quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Os netos dos 1ºs Condes de Alcoutim

(PUBLICADO NO JORNAL DO BAIXO GUADIANA Nº 75 DE MAIO DE 2005)

À Antónia Maria
pelo interesse manifestado


A criação do condado de Alcoutim teve origem numa carta de D. Manuel I datada de 15 de Novembro de 1496, segundo Anselmo Braamcamp Freire, Vol. III de Brasões da Sala de Sintra.
A outorga do título nobiliário teve por base o casamento de D. Fernando de Meneses, filho do 1º Marquês de Vila Real, com D. Maria Freire de Andrade, filha de João Freire de Andrade, Senhor de Alcoutim.

Depois da curiosidade de “conhecer” os pais, passámos aos filhos (1) e agora aos netos.

Nas procuras que efectuámos obtivemos alguns dados com os quais organizámos este pequeno escrito, ficando aquém do que desejávamos.

Dos filhos que o casal gerou, D. Leonor de Noronha não casou e do casamento de D. Nuno Álvares de Noronha, sepultado em Ceuta de que foi governador, com D. Maria de Noronha (Vila Nova), não houve geração.

Do filho primogénito, D. Pedro de Meneses, nascido em Ceuta ou em Santarém, segundo outros e que foi o 2º Conde e proveniente do casamento com D. Brites (ou Beatriz) de Lara, nasceram quatro filhos, sendo dois varões. Ambos vieram a ser Condes de Alcoutim, D. Miguel de Meneses, o 3º, que sucedeu a seu pai e D. Manuel, seu irmão que lhe sucedeu por falta de filhos provenientes da sua união com D. Filipa de Lencastre.

D. Juliana de Lara veio a casar com D. João de Lencastre, 1º Duque de Aveiro. Este D. João de Lencastre esteve preso por se ter oposto ao casamento do Infante D. Fernando, filho de D. Manuel I, com D. Guiomar Coutinho, pois afirmava que há muito a desposara clandestinamente.


O casamento com D. Juliana, realizado em 1547, foi proposto por D. Manuel I e dele nasceu o 2º Duque, D. Jorge de Lencastre que morreu com D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir.
A outra filha de D. Pedro de Meneses, foi D. Bárbara de Lara que casou por volta de 1555 com D. António de Ataíde, 2º Conde da Castanheira que foi Senhor de Castanheira, Povos e Cheleiros e alcaide - mor de Colares. D. Bárbara, é segundo casamento do Conde, tendo o Conde de Alcoutim, D. Miguel de Meneses vendido a D. António de Ataíde certos bens que constituíram o dote de sua irmã.

De D. João de Noronha, que não casou, proveio D. Antão de Noronha que veio a ser grande guerreiro e navegador, governador de Ormuz e 9º Vice-Rei da Índia (1564-1568). No seu governo, a cidade de Damão sofreu grande ataque que foi repelido com heroicidade e no seu tempo foi tomada Mangalor, tendo-se procedido à sua reconstrução.

Regressando ao reino em 1569, morre na costa de Moçambique.

Tinha casado com D. Inês de Castro (Feira) e de que não houve filhos.

O outro filho de D. João de Noronha, foi André de Noronha que foi prelado. Estudou em Coimbra e doutorou-se em Cânones. Reitor da Universidade de Coimbra, era deão da capela do príncipe D. João, filho de D. João III. É nomeado por Paulo IV, bispo de Portalegre em 1560, funções que exerce até 1581, ano em que Filipe II de Espanha o apresenta em Placência onde vem a morrer em 1586 mas trasladado por disposição testamentária para a Igreja de Sto. António, na cidade de Portalegre onde tinha fundado o convento de S. Francisco.

Do casamento de D. Afonso de Noronha, 5º Vice-Rei da Índia, com D. Maria de Eça, nasceram cinco filhos, a saber:

D. Fernando de Noronha que casou duas vezes, a primeira com Maria de Vilhena e a segunda com Antónia de Mendonça Coutinho, não havendo filhos de qualquer dos consórcios.

Depois de ter servido em África com seu pai, acompanhou-o à Índia. Em 1551 recebeu o comando da esquadra do Estreito, com a qual derrotou o almirante turco Ali Schebuly.
Voltou a África como governador de Ceuta, por apresentação de seu primo, o Marquês de Vila Real. Por vezes é designado por D. Fernando de Meneses.

O segundo filho foi D. Miguel de Noronha que casou com D. Joana de Vilhena.

Esteve com D. Sebastião, de cujo Conselho de Estado fazia parte, na batalha de Alcácer Quibir, comandando um terço, constituído por camponeses que foi destroçado pela artilharia do inimigo, acabando por ficar prisioneiro. Com mais quatro fidalgos é nomeado para ir a Lisboa reunir a elevada quantia do resgate colectivo de oitenta portugueses de linhagem, cativos naquela batalha.

[Casa em Alcoutim que a tradição aponta como tendo sido Condal. Foto JV]

Depois do resgate foi capitão-governador de Ceuta e aposentador-mor de Filipe I.

O terceiro filho foi D. João de Eça que seguiu a vida religiosa, tendo sido cónego em Ceuta. Sempre Ceuta na vida dos Condes de Alcoutim!

D. Jorge de Noronha, que casou com D. Isabel de Mendonça, penso que foi um dos fidalgos que aceitou o suborno de Filipe II de Espanha, tal com seu primo, D. Manuel de Meneses, 5º Marquês de Vila Real e 4º Conde de Alcoutim. Também não tiveram geração.

O último filho do 5º Vice-Rei da Índia foi D. Catarina de Eça que deve ter nascido por volta de 1550, tendo falecido jovem, em Évora, mas já casada com D. Rodrigo de Melo que foi Conde de Tentugal e 2º Marquês de Ferreira. Deste casamento nasceu D. Francisco de Melo que morreu de tenra idade.

O último neto dos primeiros condes de Alcoutim foi Gaspar Velho, filho de D. Maria de Meneses, filha que só agora “encontrámos” e de Álvaro Velho, vindo a casar com Maria Rodrigues de Bermonda.

Eis o que nos foi possível reunir sobre os doze netos de D. Fernando de Meneses e de D. Maria Freire de Andrade, primeiros condes de Alcoutim.

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(1) Foram publicados no Jornal Escrito da AJEA (Associação de Jornalistas e Escritores do Algarve), nºs 64,65 e 66, de Junho, Julho e Agosto de 2004, os seguintes artigos, pela ordem indicada:
Figuras Alcoutenejas – João Freire de Andrade (Senhor de Alcoutim); Figuras Alcoutenejas – D. Maria Freire de Andrade, 1ª Condessa de Alcoutim e Os Filhos NORONHA da 1ª Condessa de Alcoutim.



BIBLIOGRAFIA

Brasões da Sala de Sintra, Anselmo Braamcamp Freire, 2ª Edição, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Publicações Alfa, 1982
História de Portugal, dirigida por José Hermano Saraiva, 2º Vol. Publicações Alfa, 1983
LELLO UNIVERSAL - Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro , Lello & Irmão , Porto, 1975
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Nobreza de Portugal e do Brasil, Edições Zairol Lda, Lisboa, 2000