sábado, 29 de setembro de 2012

Cama de ferro de "bancos"


Este é o tipo de cama de ferro cujo exemplar é o mais antigo que conheço no concelho de Alcoutim e designa-se por “cama de bancos”.

Confesso que é o único que conheço e é propriedade minha pois adquiri-o na vila de Alcoutim por volta de 1973, tendo-me custado 150$00.

Nunca tinha visto tal modelo e encontrei-o encostado a uma parede. Quando estava a observá-lo, chegou a proprietária que por graça me perguntou se queria comprar pois tinha notado o meu interesse. Perguntei-lhe quanto queria, respondeu-me 150$00 e o negócio ficou fechado.

"Cabeceira"

Bem poucos alcoutenejos de hoje conhecerão este tipo rudimentar de cama de ferro.

Quando fiz a aquisição e já lá vão cerca de quarenta anos, procurei saber junto da anterior proprietária, já falecida há muito, como é que aquelas duas peças funcionavam.

Arrumei-as numa arrecadação e anos depois pintei-as como ainda estão.

Atendendo a que na nossa rubrica de Etnografia tenho abordado, ultimamente, alguns tipos de camas de ferro antigas, este veio-me logo à memória. Só recentemente tive oportunidade de o fotografar para esta publicação.

Para esclarecimento de várias dúvidas contactei a minha informadora habitual, alguém que nasceu e viveu a maior parte da sua vida no concelho de Alcoutim, que já ultrapassou as oito décadas, teve uma vida de pleno contacto com a ruralidade e possui ainda uma excelente memória.

Este género de cama trata-se de uma evolução de uma primitiva cama de bancos, menos elaborada e feita pelo homem comum, por isso, sem ser especialista na arte.

"Pés"
Quando tinha essa necessidade, procurava encontrar, principalmente, em azinheiras ou em qualquer outra árvore de madeira resistente um tronco mais ou menos direito com cerca de 80 / 90 cm que cortava. Com uma enxó ou ferramenta que fizesse o mesmo trabalho, facetáva-o num dos lados, naquele que considerava com melhores condições.

Nos ramos provenientes da limpeza das árvores os seus olhos procuravam encontrar dois ramos robustos, parecidos e que possuíssem uma forca.

Cortava-os de um tamanho semelhante, perfurava a parte oposta à facetada com um trado ou então utilizando um formão, numa das extremidades, de maneira que a parte que não tinha forca pudesse encaixar com alguma profundidade e justeza. No outro extremo procedia da mesma maneira tendo em conta o equilíbrio do suporte, aqui designado por banco.

Pelo modo indicado, construía os dois bancos à mesma altura. Colava-os à distância adequada e sobre eles assentavam paus de comprimento igual e outros da largura dos bancos e em sentido contrário, cruzando-se.

Sobre essa espécie de estrado colocavam um colchão de palha de aveia.

A cama de bancos em ferro é baseada no mesmo princípio, sendo neste caso, os bancos feitos desta matéria e onde já aparece a diferença entre a “cabeceira” mais elaborada e os “pés”.

A forca para equilíbrio dos bancos também existe mas com uma sustentação mais eficiente. De resto, tudo funcionava da mesma maneira.