segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Monte dos Gagos, um caso semelhante aos montes alentejanos



Foi dos últimos montes que conheci no concelho, o que aconteceu em 2010, pois só recentemente foi activado e teve acesso por veículo automóvel.

Tive conhecimento da existência deste monte por volta de 1970 quando ao consultar vários Anuários Comerciais dos princípios do século passado me apareceu GAGOS como povoação da freguesia de Martim Longo, o que, entretanto, veio a desaparecer em números mais recentes que consultei na altura e que penso, o último ser referente ao ano de 1966.

Julgo que isso aconteceu por ter deixado de ter moradores.

Quando comecei a pesquisar nos registos paroquiais de meados do século XIX do concelho de Alcoutim existentes no Arquivo Distrital de Faro, começo a encontrar movimento neste monte no que respeita a baptismos (nascimentos) e óbitos e mesmo casamentos.

Como exemplo direi que em 18 de Setembro de 1840 nasceu neste monte Mariana, filha de Domingos dos Santos e de Júlia da Conceição, aqui moradores, neta paterna de Joaquim dos Santos e de Joaquina Maria, dos Castelhanos e materna de Manuel Martins e Custódia Martins, dos Gagos.

Como a criança estivesse em riscos de vida, foi baptizada por Ana da Palma daquele monte que veio a ser sua madrinha quando se lavrou o assento na matriz de Martim Longo em 24 daquele mês.

Em 1758 (Memórias Paroquiais) aparece referido como Monte da dos Gagos mas o pároco de Martim Longo que respondeu ao questionário só indicou o número de vizinhos no seu conjunto e segundo os analistas tê-lo-ia feito de maneira incorrecta.

Gago que funciona para definir quem tem defeito na fala, depois de ter sido utilizado como alcunha acabou muitas vezes por ser anexado ao próprio nome tornando-se assim num antropónimo. Possivelmente foi o que aqui aconteceu. O “monte” que parece ter tido sempre a característica de monte alentejano teria pertencido à família dos Gagos e daí a designação.

Quem vem de Alcoutim ao aproximar-se de Martim Longo encontra à direita a indicação de Monte dos Gagos e no lado oposto, ou seja à esquerda, a indicação de Penteadeiros.


A Companhia das Ervas de Martim Longo explorou um terreno nas proximidades deste monte para a plantação de algumas das espécies. (1)

Sei que a sociedade recebeu 700 contos de prémio para apoio da actividade (2) mas que penso hoje já não existir, pelo menos nunca mais li qualquer referência à mesma.

O monte que tem um único fogo, e nem sempre habitado, nele funcionou um restaurante, presentemente fechado.

Tem energia eléctrica e furo artesiano da responsabilidade do proprietário.

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NOTAS
(1) – “Mulheres de Martinlongo cultivam plantas medicinais”, João dos Reis, Correio da Manhã de 12 de Março de 1994, p.12
(2) – “Entrega de Prémios de Jovens Agricultores do Concurso/92”, Correio do Ribatejo de 8 de Março de 1992.