segunda-feira, 14 de maio de 2012

As parteiras (apelidadas de curiosas)

Pequena nota
Apresentamos hoje um interessante texto que um leitor assíduo do AL teve a amabilidade de nos enviar.
A situação foi despoletada pela recente publicação neste espaço de uma relação de enfermeiros e paramédicos naturais deste concelho e continua aberta a quem quiser colaborar.
Era bom que se pudesse organizar uma lista destas CURIOSAS que tantos serviços prestaram aos seus semelhantes o troco do bem servir pois não cobravam nada pelo seu trabalho limitando-se a receber a recompensa que lhes quisessem prestar.
Em tempos antigos era a parteira-curiosa que levava à pia baptismal o neófito e por vezes servia de madrinha.
Temos por enquanto muitos alcoutenejos que nasceram com o auxílio destas pessoas e de uma maneira geral todos sabem o nome da curiosa que os assistiu. Havendo colaboração, não seria difícil organizar para a posteridade uma relação destas pessoas para serem recordadas pelos vindouros com o respeito e admiração que merecem.

JV





Escreve 

António Afonso


 Em tempos idos e de má memória, nesse mundo rural fechado, no meu concelho e não só, o direito à Saúde era apenas uma miragem. É aqui que entra em cena esta Figura -a Parteira, a que eu ouso chamar MAGA -hoje será da mais elementar justiça recordá-la.

Ela punha em prática os seus conhecimentos empíricos transmitidos pelas mães e avós, ajudando as parturientes a dar à luz em ambientes menos próprios. Eram chamadas de noite ou de dia, lá iam elas com o seu xaile de lã (aqui chamado de CARINHOSA), se era Inverno ou de guarda -sol se era verão. Nada pedia em troca!


Chegada ao local tornava-se a Chefe das operações, os homens e as crianças eram mandadas para a rua, refugiavam-se na casa da vizinha, as mulheres e ajudantes andavam num corrupio, com bacias e alguidares, panos que haviam sido corados ao sol e passados a ferro de brasa (embora desconhecessem a palavra esterilização), águas quentes e frias e o milagroso sabão azul para lavar e desinfectar; arregaçava as mãos, lavava-se, benzia-se, por vezes rezava! e ordenava a parturiente a colocar-se na posição ginecológica, agarrar-se aos varões de ferro da cama e fazer força quando surgissem as dores, quando se ouvia o grito dilacerante e o choro da criança - tinha-se dado o supremo milagre, O nascimento! Porém se as coisas corriam mal, era necessário buscar o médico a léguas de distância, por vezes era tarde demais Mesmo quando a parteira não tinha sucesso, jamais alguém a incriminava, tal era o respeito!

Recordo-me que aqui há uns anos, de ir visitar ao Hospital Pulido Valente, um arquitecto, nascido no Pêro Dias, nestas circunstâncias, ele não me conhecia, apresentei-me dizendo-me filho da senhora tal, ao que a namorada respondeu. Sim, é aquela senhora que te ajudou a nascer! Palavras que muito me emocionaram.