sexta-feira, 13 de abril de 2012

As sugestões de Helder Pinho

(PUBLICADO NO DIÁRIO “ A CAPITAL”, LISBOA, 11 DE JULHO DE 1973)

Pequena nota
Trazemos hoje aos Ecos da Imprensa este pequeno texto que retirámos de um artigo mais abrangente de autoria do jornalista Hélder Pinho, falecido aos 55 anos em 2003.
Não tivemos o prazer de o conhecer e que seja do meu conhecimento foi dos poucos jornalistas que se referiram a Alcoutim no antes-25 de Abril com uma opinião ajustada àquilo que se passava por estas terras.
É evidente que existem erros que lhe foram transmitidos por publicações desactualizadas (únicas) que consultou para ajustamento do texto e que hoje são fáceis de detectar.
No nosso trabalho Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), 1985, a p. 21, transcrevemos a descrição, neste” post” a negrito que o mesmo fez, através da sua sensibilidade, da pequena vila do Guadiana.
Pouco antes do seu falecimento viemos a saber por intermédio de um alcoutenejo que Hélder Pinho conhecia e possuía o nosso trabalho, pois mostrou-o a esse alcoutenejo cuja casa de pasto frequentava com assiduidade e que se situava na “outra margem” do Tejo, como é hábito dizerem os lisboetas.
É uma singela homenagem a Hélder Pinho, conhecido por D. Pipas, crítico de gastronomia e apaixonado pela cozinha portuguesa.


JV




Escreve

Hélder Pinho


FEIRAS NA SERRA

As principais povoações dos concelhos limítrofes de Alcoutim (..) têm anualmente a sua grande feira. Assim, há festa e feira em Martim Longo a 17 de Agosto; em Giões a 4 de Agosto; na Vila de Alcoutim de 13 a 15 de Setembro e em Pereiro a 19 do mesmo mês.

MONUMENTOS

Em Alcoutim, de monumental, há as ruínas do castelo que parecem ser de fundação anterior ao domínio árabe. As chaves da fortaleza estão na Câmara Municipal. De admirar ainda o portal renascentista da igreja matriz.

GUADIANA SEM VIDA

O Guadiana é, pode dizer-se, uma potencialidade turística desaproveitada. As suas margens constituem óptimos locais de repouso e tranquilidade, em contraste com o bulício e cosmopolitismo das praias atlânticas. Mas nenhuma unidade hoteleira existe, contudo, rio acima. Alcoutim, sede de comarca não tem sequer uma pensão onde se poderia, por exemplo pernoitar após a subida do rio e almoçar ou jantar no seu castelo se para tal fosse aproveitado e não continuasse condenado à ruína.

[1ª Regata do Guadiana (descida) em 1973]

II Descida Internacional do Guadiana marcada para 2 de Setembro. Os próprios passeios fluviais em funcionamento deixam muito a desejar sob vários pontos de vista. Um deles, a sua desorganização e o próprio preço do bilhete considerado deveras exagerado já que os atractivos são mínimos (sempre a sardinha assada como se o Algarve nada tivesse mais para oferecer e as explicações necessárias, nulas...)

Quanto à pesca desportiva nada se conhece no sentido de se incentivar os amadores. O rio é rico em espécies oleícolas – tainha, robalo, lampreia, linguado, eiró, muge – muito especialmente após o fecho das Minas de S. Domingos ignorando-se, por ora, qualquer sintoma grave de poluição. Pelo contrário ao que se assiste com frequência e à passagem de arrastões, os quais violando as leis ali vão buscar parte da abundante fauna marinha.
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SUBIDA FLUVIAL E DESCIDA POR ESTRADA
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Põe estrada alcançamos Alcoutim, decorridos 44 quilómetros desde Vila Real. Debruçada sobre o Guadiana, tal qual a sua vizinha Sanlúcar, na margem espanhola do rio. A vila é linda na sua simplicidade. Alcoutim, com as suas ruelas e o pequenino porto fluvial, é um local ideal para repouso. Faltam-lhe, porém, infra-estruturas hoteleiras para permitirem ao forasteiro uma estada, gozada na pacatez do seu dia a dia. Caça-se em todo o concelho, nomeadamente nos montes das freguesias de Pereiro, Giões, Vaqueiros ou Martim Longo. Pesca-se no rio e aldeias há onde grande parte dos homens vivem da pesca fluvial: Laranjeiras, Guerreiros, Álamo e Foz.

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