quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Quadros da vida rural alcouteneja [3]



Escreve 

M Dias



O NOSSO “AR CONDICIONADO” ERA ANTIALÉRGICO!


 O monte situa-se num vale, ladeado por serranias pouco arborizadas.

Nesse tempo, anos 50/60, os Verões eram em geral muito secos e os Invernos, frios e pouco chuvosos.


Quando chovia, os terrenos magros e xistosos, não retinham a água , o que dava origem as grandes barrancadas e ribeiradas. O sol, forte e implacável aquecia as pedras, que, durante horas se mantinham quentes, tal como as paredes exteriores das casas. Casas caiadas com apenas uma janela (algumas, nem isso) e portas baixas e largas com postigo, que arejava e não deixava entrar tanto calor. Por outro lado, as paredes, de pedra misturada com argamassa de terra, e bastante largas, constituíam uma barreira natural aos excessos de temperatura. A nossa casa, tinha em todos os quartos uma telha de vidro (clarabóia) e nas traseiras, uma pequena janela tipo seteira que provocava uma corrente de ar mais fresco depois do sol se pôr e arrefecia toda a casa. Enquanto se arrefecia a casa, ficávamos sentados nos poiais às portas com os pais e vizinhos. Poiais esses e ruas já baldeadas um bocado antes com água fresca do poço. No inverno, os serões eram à volta do lume (o fogo como lá se diz). Havia sempre um adulto que contava uma estória ou umas “graças” ou ainda os mais preguiçosos tinham de acabar os trabalhos de casa à luz do petróleo. Dessas histórias poderei um dia fazer referência…

A cair de sono, lá íamos para a cama. O meu colchão de carepas de milho com enxergões de palha de centeio por baixo, rasmalhava ao mais pequeno movimento, o que não me impedia de dormir os melhores sonos, em contraste com o meu de latex onde hoje durmo!

Alergias? Urticárias? Não se ouvia falar disso!