segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A "recompensa"



A foto apresenta um pequeno barco de pesca cheio de gente fardada, no cais velho de Alcoutim e que se vão dirigir a Sanlúcar do Guadiana, do outro lado do rio.

É uma tendência que sempre conheci em Alcoutim e que também aconteceu comigo; quem lá chega, sem dar por isso, vai inevitavelmente parar junto ao rio, pergunta logo como se chama a povoação que fica em frente e quem desconhece a linha de fronteira indaga se aquilo é o seguimento de Alcoutim.

Quando a ligação em transportes públicos colectivos, que então tinha uma linha diária que servia Beja – Vila Real de Santo António passando pelas vilas de Mértola, Alcoutim e Castro Marim, o acesso era feito pelo único existente, ou seja, a partir do Cruzamento ou Quatro Estradas que constituía o troço 122-1.

Quem não conhecia, ao aproximar-se de Alcoutim e após uma curva, vislumbrava esta vila que nos dava a sensação de afinal não ser tão pequena como diziam e isto porque no horizonte Sanlúcar “pegava-se” a Alcoutim, parecendo tratar-se da mesma povoação.

Acontecia também e antes de 1965 quando de noite se chegava a Alcoutim (o acesso rodoviário era único, como já se disse) as pessoas afirmavam ao aproximar-se: -Disseram-me que Alcoutim não tinha iluminação eléctrica e afinal tem. As luzes que estavam a ver eram de Sanlúcar, mas à distância davam a sensação ser de Alcoutim.

Não há alcoutenejo que não tenha informado os “turistas”devido à sua solicitação que aquela terra é de Espanha e chama-se Sanlúcar do Guadiana. Era natural perguntar-se de seguida se se podia lá ir.

Nessa altura a fronteira estava fachada e era a informação dada, mas as pessoas por vezes ficavam confusas, pois viam chegar gente de Sanlúcar e a mesma lancha levaria outras. Lá se ia explicando que eram casos especiais e autorizados pelas entidades fiscalizadoras dos dois países ou seja, a hoje desaparecida Guarda-Fiscal e a Guarda Civil de Espanha.

As pessoas conhecidas da vila quando queriam ir a Sanlúcar pediam autorização ao comandante da Secção ou a quem as suas vezes fizesse, mas nem sempre era concedida e segundo me diziam existiram comandos que se pudessem, proibiam olhar para Espanha.

A fronteira só abria na altura das festas anuais das povoações, em Alcoutim no mês de Setembro e em Sanlúcar pela Páscoa.

Atendendo a que todas as pessoas demonstravam interesse em conhecer a povoação vizinha, quando aparecia um colega de profissão ou superior hierárquico e mesmo familiar, lá se procurava “meter uma cunha” e obter o “salvo conduto”. De uma maneira geral, vinha a desilusão, já que Sanlúcar terá que ver menos do que Alcoutim. Em alternativa traziam pequenas lembranças, uns chocolates ou alguma garrafa de Pedro Domec .

Umas das tendência naturais dos alcoutenejos, para retribuir amabilidades ou proporcioná-las, era procurar autorização para uma ida àquele lado, como muitas vezes se dizia.

Os fardados, que estão a ser transportados, constituíam uma banda de música que tinha vindo actuar a Alcoutim.