domingo, 19 de fevereiro de 2012

O topónimo Alcoutins


[Retirado com a devida vénia de http://casa.sapo.pt/Terreno-Venda-Lisboa-Lumiar-Quinta dos Alcoutins]

O topónimo Alcoutim não é exclusivo da vila algarvia na margem direita do Guadiana, abrangendo outras povoações de menor importância como acontece nos concelhos de Leiria e Sertã, pelo menos.

Aparece também como apelido ou alcunha.

Em 1605 um Francisco de Alcoutim tinha dois filhos, Tomé de Alcoutim, trabalhador, casado com Joana de Almeida, natural de Évora e Maria de Alcoutim, de cerca de 50 anos, solteira e igualmente natural de Évora, são ambos acusados pelo Tribunal do Santo Ofício Inquisição daquela cidade, de judaísmo. (1)

Em 10 de Dezembro de 1726, o Bacharel Francisco de Faria Alcoutim recebe Carta de Mercê do lugar de Juiz de Fora de Olivença e em 19 de Agosto de 1732 o Alvará de Mercê do Cargo de Provedor da Comarca de Castelo Branco, por Mercês de D. João V.

Todos sabemos que por esse país fora existem famílias Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Beja, Évora, etc. e que se estende também a nomes de pequenas povoações.

Ainda que hoje não tenhamos conhecimento de famílias Alcoutim, a verdade é que elas existiram, estando de uma maneira geral ligadas numa primeira fase às terras onde foram buscar o nome.

Em Évora existia ou existe a Rua de Alcoutim e em Elvas a Rua das Alcoutinas.

Em Lisboa, freguesia do Lumiar, existiu um lugar designado por Alcoutins. A Gazeta de Lisboa de 10 de Setembro de 1832 traz a seguinte notícia: Na Praça Pública dos Leilões se há-de arrematar, com o abatimento da quinta parte do seu valor, o domínio útil de hum prazo que consta de terras no sítios dos Alcoutins, na Freguesia do Lumiar avaliado em 153$340 réis, o seu rendimento em 10$000 réis, paga de foro 1$333: he Escrivão da arrematação Negreiros.

Um Amigo que reside em Lisboa e que passa frequentemente por esta zona, hoje fortemente urbanizada com várias indicações de lazer quando foi no século XIX zona de cultivo, perguntou-nos se eu sabiamos alguma coisa sobre o assunto.

Já conhecíamos o topónimo através do Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Horizonte / Confluência, 1993, I Vol., de José Pedro Machado, mas desconhecíamos a amplitude que alcançou.

Apesar das grandes transformações operadas, o topónimo foi mantido, o que é interessante verificar. Manter os nomes tradicionais é na nossa opinião um dever.

Tal como José Pedro Machado parece-nos que a origem do topónimo estará na fixação de gente originária de Alcoutim e por isso, conhecidos pelos “Alcoutins”, que aqui se teriam dedicado ao amanho da terra, que possivelmente desbravaram.
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NOTA
(1) – ANTT-Tribunal do Santo Ofício – Inquisição de Évora, Procº 2741