não come a cabeça nem dos peixes nem dos animais terrestres, mas não sabe explicar porquê. Não é muito apreciador de peixe, salvo o bacalhau, a sardinha, a pescada e o polvo. Comem com alguma frequência borrego (a que chamam anho) e cabrito, só animais muito jovens e só assados no forno. Não comem habitualmente ovelha nem carneiro, nem cabras e bodes.

Por estes exemplos se verifica um pouco como o alcoutenejo é mais aproveitador dos recursos, digamos de mais “boa boca”. O cinfanense não se adapta facilmente à dieta mediterrânica que se pratica no Algarve e em particular aos pratos de Alcoutim que tão bem têm sido descritos neste blogue por José Varzeano.

Um familiar de minha mulher que foi funcionário das finanças no Algarve nos anos 20 do século passado, dizia que “gostaria que lhe pusessem uma venda nos olhos para não ver o que comia”. Nunca se habituou à gastronomia algarvia. Uns pedreiros de Cinfães que trabalharam para mim em Alcoutim comiam ali quase apenas frango assado e febras de porco (desde que não fosse porco preto). Comiam carne de porco à alentejana mas deixavam de lado as amêijoas. Comer outros mariscos, nem pensar!

Em Alcoutim chove pouco. Enquanto em Cinfães, além de chover mais, há nascentes de água e fontanários por toda a parte. Por isso, aqui a agricultura é sobretudo de regadio. Aliás não podia ser de outra maneira, pois as terras são muito permeáveis, provenientes de rochas graníticas degradadas, e os solos são mais ácidos e com carência de cálcio e ferro, ao contrário dos de Alcoutim.


Cinfães. Coração da vila. Foto GS, 2012

Também é muito diferente o comportamento das autoridades no aspeto agrícola, o que tem a ver com as Leis da Reserva Ecológica Nacional (REN) e da Reserva Agrícola Nacional (RAN). Por exemplo o corte das silvas é fomentado em Cinfães e proibido em Alcoutim, o que dificulta a apanha dos frutos que caem quando há silvas e mato debaixo das árvores.

Os cinfanenses são mais religiosos. No Verão todos os fins-de-semana são de festas de Santos, com muitos foguetes, fogo-de-artifício e procissões nas diversas aldeias. Por isso de manhã somos muitas vezes visitados por músicos percutindo enormes bombos a anunciar o peditório. Para ajudar a custear os festejos costumam fazer leilões com ofertas da população, sendo tradicionais as ofertas de carros de lenha grossa para as lareiras. A noite depois é muito divertida com arraiais a que chamam noitadas. Em Alcoutim predominam as festas laicas, embora se realizem também festas religiosas.

Alcoutim tem como fronteira leste o grande Rio Guadiana e Cinfães tem como limite Norte o grande Rio Douro. Ambos os concelhos são banhados e sempre foram servidos por estes rios como “autoestrada” de ligação ao mundo.

Mas Alcoutim está mais bem servido de estradas. Em poucos minutos pode-se estar em Vila Real Santo António, na Scut Via do Infante ou em Mértola, por estrada IP que apenas galga pequenos serros.

Cinfães tem como limite Sul a Serra da Gralheira (1.116 m) e a Serra de Montemuro (1.382 m) e o concelho desenvolve-se na pendente sobre o Douro. As estradas são sinuosas num autêntico caracol, o que dificulta os acessos. Fora as perigosas estradas municipais o concelho é atravessado pela EN 222 que dá acesso a nascente a Castelo de Paiva e para poente a Régua, Lamego, Vila Real e Bragança, e pela EN 321 que liga a sede do concelho a Castro d’Aire e A24 para Viseu e Coimbra e para norte Vila Real e Bragança. Mesmo estas EN têm tantas curvas que transitar nelas é sempre uma demorada gincana.

As primaveras de um e outro concelho vêem-se engalanadas por flores brancas de frondosas árvores que cobrem os montes, mais em Cinfães com as cerejeiras do que em Alcoutim com as amendoeiras outrora fonte de riqueza e lendas, mistérios e encantamentos, e agora em extinção.

Na questão dos recursos tanto materiais como humanos Cinfães supera em muito Alcoutim. Para só falar do mais saliente e sem grandes pesquisas, Cinfães além de uma Unidade Básica de Urgências tem várias clínicas gerais, dentárias e oftalmológicas e de análises clínicas e radiológicas. Tem na sede do concelho um mercado municipal, dois supermercados, vários talhos, restaurantes e cafés; três lojas de ferragens e de máquinas agrícolas, além de uma Cooperativa que resultou da extinção do antigo Grémio da Lavoura. Na sede do concelho há também duas bombas de combustíveis além de várias outras em localidades das 15 freguesias.

Há no concelho de Cinfães algumas empresas de reinserção que cedem pessoal para trabalhar, pelo que por aqui não é difícil, ao contrário do que se passa em Alcoutim, arranjar pessoal. Por outro lado também há oficinas de ferreiro, canalizador, vidraceiro etc.

Outra semelhança que as estatísticas oficiais revelam é ambos os Municípios não estarem endividados, o que é uma raridade nos tempos que correm.

domingo, 22 de julho de 2012

Tempo de Subversão - Páginas da resistência


Editado por Edições Avante e englobado na colecção resistência em formato de 14,5 X 21 tem 190 páginas.

O trabalho divide-se em 13 partes iniciando-se com COMEÇOU NO AEROPORTO e terminando com MISSÃO CUMPRIDA.

É um desenrolar da vida do autor, passando por muitas privações, tormentos, humilhações e bárbaras agressões tudo pelo “crime” de pensar diferente.

Interrogatórios seviciosos, condenações “judiciais”por Tribunais fabricados à medida, prisões, fugas, clandestinidade, abandono clandestino do país. De tudo isto e muito mais o leitor encontra neste livro, um de muitos exemplos de quem teve a coragem de lutar pela Liberdade e pelo direito de opinião.

O autor do livro é Carlos Brito que militou muitos anos no PCP e que é um alcoutenejo pelo coração, pois nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, mas que veio para Alcoutim de muito tenra idade. Esta é a sua terra, aqui fez a instrução primária, aqui viveu até à adolescência e aqui regressou logo que lhe foi possível.

Carlos Brito é uma figura emblemática da Vila de Alcoutim.

A edição é de 1998.

sábado, 21 de julho de 2012

As vilas da minha infância



Escreve

M Dias



Alcoutim e Vila Real de Sto António, foram as vilas onde cresci e me fiz gente. A 1ª,guarda o meu registo de nascimento e o dos meus irmãos, o de minha mãe e toda a família materna. Estão guardados também aí os nossos registos de batismo, na igreja de S. Salvador ou igreja matriz.

Entre estas duas, passamos por Castro Marim onde se encontram os registos de nascimento do meu pai, meus avós e toda a sua família.

Em Alcoutim, foram-me dadas as vacinas dos 1ºs anos de vida, e os cuidados médicos indispensáveis. Fiz os meus exames de 3ª e 4ª classe, assistia todos os anos à Feira e Festa de Alcoutim, (onde me deliciava com os nogás em folha de laranjeira, as batatas doces cozidas em grandes panelões a vapor) e outros eventos à época muito importantes, como a visita do Presidente da República, ou do Sr Bispo. Nesses dias, vestíamos a roupinha nova e bonita, a batinha branca da escola impecavelmente limpa, e com a nossa bandeira, vermelha e verde com o escudo amarelo ao meio feita de papel de seda, colada com cola de frasco a um pauzinho de cana, com ajuda da nossa professora, começávamos a tarefa aí um mês antes. Sim, porque nesse tempo as aulas começavam ás 9h e terminavam só as 17h.

No monte adorava apanhar peixinhos no regato, com um cesto que, posicionado a jusante da corrente, os peixinhos ficavam presos ao serem empurrados e quase enchiam o cesto para regalo dos nossos gatos.

No mês de maio algumas vizinhas compunham lindas Maias, (bonecos de palha vestidos a rigor), cada um representando as tradições de trabalho.

Comíamos até nos lambuzarmos e não poder mais, os deliciosos favos que o pai e alguns vizinhos tiravam das colmeias.

Pelo Sto António e S João, era uma alegria saltar as fogueiras e fazer bailes de roda à volta dos mastros, bem cheirosos com hortelã da ribeira, mantrasto, alecrim, marcela e as floridas alcachofras. No dia seguinte pela fresquinha, a mãe ia lá acima e trazia figos lampos e algumas ameixas deliciosas para o pequeno almoço.

Pelo Natal, apanhávamos musgo e enfeitávamos um altarzinho com degraus onde colocávamos o menino Jesus com as searinhas e as laranjas à moda do Algarve (árvore de Natal surgiu anos mais tarde e só nas cidades). Comíamos galo caseiro ou carne de porco da matança, alguns doces, dos que mais gostava eram os bolinhóis, massa frita, com sabor a laranja e polvilhada de açúcar e canela, se houvesse em casa, claro.
Cada um tinha uma prendinha, naquela zona chamava-se oferta, geralmente uma barrinha de marmelada ou um pequeno chocolatinho.

O Carnaval era trapalhão e divertíamo-nos imenso, especialmente a tentar descobrir quem eram os mascarados que se vestiam de mulher, os homens, e vice-versa. A máscara era muito simples, quase sempre, um saco de pano com buracos para os olhos e boca. Andavam de casa em casa e faziam muitas trapalhices.

 No Carnaval era hábito comer filhoses e na Páscoa os confeitos (amêndoas que nos ofereciam os padrinhos), as madrinhas ofereciam pão doce, (as costas) no dia de todos os Santos.

 Aos 5/6 anos já viajava de Alcoutim a V Real com o meu irmão mais velho 3,5 anos, o Zé, sempre que começavam as férias escolares. Lá morava a nossa avó, numa casinha minúscula com a nossa tia solteira que dedicou a sua vida à mãe e aos sobrinhos (eu e os dois irmãos). Cabíamos todos e ainda se arranjava espaço se alguém chegava e não tinha transporte para casa.

 De manhãzinha, pouco depois do nascer do Sol, lá íamos com a avó para a praia que ficava a cerca de 10 minutos a pé mesmo contando com as tropelias que fazíamos pelo caminho. Atravessávamos a mata e ajudávamos a avó a apanhar caruma dos pinheiros que ajudava a acender o carvão onde se assavam os belos peixinhos que se compravam ali mesmo no areal.

Antes, dávamos banho, como se diz no Algarve, com água aquecida ao sol no balde grande de zinco.

 Voltávamos a casa dos pais apenas na tarde anterior ao 1º dia de aulas.

Ainda hoje me enjoa quando recordo o cheiro intenso a peixe cozido, sardinha, cavala, carapau, atum, das inúmeras fábricas de peixe que nesses idos anos 50 empestavam aquela vila, e redondezas, hoje cidade de Vila Real de Stº António, mas, nada que não compense a beleza e policromia daqueles grupos enormes de mulheres que de bicicleta percorriam desde a Aldeia Nova, logo as 6,30h da manhã a caminho das fábricas, daquele rio, do jardim ribeirinho, do Cine Foz, da esplanada do Mariani onde nos deixavam entrar sem dinheiro, quando o filme estava para sair, da feira da praia com a variedade de carrosséis onde andávamos uma vez no ano, mas nos encantava aquela música, aquelas luzes, as longas sestas que dormíamos no quarto da tia, acordados pela belíssima voz da vizinha Maria Teresa que cantava as canções do top desse tempo, e os jogos da macaca e dos berlindes no terreiro em frente à minúscula casinha da avó.

E as extensões de couve-flor que se estendiam pelas hortas junto à estrada e que avistávamos do trem e que eu batia o pé, e gritava que queria couves de açúcar....!

Muitas, muitas e doces recordações das minhas duas Vilas.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Balança romana ou de vara

Este tipo de balança para determinar o peso de um corpo em relação a uma certa unidade, normalmente o quilograma, foi bastante usado no concelho de Alcoutim onde havia, pelo menos um, mestre na sua feitura, sendo considerada muito eficiente e conhecida no concelho e redondezas. Não era qualquer ferreiro que a fazia.

 Tudo isto, apesar de os corpos a que se destinava a sua utilização não necessitarem de grande precisão.

 Ainda que fossem necessárias três pessoas para o seu manejo, o transporte era muito cómodo.

Os porcos e outros animais, depois de limpos, passavam pela sua avaliação tal como as sacas de produtos agrícolas como amêndoas, alfarrobas, batatas, trigo, etc.

É constituída por uma barra de aço facetada, de secção quadrangular na qual estão inseridas ranhuras equidistantes, um peso designado pilão e três ganchos.

Para graduar a vara, colocava-se um cursor num ponto em que o travessão ficasse horizontal sem que houvesse nenhum corpo suspenso. Esse sítio, o de equilíbrio, era marcado como ponto zero.

Agora com o auxílio da suspensão de um peso de 10 kg repete-se a manobra e quando se obtiver a horizontalidade da barra, no lugar em que estiver o peso suspenso outra ranhura marcará 10. Obtida a distância entre o ponto zero e o ponto dez, esta será dividida em dez ranhuras absolutamente à mesma distância umas das outras, significando assim, que a deslocação de uma para a outra a variante é de um quilo. A graduação da barra continua e normalmente estas balanças estão graduadas para pesagem até 150 kg. ainda que as haja até 100.

O pilão que pesa um quilo e se vai deslocando até ao equilíbrio, está suspenso de um gancho aguçado de maneira que se possa fixar nas ranhuras.

Para a sua utilização, como já se disse, eram necessárias três pessoas. Metia-se um pau bastante forte num dos ganchos que depois era elevado por dois homens. A terceira pessoa ia mudando o pilão até encontrar o peso certo.

Admitimos que o nome tenha a ver com o povo que a teria introduzido no país.

Pesando o cevado. Foto LM, 1997

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Crónicas e Ficções Soltas - Alcoutim - Recordações - XXXII



Escreve

Daniel Teixeira


















O TI MARCOS

O Ti Marcos, por esta ordem, era tosquiador, barbeiro e comia coxas de rã. Morava no final da azinhaga que partia do antigo Lagar dos Tomáses, depois de passado um espaçoso terreiro que fazia uma das entradas para as moradias destes Lavradores e donde se via a entrada da casa que foi do Sargento Gabriel e da Dona Maria, Tomás por nascimento.

Agora, e segundo a foto do Zé Varzeano existe lá em frente da casa uma palmeira no local onde antes estava uma pereira, normalmente esquelética e com frutos tamanho mini, não por falta de cuidado mas porque estava mesmo mal situada no isolamento da encosta, não retendo a água das regas e sendo fustigada pelas enxurradas de inverno que lhe punham as raízes à mostra.


Um renque de casas, palheiros e armazém de carros de besta dava então início ao renque (quarteirão) onde trabalhava (na sua tosquia) e vivia o Ti Marcos. Na foto acima vê-se a minha pessoa envolvida numa análise profunda do sistema de atrelagem do animal com uma camisa de cor a condizer com a época (anos 70/80). Para o lado direito da foto era o final deste renque, não sem antes haver uma casa de habitação (não habitada) da minha Tia Zabelinha. Para o lado esquerdo, puxadas para o centro do quadrante, estavam então as casas de habitação, e não só, dos Lavradores Tomás tal como já referi.

Sendo o Ti Marcos o personagem desta história em teoria eu deveria passar a falar nele já, mas esta lembrança da casa da minha Tia Zabelinha (que não se vê na foto) fez-me lembrar um aspecto da vida no Monte que acho interessante sem ser transcendental, é claro. No correr do quarteirão havia uma outra casa da minha Tia Bia (também não habitada) e do lado direito do quarteirão havia um palheiro do meu avô com uma pequena cerca. Todas elas herdadas do ramo Coelho da minha avó como deduzo.

Ora a vida normal do dia a dia passava-se em habitações próximas das zonas de serviço (cozinha principalmente) e toda essa vida tendia a concentrar-se no mínimo de espaço geográfico possível: da cozinha da minha avó havia uma entrada (não utilizada) que dava directa para as costas da arramada, a minha Tia Zabelinha fazia 90% da sua vida num renque de casas (com cozinha e arramada inclusas) embora a sua casa de habitação (de dormir) fosse a vinte metros de distância e a minha Tia Bia guardava os trastes nesta sua casa que nem secundária era embora vivesse a cerca de cinquenta metros dela.

O meu avô, por sua vez, fazia da sua casa nesta zona, palheiro, mas muito pouco usado no dia a dia. Devo dizer que esta casa dele tinha mais condições para arramada do que a outra que era usada. Os animais tinham de se «agachar» para entrar na arramada mas era também porque não sabiam baixar apenas a cabeça (coisa esquisita diga-se) uma vez que a porta de entrada era muito baixa na sua percepção e não dava para subir mais uma vez que o tecto começava logo ali.

Na arramada da minha Tia Zabelinha (e Tio Afonso) passava-se o mesmo: as mulas, ou uma mula e um macho, também tinham de se baixar sem necessidade na nossa perspectiva de humanos: dava à vontade, num caso e noutro, para eles entrarem nas calmas e ainda sobravam mais de vinte centímetros. Na foto acima vê-se uma porta arranjada, mas pelas minhas contas com menos de um metro e oitenta de altura, o que era uma pecha generalizada tanto em portas exteriores como em portas interiores: não têm conta as cabeçadas que eu dei em vãos de porta por aquele monte. Agindo preventivamente os animais eram mais espertos que eu...

Bem...o Ti Marcos era objecto de um aviso quase todos os anos: «se eles te convidarem para comer qualquer coisa come só o que conheceres: queijo, presunto, pão, etc.» . Nada de manjares esquisitos...podiam ser pernas de rã. Nunca comi, diga-se, mas é um manjar muito apreciado em França (onde estive algum tempo) e ali havia aquela repulsa. As rãs eram aos montes tanto nos barrancos com poças de água, junto aos poços de rega, no Ribeirão e na Ribeira, enfim: para eles, Ti Marcos e esposa seria difícil entrarem em deficit proteico.

Era um excelente conversador, contava daquelas histórias que toda a gente incluindo ele sabia que são aldrabice e era um profissional competente na tosquia tanto de bestas como de humanos. As tatuagens no cabelo, agora tão na moda, fazia-as ele nos animais mas não teria então e não teria hoje clientela humana para as fazer.

Pensar que se tiram hoje cursos para aprender a fazer coisas que há 40/50 anos o Ti Marcos fazia na maior, com cuidadosos olhares à distância para ver o elaborado do relevo, cortes milimétricos de correcção, tesourinhas de unhas de toucador para as partes mais difíceis, pedidos de aprovação ou crítica estética aos presentes, enfim...un artist, um verdadeiro artista que nunca teve o reconhecimento merecido.

Só era pena a tal coisa das pernas de rã mas todos os artistas têm e merecem ter as suas liberdades.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Boa paragem!


A foto  de hoje, à primeira vista, parece não ter qualquer justificação, mas se pensarmos bem, por detrás destas paredes em ruínas, certamente que existe uma história para contar de que conhecemos apenas uns leves traços que nos chegaram por via oral.

Ainda conhecemos o modesto edifício com portas e telhado e em estado razoável de conservação e indicaram-nos que ali era a Boa Paragem.

Este edifício é único e foi construído junto da estrada mais antiga do concelho ou seja, a que liga a vila de Alcoutim à aldeia do Pereiro desde a década de 70 do século XIX.

Na década de 40 do século passado sofreu um alargamento e alguns ajustamentos no seu percurso e com o consequente alcatroamento.

Situa-se do lado esquerdo da estrada Alcoutim – Martim Longo, um pouco antes do entroncamento à direita para a povoação de Tacões.

No edifício, além de habitação, funcionava uma pequena tasca onde se vendia um copo de vinho ou um cálice de aguardente. Havia um poço perto e uma horta que cobriam necessidades primárias.

O isolamento do edifício acabava por ser ponto de encontro de várias paragens para quem se dirigia, por exemplo, para o Balurco vindo do Pereiro e para quem se deslocava nos seus animais para os trabalhos agrícolas nas propriedades que possuíam aqui e ali.

O local proporcionava um pouco de descanso para as pessoas e animais que tinham também a oportunidade de matar a sede com a água do poço, enquanto os donos davam dois dedos de conversa e tomavam um copo fumando uma cigarrada.

Desta circunstância teria nascido o nome de BOA PARAGEM e estamos convencidos que assim continuará a ser designado mesmo que já não restem as paredes. É topónimo que vai ficar.

À medida que o trânsito motorizado ia aumentando o de animais ia diminuindo na razão inversa.

Os proprietários começaram a sentir o decréscimo dos seus rendimentos, venderam os bens e seguiram numa leva de colonos para Angola.

Segundo consta e é natural, por ali também se faziam negócios de contrabando, o que era comum a todo o concelho.

A última actividade clandestina que ali teve lugar foi, segundo dizem, o de engajamento de emigrantes clandestinos para França.

Aqui fica o pouco que pensamos saber sobre a BOA PARAGEM.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Capela de São Martinho e as Cortes Pereiras

Pequena nota

Atendendo a que a laboriosa povoação de Cortes Pereiras realiza a sua Festa de Verão no próximo sábado, dia 21, através da já velhinha Associação Unidos do Monte, de que sou associado, aproveito a oportunidade para na rubrica Ecos da Imprensa transcrever um artigo que publiquei no Jornal do Algarve já lá vão 22 anos!
Que a Festa seja um êxito, são os meus votos.

JV

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 28 DE DEZEMBRO DE 1989)

Desta vez, saímos da vila. Atravessámos a ponte sobre a ribeira da Cadavais, inaugurada em 1986. Depois de muitos séculos, a vila fechada nos seus limites naturais, consegue rompê-los e tenta sair da letargia.

Além da expansão que está em marcha, a ponte e a estrada possibilitaram aos povos do Norte da freguesia de Alcoutim, uma mais estreita ligação com a sede do concelho.

O poeta-barbeiro, João Madeira, já falecido, referia-se à situação com estas quadras:

Andam-se 20 km
Para ir às Cortes Pereiras,
Podendo apenas ser cinco,
Vejam lá as asneiras!

A ponte e a estrada feitas,
Darão vida a Alcoutim,
Mas se não as começarem
Nunca chegarão ao fim.

Depois de passarmos junto do Lar para Idosos, moderno estabelecimento que muito honra a vila, lá seguimos a estrada municipal 507 que serpenteia pela aba do Cerro da Mina. Lá no cimo, foi instalado em 1987 um retransmissor que possibilitou à zona ver o segundo canal da RTP.

De uma das apertadas curvas, desfruta-se um belo panorama sobre a vila e o Guadiana, apreciando-se também as potencialidades agrícolas das margens da ribeira de Cadavais. Muito útil para o turismo seria, se o local fosse arranjado, transformando-o num miradouro. Se fosse possível, como pensamos, dotá-lo de um bar ou mesmo restaurante, seria ainda melhor.

Quando se atinge a altura, desaparecem as curvas e surge uma grande recta, ainda que o seja em vários planos.

Caminhamos assim para a parte norte da freguesia da vila, aquela que confina com o Alentejo, mais propriamente com o concelho de Mértola.

Compõe-se de um conjunto de pequenos aglomerados populacionais, a pouca distância uns dos outros, quando não juntos, a que se chama Cortes Pereiras.

Além destes, e com posição bem distanciada, Vascão (antiga Fonte Almece), Afonso Vicente e Santa Marta, mas é sobre as Cortes Pereiras que nos iremos debruçar.

São Martinho, Currais (já desabitado), Monte Longo, Casa da Amêndoa, Piçarral, Monte de Baixo, Monte de Cima, Monte do Poço, Curral da Arvela (ou Alvéola) e Monte do Sol, constituem aquilo a que chamamos Cortes Pereiras, que em documentos do século ainda aparecem designados por Cortes das Pereiras. São estas designações que constam da matriz predial e também o povo assim as usa.

Se o São Martinho mantém uma identidade, impondo-se pelo seu nome, possivelmente por ser talvez o mais antigo.

Nos princípios do século quando havia necessidade de indicar as povoações que constituíam a freguesia de Alcoutim, referia-se entre outras, São Martinho e Cortes Pereiras, que eram considerados “casais”. Também no século passado e princípios deste, verifica-se que era no São Martinho que viviam as pessoas mais abastadas e que faziam parte do poder autárquico. Assim, entre outros, José Martins Cravo, em 1834, além de ser um dos maiores contribuintes do concelho, desempenhou as funções de vereador e em 1854, José Martins Capelo fazia parte da Junta de Paróquia. São estes dois homens que representam as Cortes Pereiras para resolverem o problema da criação do cemitério em 1843.

Também Domingos Dias Sequeira, entre 1852 e 1857, foi o “rendeiro do ver, do limite de baixo”, por arrematação. Actividade que os clamores do povo exigiram em vez da derrama directa.

Ruínas da Capela de S. Martinho. Des. de JV

O hagiotopónimo S. Martinho pode provir do século XIII-XIV (repovoamento nacional) que acompanhou a cristianização, revelada neste velho culto.

As quadras populares seguintes, coligidas por J. Leite de Vasconcellos (1), demonstram bem a devoção por este santo e mesmo a supremacia que então este “monte” detinha.


O Monte de São Martinho
Não é vila nem cidade
É uma capela de oiro,
Donde brilha a mocidade


O Monte de São Martinho
Que linda posição `stá!
Lindas rosas `stá criando;
Quem delas se gozará?


Onde está a capela de oiro referida na quadra popular?

Ainda é possível determinar o lugar em que se situava. Já não é muito o que resta, pouco mais que os alicerces.

Desconhecendo-se a data da fundação, em meados do século XVI já se diz que é antiga. Nesta altura “he huma soo casa pequena de duas ágoas, madeirada de castanho, mal encaniçada; as paredes são de pedra e barro desguarnecidas de dentro e de fora”.

Quanto ao altar, “ he d`àlvenaria, está cuberto com humas toalhas e nelle a imagem de São Martinho de vulto feita e pintada de novo, encima tem hum ceo de pano de linho. (2)

Era reparada à conta de esmolas dos seus devotos.

O grande arqueólogo algarvio, Estácio da Veiga, também lhe chama, em 1878, “Ermida Velha de São Martinho”. Nela recolhe um cipó de mármore, com inscrição funerária, medindo de altura 1,50 m, de largura 0,62 m e de espessura, 0.35 m. De origem romana, foi encontrado em posição invertida, o que levantou a hipótese de ter sido aproveitada a base como “mesa”.

Faz parte do Museu Nacional de Arqueologia. (3)

Da correspondência trocada entre o Administrador do concelho e o Arqueólogo, respigámos: (…) mandei imediatamente pessoa competente, ao sítio onde se acha o grande monumento epigráfico de mármore, encarregando-lhe que com o maior desempenho e cuidado o fizesse conduzir a esta vila. Voltaram depois dizendo que era muito difícil a sua condução o seu peso em mais de 800 kg como também a longitude de 6 km a percorrer de péssimo e escabroso caminho, demandando por isso de imensas dificuldades e grande despesa. (4)

Pensamos que este monumento epigráfico é o cipó a que nos referimos e que felizmente acabou por ser levado para o sítio indicada.

Quando visitámos o local, e já lá vão cerca de vinte anos, foi-nos informado pelo nosso cicerone, nado e criado no São Martinho, que ali era o São Martinho Novo, pois o Velho, que fica na aba Sul do pequeno cerro, zona rústica ainda assim conhecida, tinha desaparecido completamente.

Diz a lenda que o santo, muito isolado, aparecia no cimo do cerro, pois dali avistava os eus irmãos, Santa Marta, Nª Sª das Neves (Mesquita), Nª Sª da Conceição (vila) e São Marcos do Pereiro.

Por esse motivo, e para não contrariar o santo, construiu-se a nova capela. (5)

Após a ruína e profanação da ermida, para onde teria ido a imagem do patrono, já que não aparece nos templos vizinhos? Sempre estes desaparecimentos misteriosos!

Hoje o São Martinho perdeu a importância que possuía em relação aos outros montes. Dos nove fogos que ainda possui, só cinco são habitados, tendo apenas oito habitantes.

O topónimo Corte (normalmente associado), aparece principalmente no Baixo-Alentejo e Alto-Algarve e tem merecido a atenção de vários especialistas.

Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira diz-se que entre os topónimos mais dignos de nota, contam-se as várias Cortes. Designando prédios, certamente em substituição dos casais de acourelamento efectuado com a repovoação nacional.

Pinho Leal (6) expressa-se assim: (…) se em algumas povoações significa curral de gado, na maior parte delas significa cohorte (corpo militar dos romanos) e depois, à imitação deles – sobretudo desde o tempo de Sertório, também os lusitanos se organizaram por cohortes. Também se dava o nome de cohorte ao sítio em que ela fazia o seu assentamento ou acampamento.

Alberto Sampaio (7) escreve: Cohors, Cortis, Curtis – o recinto fechado em volta do qual estavam as construções agrícolas incluindo os estábulos, aos quais agora a linguagem popular chama Cortes, de que cortelho é também diminutivo no mesmo sentido. De curtis, significando o conjunto das edificações com um pátio, derivou-se literalmente Corte.

Corte, de Cohors – Ortis – Cortis, Curtis, em latim clássico significava o recinto das construções rústicas, passou entre nós, nos tempos antigos (…) a ter significações como subunidades de cultivadores – courela murada ou cercada de sebes, mas predominantemente o lugar onde se criam ou recolhem animais domésticos (…) Vêm depois, num ou noutro destes sentidos, para várias povoações que com este nome, no singular ou no plural, se encontram espalhados pelo nosso País – é o que afirma Amadeu Ferraz de Carvalho. (8)

Noutra ocasião, o mesmo autor diz que corte significa – casal, vila, exploração agrícola. (9)

Viterbo (Fr. Joaquim de Santa Rosa de) no conhecido Elucidário, diz: “Para com os bons latinos cors ou cohors era, propriamente, um pátio rústico e descoberto, cercado e guarnecido de currais, manjedouras ou cobertos, em que os animais e criações do campo se recolhem, guardam, multiplicam e cevam. Na baixa latinidade, cortis e curtis se tomaram por um casal, vila, quinta, abegoaria, prédio rústico, horta, quintal e também alcaria com tudo o preciso e necessário para a lavoura.

Também significaram o arrabalde de uma grande povoação: o pavilhão, tenda, ou barraca do príncipe, ou general do exército.

Pereiras é fácil concluir a sua ligação à flora, tal como acontece na aldeia do Pereiro.

Dos outros topónimos pouco há a dizer pois na maioria têm explicação fácil de concluir, ainda que nem sempre isso aconteça.

Piçarral é o lugar onde há Piçarra, sendo esta, pedra ou pedreira de xisto ou esquístico.

Curral da Arvela – curral de gado e também da arvela ou arvéloa, ave insectívora por aqui abundante.

Casa da Amêndoa. Des. de JV

Em Casa da Amêndoa a origem estará na existência em tempos de um armazém desse fruto seco.

Em 1872 já aparecem referência ao Piçarral e à Casa da Amêndoa mas nesta altura não encontramos qualquer referência à cultura da amêndoa que pensamos não existir.

Em 1859, Manuel Sequeira, das Cortes Pereiras, possuía a Herdade do Bocarro, de que hoje só deve restar o nome.

Diogo Dias Bocarro era, em 1566, almoxarife do Marquês de Vila Real (4º Conde de Alcoutim), D. Manuel de Meneses, na vila de Alcoutim e pela mesma altura, Jorge Bocarro, tabelião, era mordomo da Confraria de Nª Sª da Conceição.

Monte Longo. Des. de JV

Dois séculos depois (1771), aparece outro Bocarro, Manuel Dias, que manifesta na Câmara de Alcoutim o gado que possui.

Parece-nos que o antropónimo acabou por originar o topónimo, o que sucedeu, o que sucedeu também com a zona conhecida por Barriga, ao sul da vila, pois no século XVI a família Barriga desempenha lugares de destaque não só na vila como no Pereiro e Martim Longo. Nesta época, aparecem em documentos, Vasco Rodrigues Barriga, Afonso Barriga e António Barriga e no século XVIII, Domingos Costa Barriga e Gregório Barriga.

Actualmente, não conhecemos famílias com este apelido no concelho, ou extinguiram-se ou, o que é mais provável, deslocaram-se para outras terras.

Estas gentes tiveram predilecção pela pastorícia, o que ainda hoje se manifesta, e pela cerealicultura, principalmente o trigo, hoje em declínio.

Moinho das Cortes Pereitras. Foto JV

No século XVII são as Cortes Pereiras que na freguesia de Alcoutim mais gados manifestam (vacum, ovino e caprino).

Produzindo cereais, havia que os transformar em farinha e daí a existência de moinhos de vento de que restam ruínas, tendo os últimos deixado de funcionar por volta dos anos trinta dos nossos dias. Na vizinha ribeira do Vascão, dispunham de algumas azenhas, como as de D. Miguel, do Melão, do Pedro, D. Ana, dos Cleros (não será Clérigos) e da Ponte.

Diz a lenda que o açude do moinho de D. Ana todos os anos ruía e que o seu proprietário só resolveu o problema quando prometeu metade do rendimento ao santo!

A seguinte quadra popular recolhida na zona também demonstra a importância que os moinhos tinham.

Já não se vai a lavar
À ribeira do Vascão
Dizem que aparece um medo
No moinho do Melão.

As várzeas do rio, zona do Enxoval e Premedeiros, são naturalmente os terrenos mais ricos e é aí que possuem os seus mimos – vinha, de forte implantação pelo menos no século XVI, árvores de fruto, azeitona e produtos hortícolas. Nos barrancos que correm para a ribeira do Vascão, são aproveitados os terrenos contíguos para pequenos hortejos que muros de pedra solta pretendem proteger, principalmente do gado e, quando o xisto o permitiu, semearam-se, por processos primitivos, amendoeiras, hoje a desaparecerem pela acção danificadora do mato.

A exploração mineira foi outra actividade de interesse e os romanos exploraram, segundo Estácio da Veiga, minas de cobre e antimónio.

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira indica uma mina de antimónio nas Cortes Pereiras. Teve a sua concessão, Maria Soledade e outro. O espanhol, Miguel Angel de Leon, também a explorou, tal como o cidadão inglês, James Henry.

Encontrava-se registada em nome da Mineira Messinense, situando-se nas proximidades do Monte de Cima, onde ainda há pouco existiam vestígios.

Destas minas, de que os ingleses foram os únicos clientes, extraíram-se as seguintes quantidades de mineral. 139 toneladas em 1864 (Administrado por D. Miguel), 6750 em 1883 e vinte mil e quinhentas, em 1885, último ano de exploração.

Monte de Cima e Monte de Baixo. Foto JV, 1993

Encontrámos com data de 5 de Dezembro de 1862, o seguinte registo: D. Miguel Angel de Leon e Manuel António d` Almeida, o primeiro súbdito hespanhol, solteiro, engenheiro de minas, de 35 anos e o segundo, casado, proprietário, de 34 anos e ambos residentes na vila de Alcoutim que constando que a mina de antimónio existente nas Cortes Pereiras, freguesia e concelho de Alcoutim, se acha abandonada e como tal não ser considerada na conformidade da Lei, pretendem que seja registada como denunciam, pelos suplicantes, em seu nome.

Já antes, 16 de Novembro de 1861, o mesmo D. Miguel tinha feito o registo de um jazigo de mineral de antimónio e outros metais, em terras de José Martins Capelo, do monte de São Martinho.

Por testamento de 8 de Dezembro de 1868 é deixado o direito a duas acções da mina das Cortes Pereiras, por um eclesiástico, a um primo que foi presidente da Câmara e Administrador do Concelho.

E as referências mineiras continuam.

Mina de prata associada com outros minerais é registada em 27 de Julho de 1872 no sítio do cerro da Casa da Amêndoa e Piçarral, em terras de Manuel Martins Cravo; em 12 de Abril de 1872, outra de manganés, no sítio da Vinha Grande (Lourinhã), em terra de José Pedro Rodrigues Teixeira.

Um jornaleiro das Cortes Pereiras, Francisco Afonso, em 13 de Março de 1872, juntamente com dois espanhóis do Porto da Laje, termo do Granado, registaram uma mina de manganés, associado a outros metais, no sítio de Ágoas Nascedias, arredores da vila.

Um empregado da Mina das Cortes Pereiras, João António Madeira Leão manifestou, por Luís Diogo da Silva, residente em Lisboa, uma mina de cobre na Herdade da Malhada (29.06,1868).

O aspecto comercial foi sempre nulo se não considerarmos aquelas pequeníssimas actividades próprias dos pequenos meios.

A Casa da Amêndoa, talvez pela sua posição central, alberga os únicos comércios mistos existentes.

Ultimamente apareceu uma casa de pasto no Monte Longo, próximo da estrada, que animou muito a zona. Nela se pode tomar a bica brejeira e os seus acompanhantes, para quem gosta de refrescar-se com uma bebida. Também se servem refeições e constitui ponto de encontro da zona, sendo fácil encontrar gentes da vila e dos montes circunvizinhos.

As novas técnicas comerciais originaram o aparecimento de “estabelecimentos” ambulantes que visitam em dias certos os locais, recebendo encomendas.

à via romana, Beasuris (Castro Marim) – Pax Yúlia (Beja), passava por aqui, começando a evitar a foz do Vascão. Depois, esteve séculos isolada. Segundo dizem, por influência de alguém, abriu-se a estrada municipal que, não tendo sido feita para servir o povo, não chegou à vila. Com a feitura da parte restante e a construção da ponte sobre a ribeira de Cadavais, foi solicitada a mudança nos transportes colectivos públicos (16.02.1987).

Há muito que existe telefone público, um bem a considerar. Ainda que a todos os “montes” se possa chegar de automóvel, pensamos que é de inteira necessidade a transformação dos caminhos em estradas pavimentadas.

No aspecto associativo, mantém-se a Lutuosa com cerca de 35 sócios que por morte dão origem a um subsídio de mil escudos. Deixando de ter razão pelas transformações operadas no campo social, é natural que em breve a sua extinção seja um facto.

Sede da Associação Unidos do Monte. Foto JV, 2004
De carácter recreativo e fundada há trinta e seis anos, a Sociedade Amigos do Monte, com sede própria e somente trinta sócios, atravessa um período de crise e passava há quinze anos por um período de fulgor.

Depois de se possuir um posto escolar, obtém-se a tão desejada escola, devoluta em 1983 por falta de alunos. Servia também as crianças de Vascão e Afonso Vicente.

Agora, as crianças deslocam-se à escola da aldeia de Pereiro, em transporte camarário.

Houve uma figura pública que marcou fortemente as Cortes Pereiras e a vida política do concelho no terceiro quartel do século passado. Trata-se de Miguel Angel de Leon, cidadão espanhol que se naturalizou português e que é apresentado como engenheiro de minas.

Desconhecendo-se a razão por que veio para o nosso País, mas que nos parece estar relacionada com a actividade política a que se terá acrescentado, possivelmente, problemas de ordem pessoal, é dado como chegado em 1860, fixando-se na vila.

Em 1863 já explorava a mina de antimónio. Desenvolve grande actividade política opondo-se tenazmente ao grupo conservador “reinante” na vila. Procura defender os mais necessitados, como se pode provar por várias acções desenvolvidas. A sua imagem política aumenta vertiginosamente o que o leva, por eleição, à Presidência da Câmara em 2 de Janeiro de 1878, exercendo também as funções de Administrador do Concelho e representante do mesmo no Conselho de Distrito.

Por decreto de 2 de Setembro de 1878 é anulada a naturalização de cidadão português pelo que tem de cessar funções.

Acaba por ser assassinado com um tiro de espingarda pelas nove horas da manhã do dia 26 de Setembro de 1878.

Nasceu em 1826 e residiu em Madrid até 1856. Viveu cerca de vinte anos em Alcoutim.

O nome do criminoso, que é dado como natural de Almodôvar, não corresponde aio que tradicionalmente é apontado, pensamos que se trata de alcunha.

Em ofício do Administrador do Concelho, informa-se que é a opinião geral e de todo o critério que o assassinato foi devido a rixas particulares entre ambos. O assassino residia nas Cortes Pereiras em casas do assassinado. Sustentam outros, e continua o Administrador, haver certos motivos que tratarei de pesquisar para me habilitar a informar verdadeiramente. (10)

O que pretende dizer o Administrador é que uma filha do assassino vivia em casa de D. Miguel como criada e que mantinha relações íntimas com o patrão e daí o sucedido.

O que a tradição oral transmitiu é bem diferente. O pai da moça, que tinha boas relações com D. Miguel, é embebedado pelos caciques da vila que o instigam a cometer o tresloucado acto.

Onde está a verdade?

Monte do poço. Foto JV, 1993
As promessas eleitorais de D. Miguel, são, segundo o Administrador do Concelho, as seguintes: Padres, côngruas, derramas, rendeiros e médico, fora; a passagem de cereais no rio, será livre de direitos e principalmente declarou que não procurassem já os ladrões pelas estradas, nem nas charnecas, por que estão todos em Alcoutim. (11)

Por ser considerado ateu, foi-lhe dada sepultura fora do cemitério católico. (12)

Proprietário da Herdade do Enxoval, em 1876 era um dos quarenta maiores contribuintes do concelho.

Veio a saber-se que afinal D. Miguel Angel de Leon era um suposto nome de Pedro Redondo Marquez, que era casado e tinha um filho.

Também não possuía qualquer curso que o habilitasse como engenheiro. (13)

Ficou-lhe uma filha natural que contava treze anos e que tinha perfilhado. É um dado que a tradição oral não transmitiu, o que de certa maneira não admira. Após a morte do pai, ter-se-ia possivelmente afastado da zona, acompanhando a mãe.

Os alcoutenejos que têm no ouvido o nome de D. Miguel, trazido de pais para filhos e que naturalmente se vai diluindo, podem, com estes despretensiosos dados, aclarar situações e completar ideias que se esboroavam no pensamento.

Para os que nunca ouviram falar dele, e será a totalidade da nova geração, ficarão alguns dados sobre seta figura polémica.

É conveniente dizer que se Miguel Angel de Leon se escondeu atrás deste nome, encobrindo o verdadeiro e situações poucas claras, o Administrador do Concelho, seu antagonista político acabou por fugir para Aiamonte, onde faleceu, sem regressar ao País, onde tinha à sua espera um mandato de captura. (14)

As Cortes Pereiras, como parte importante que são da freguesia de Alcoutim, têm tido sempre elementos seus ligados aos órgãos da Administração local. Podemos destacar assim, José Martins Cravo, nomeado licenciador para as eleições de 1834 e depois vereador por alguns anos, ainda que analfabeto. Foi também representante das Cortes Pereiras na resolução da criação do cemitério da freguesia.

Põe esta altura, era juiz almotacé, Afonso Guerreiro Drago.

Pertenceram à Junta de Paróquia, Manuel Rodrigues, dos Currais (1850/51), Manuel Martins Cravo (1852/53 e 1858/59), para recordar só os mais antigos, do nosso conhecimento.

Em 1859, Vitoriano da Palma, era o Juiz de Paz, substituto.

Monte de São Martinho. Foto JV, 1993
Nesta zona do nordeste algarvio onde a talisca (xisto) alimenta a esteva e a roselha e a vida foi sempre difícil, nasceram homens que pelas suas qualidades natas venceram os obstáculos que a interioridade e pobreza apresentam. Encontramos assim, entre os seus filhos e de ambos os sexos, licenciados nos mais variados ramos, desde a medicina ao direito e outros que, nas profissões que abraçaram se tornaram dignos profissionais, alcançando posições de chefia e direcção que muito os dignificam e tornando assim o seu “monte”, que alguns (não todos) teimam em não esquecer, terra mais conhecida.


NOTAS

(1)     Cancioneiro Popular Português, coordenação de Maria Arminda Z. Nunes, pág. 76.
(2)     Visitações da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio, Hugo Cavaco, Edição CMVRSA, 1987.
(3)     Arqueologia Romana do Algarve, Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos, 1971.
(4)     Of. Nº 20, de 13 de Janeiro de 1880. in Livro de Registo de Correspondência Expedida
(5)     Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio, José Varzeano, 1985.
(6)     Portugal Antigo e Moderno, 1873/1890
(7)     As Vilas do Norte de Portugal, Edição de 1979, pág.82
(8)     A Terra de Besteiros e o actual concelho de Tondela, Edição de 1981.
(9)     “Subsídios para a Toponímia do concelho de Tondela”, in Jornal Notícias de Viseu, de 3 de Dezembro de 1922.
(10) Of. Nº 87 de 2 de Outubro de 1879, dirigido ao Governador Civil de Faro.
(11) Of. Nº 71, de 17 de Julho de 1874, dirigido ao Governador Civil de Faro.
(12) Of. Nº 115, de 10 de Dezembro de 1879, dirigido ao Governador Civil de Faro.
(13)  Of. Nº 158., de 2 de Julho de 1878 do Administrador do Concelho, dirigido ao Vice-Cônsul de Espanha, em Alcoutim e Of. Nº 97, de 14 de Outubro de 1879, da mesma Entidade e dirigido ao Cônsul Geral de Portugal, em Madrid.
(14)  Of. Nº 86, de 6 de Setembro de 1876, ao Governador Civil de Faro.