quinta-feira, 30 de junho de 2011

A nordeste de todas as histórias



Publicado em 1999 e editado pela Câmara Municipal de Alcoutim com o apoio da Associação IN LOCO, é constituído por 71 páginas de 24X16,5 cm e ilustrado por variadíssimos desenhos em consonância com os temas abordados.

É seu autor José Manuel Simão que reuniu 9 histórias que a sua pena retrata com minúcia e o espírito de observação e proximidade não deixou que lhes escapassem.

As 9 histórias têm por título: 1 Serra S.O.S. Cultura, 2 Os Anos da Fome, 3 Guadiana: Memórias do Contrabando, 4 Na Rota do Carvão, 5 O Ciclo do Linho, 6 Monda até Casar, 7 Quando o Entrudo era Entrudo, 8 A Pesca no Guadiana e 9 Uma Batida às Raposas.

Pelo título do trabalho e das histórias pode verificar-se que têm muito a ver com o concelho de Alcoutim.

José Manuel Simão é um alcoutenejo por quem temos muita estima. Penso que ainda preside à Associação ALCANCE.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Coisas alcoutenejas - A oliveira na economia concelhia



Pequena nota
Nesta rubrica do blogue que permite aos mais jovens leitores tomarem conhecimento de artigos publicados na imprensa regional, neste caso há dezassete anos, incluímos hoje este que se mantém de certa maneira actualizado, pelo menos na sua essência histórica.
Pensamos que muitos dos” menos jovens” leitores desconhecem igualmente esta publicação que realizámos num semanário onde então colaborávamos.

JV

(PUBLICADO NO MAGAZINE DO JORNAL DO ALGARVE DE 30 DE ABRIL DE 1994)

O tema que vamos abordar foi-nos sugerido pelo último que fizemos vir a lume e deste tipo talvez venhamos a publicar mais algum.

No nosso trabalho já aqui várias vezes indicado, a ele nos referimos quando falámos da agricultura, das saboarias e da oleicultura. Pensamos que na altura escrevemos o principal da tríade oliveira, azeitona e azeite.

Oito anos passados sobre aquele trabalho, além de uma ou outra pequena transformação operada, adquirimos mais conhecimentos documentais, aperfeiçoámos os orais, efectuando ao mesmo tempo uma observação mais incidente sobre o assunto.

***

A oliveira, originária da Ásia Menor, propagou-se por toda a zona mediterrânica. Em Portugal deverá ser anterior ao domínio romano, povo que nos deixou o seu nome.

Existe do norte a sul do país, não gostando contudo das nortadas agrestes nem dos ventos do mar.

O seu cultivo desenvolveu-se na época muçulmana, povo que nos deixou o nome do produto da sua maceração, o azeite, que guardava em potes e talhas de barro, tal como a azeitona, pratica que chegou aos nossos dias.

A oliveira era considerada na Antiguidade como um símbolo de sabedoria, de Paz, de abundância e de glória.

***

Os olivais, no Algarve, não se prantam de estaca … porque não prendem por causa da terra ser seca; mas logo a natureza proveu de tantos zambujeiros que, nacendo nas próprias fazendas e pelos montes, convidam os homens a lhe fazer benfeitoria; nem se sente nisto falta algua, informa-nos o sempre consultado Frei João de S. José. (1)

No século XVI a enxertia dos zambujeiros continuava, A sua forte raiz originava bons olivais com apreciável produção.

Na freguesia de Vaqueiros aproveitavam os zambujeiros, arrancando alguns melhores que enxertavam, transportando-os depois para cercados que fazem nalguns pedaços menos fragosos, a fim de os livrar dos estragos do gado (2) que era abundante.

Ainda hoje se pode verificar esta prática por todo o concelho, que só não é mais utilizada pelo abandono da terra e consequente falta de braços.

De todo o concelho, é a freguesia de Alcoutim a que possui mais oliveiras, existindo alguns pequenos olivais, Já Silva Lopes dá notícia de um excelente olival na várzea do Pontal. É nas várzeas do Guadiana que existe um maior número de oliveiras, principalmente nos sítios designados por Premedeiros, Lourinhã, Abrigo, Vale de Condes, Vinagre e Grandaça.

[Oliveiras numa horta. Foto JV]

As margens das ribeiras e dos barrancos são outros dos locais onde se desenvolvem, ainda que em menor número.

Chegam a aparecer no cimo dos serros, onde apanham algum “veio de barro”, mas naturalmente o porte é pequeno. É nas várzeas do rio que atingem maior volume, havendo exemplares de porte avantajado.

A Corografia Portuguesa, do Padre Carvalho Costa (1712) refere que Martim Longo recolhe algum azeite. Já em 1639, Rodrigo Mendes Silva, aponta Alcoutim como uma zona de produção de azeite, acompanhada no Algarve por Loulé, Tavira e Faro.

Em 1888 o Presidente da Câmara informa o Agrónomo Chefe da 9ª Região Agrária, com sede em Loulé, que “neste concelho até à presente data não tem aparecido nas oliveiras moléstia alguma. (3)

[Olival na Lourinhã. Foto JV, 2011]

Várias castas existem na zona, sendo a mais vulgar o maçanilha branco. Verdeal, cordovil e galega são outras das existentes.

A primeira azeitona a apanhar é vendida para conserva e os compradores aparecem em princípios de Outubro. Nos primeiros dias de Novembro, apanha-se para britar, retalhar, para água e só depois para o sal e azeite.

O varejo faz-se com canas. É tradição local que as oliveiras molhadas, quando varejadas, deixam de dar frutos por largos anos!

No chão colocam-se panos para facilitar o apanho. Só se utiliza o varejo nas azeitonas destinadas ao fabrico do azeite.

O transporte das pequenas sacas de linhagem fazia-se e ainda se faz em muitas casas, ao dorso de asininos que já começam a rarear no nordeste algarvio, onde existiram em grande número, como o maior auxiliar do homem do campo.
A produção de azeite é sempre referida quando é necessário informar o que o concelho produz.

Para demonstrar o interesse que a oliveira tem para os alcoutinenses, bastará dizer que existem destas árvores em terrenos de outros, o que nunca encontrei em qualquer outra parte. Isto acontecia porque em partilhas as oliveiras eram criteriosamente divididas.

Por vezes as terras iam passando de mão em mão, mantendo-se as árvores na posse de outros. Algumas vinham de herança que já não era possível determinar.

A azeitona, para o alcoutenejo, desempenha um papel importante na alimentação.

Utiliza-a como acompanhante nas refeições, de quatro maneiras:- britadas, retalhadas, de sal e de água.

As britadas são pisadas com uma pedra (quem tem, pisa com um maço de madeira) de maneira que o caroço não se parta. Deitadas em água, adoçam com a mudança frequente da mesma principalmente se for quente. Depois, temperam-nas com orégãos ou erva-das-azeitonas, casca de laranja, alho esmagado sem se lhe tirar a pele e sal. Com as retalhadas que, como o próprio nome indica, são golpeadas, procede-se da mesma maneira e pelo que sabemos, assim se passa noutras zonas do país.


[Azeitona maçanilha. Foto JV, 2010]

As azeitonas de sal são algo sui generis destas zonas, pelo menos não o encontrei em qualquer outra parte do país e quando pergunto aos meus amigos e conhecidos de outras zonas, nunca encontrei ninguém que conhecesse este sistema de conservá-las.

Escolhendo as azeitonas já roxas e mais gradas, vão se colocando às camadas num cesto de cana ou num cortiço, polvilhando-as convenientemente de sal. Quando se utiliza o cesto, é hábito colocar no fundo uma folha de couve. A acção do sal vai fazendo mirrar a azeitona que começa a engelhar e o líquido vai escorrendo. Quinze a vinte dias depois podem-se começar a comer. Retiram-se do recipiente, passam-se por água bem quente para tirar o sal e ao mesmo tempo, incham. Depois são passadas por um fio de azeite e ficam prontas a servir. É curioso que sendo conservadas em sal, acabam por não ser salgadas. Constituem um aperitivo bastante agradável que os alcoutinenses ainda não souberam aproveitar convenientemente, no aspecto gastronómico.

[Azeitonas britadas]
Restam as azeitonas de água que o alcoutenejo conserva em potes ou talhas de barro, como os árabes que por aqui passaram, já faziam. Ultimamente os potes de barro começaram a ser substituídos por vasilhas plásticas, mais duráveis, de limpeza e transporte mais fáceis e que não ganham mau gosto, nem “salitram”, como acontece com o barro. Ainda por cima, são muito mais baratos!
[Azeitonas de sal]
Para calcular a quantidade de sal que a água deve levar, coloca-se nela um ovo que à medida que a salinidade aumenta, vai subindo na água até atingir a superfície, altura em que a salmoura fica em condições. Depois, é deitar na água as azeitonas escolhidas entre as maiores e mais sãs. Duram de ano a ano e sempre em boas condições.

A maçanilha é a melhor para conserva.

É tradição que antigamente as azeitonas se adoçavam no rio. Metidas em sacos que se prendiam à margem, às quatro marés ficavam boas!

***

Como dissemos no escrito anterior, os alcoutenejos faziam o azeite e o vinho nas “queijeiras” que descrevemos como pudemos e apresentámos dois modelos.

Agora, acrescentamos as alfaias:- Um pequeno vaso de barro, um pilão. Uma saca, uma caldeira de bom tamanho para aquecer a água e duas panelas para cozer o azeite.

Esta prática ainda a encontrei a espaços, nos fins da década de sessenta dos nossos dias.

[Velha oliveira no "rossio" da Vila. Foto JV, 2011]

O primeiro lagar que apareceu nas redondezas, foi um de varas nos Balurcos e por volta dos anos cinquenta, industrializado, outro junto da vila e ainda funciona. Dizem-me que entretanto instalaram outro nos “montes do rio”.

Na época própria, aparecem compradores de azeitona, ou a troca, que colocam em lagares, alguns distantes, Por vezes, arranjam comissionistas nos “montes”.

Em 1989 as oliveiras, sem excepção, carregaram de azeitona de uma maneira que não há memória entre os anciãos locais. Ninguém se lembrava de tal! Mesmo as oliveiras há muito abandonadas e onde o bravo domina, deram frutos!

A azeitona era tanta que não havia braços suficientes para a apanhar. Entretanto, começou a chover, a azeitona já madura caiu e foram os javalis e o gado que a aproveitaram.

A madeira, depois de seca, aproveita-se para fazer cadeiras, principalmente as travessas, já que a sua rijeza é imprescindível nessa utilização.

É preciso não esquecer que as saboarias pretas de Alcoutim estavam na mão de Lancerote de Franca, almirante das galés de D. Fernando, (4) passando em 1385 por deliberação de D. João I para Afonso de Franca, filho do primeiro contemplado. (5)

No fabrico de sabão, como se sabe, uma das matérias primas é o azeite e as suas borras.

Zambujeiro deu origem a dois topónimos no concelho – Fonte Zambujo, na freguesia do Pereiro e Zambujal, na de Vaqueiros.

Para terminar, indicamos a prova “provada” da importância que a oliveira representa para o concelho:- o brasão da vila comporta “ramos de oliveira frutados de sua cor”.

O destaque heráldico da oliveira, como fruto, é significativo no contexto económico do concelho.


NOTAS
(1) “Duas descrições do Algarve no século XVI” – Cadernos da Revista de História Económica e Social, Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero Magalhães, Livraria Sé da Costa Editora, 1983.
(2) Corografia do Reino do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841.
(3) Ofício nº 32, de 19 de Março de 1888.
(4) História de Portugal, Vol. I, Joaquim Veríssimo Serrão, 1977, pág. 358.
(5) Dicionário de História de Portugal, Joel Serrão (Dir. de)

terça-feira, 28 de junho de 2011

A freguesia de Giões e a criação de gado em 1771


[Vista parcial da aldeia de Giões. Foto JV, 2010]

Aproveitando a recolha de dados que fizemos para abordar a criação de gado bovino no concelho de Alcoutim, vamos hoje particularizar o que então acontecia na freguesia de Giões, a mais pequena em área do concelho.

Ao número de bovídeos que tínhamos fornecido no artigo que já referimos, vamos acrescentar o de ovinos, caprinos e porcinos, alguns dos seus proprietários e a sua distribuição pela freguesia.

Manifestadas existiam 3 790 cabeças, sendo 1315 ovelhas, (inclui borregos) 362 cabras (inclui chibatos), 91 bovinos e apenas 22 porcos.

A nível de reses que eram fundamentalmente animais de trabalho, o maior número, 20 encontrava-se no monte de Clarines que tinha um peso importante na freguesia. Seguidamente com 15 vem a aldeia e apenas com menos um, 14, Alcaria Alta. Farelos apresenta 12, Velhas 10, Marim 9 e o desaparecido Viçoso com 5.

A nível de gado lanígero, a aldeia tem a grande distância o maior número (940) com uma percentagem de 52,5% da totalidade.

Este número indica-nos como na altura já devia ser importante em Giões a tecelagem com o predomínio da lã e que chegou até meados do século passado.

Seguem-se com o mesmo número de cabeças (1000) Alcaria Alta e Velhas. Mais do que Clarines e Marim possuía 71 ovinos o desaparecido Monte do Viçoso.

A nível de caprinos, a aldeia tem igualmente supremacia (207) e com uma percentagem superior ao ovino, pois cifra-se em 57%.

Reparar que os Farelos só manifestou reses o que não nos deixa de causar alguma admiração.

Os porcos manifestados são muito poucos (22), cabendo 15 a Alcaria Alta e os restantes a Marim. Não seriam registados os que estavam em regime estabular?

Os maiores manifestantes são dois capitães de ordenanças, certamente da mesma família, moradores na aldeia: João Gomes Delgado e Domingos Gomes Delgado. (1) Enquanto o primeiro manifestou 4 reses, 420 ovinos e 40 cabras, o segundo 200 ovinos e 20 caprinos. Há ainda outro capitão que faz o seu manifesto, Rafael da Palma Pereira, de Clarines com 5 reses, 25 ovelhas e seis cabras.

Os manifestantes do Viçoso foram João da Palma e António Madeira. O monte ainda sobreviveu cerca de duzentos anos.


Nota
(1) - Casou com D. Rita J. de Barros, da Goldra, freguesia de S. Clemente, concelho de Loulé, filha de João Baptista de Barros e esposa, D. Josefina Maria Guerreiro. Foram tios do Doutor João Baptista de Barros, lente de medicina em Coimbra. (Monografia do concelho de Loulé, Ataíde de Oliveira, 1905, Edição de Algarve em Foco, 1986, p. 274).
Foi familiar do Santo Ofício.

A família Gomes Delgado, que se fixou pelas freguesias de Giões de onde penso ser a sua origem e Martim Longo, era das de maior poder económico e consequentemente político no concelho de Alcoutim, tendo alguns dos seus elementos desempenhado as funções de Presidentes da Câmara e Administradores do concelho.

Igualmente existiu uma família Barros no concelho de Alcoutim com alguma importância na área eclesiástica e educacional. Não sabemos se tem relação com esta família mas é possível que sim.

O cruzamento sanguíneo entre famílias de Alcoutim e de Loulé perde-se no recuar dos tempos chegando praticamente aos nossos dias. Se louletanos se fixaram em Alcoutim, houve igualmente alcoutenejos que se fixaram em Loulé.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Juventude feminina alcouteneja (1965)



12 de Junho de 1965 é a data em que foi tirada esta fotografia pois é aquela que marca a inauguração do saneamento básico na vila de Alcoutim! Segundo afirmam foi a última sede do concelho no país a receber tal benefício.

As nove jovens beldades e seriam todas as existentes na vila esperavam com ansiedade o Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, prestes a chegar no “Aviso” João de Lisboa.

Estavam ali com as forças vivas da terra para ver e saudar o mais alto Magistrado da Nação.

Como são decorridos 46 anos, as jovens de então continuam jovens mas com netos.

Não tenho conhecimento que até àquela altura outro Presidente da República tivesse visitado oficialmente a pequena vila na margem do Guadiana.

É mais uma fotografia cedida pelo nosso amigo e colaborador Amílcar Felício e que acaba por fazer parte do património alcoutenejo.

Das nove jovens, identifico 7 e duas com alguma reserva. Se estiver correcto, só uma lá continua vivendo e as outras não se deixaram levar pelo slogan publicitário de que “em Alcoutim é que se vive bem”, independentemente do amor e interesse que continuam a dedicar à sua terra.

domingo, 26 de junho de 2011

A criação de gado bovino

[Pastando junto a Afonso Vicente. Foto JV, 2010]

A sub-raça mertolenga, que alguns entendidos opinavam que deveria chamar-se alcouteneja, por ser daqui a sua raiz (1), era naturalmente a mais abundante.

Acompanhou o algarvio da serra no desbravamento do Alentejo e daí se ter dado a modificação do nome.

São animais de pequena corporatura, vermelho malhados ou salgados e são muito apreciados pelas qualidades que possuem para os serviços agrícolas.

Como animais de tracção na charrua ou no arado são óptimos, pois têm além da rijeza da unha, docilidade, poder muscular e vigor para aguentar as fadigas que lhes são exigidas no amanho das magras terras da serra. (2)

De escassa produção leiteira, mas de carne de boa qualidade, eram e são procurados para enquadrar e conduzir os touros nas pastagens e nas praças tauromáquicas, sendo conhecidos por cabrestos.

Realizámos um pequeno estudo sobre os bovinos existentes em Alcoutim em 1771, ainda que ao tombo (3) lhe faltem algumas páginas, dá-nos uma perspectiva muito próxima da realidade e sugere-nos algumas considerações que efectuaremos.

Encontrámos manifestados 652 bovídeos que pertenciam a 147 pessoas, das quais 70 só manifestaram esta espécie, enquanto os restantes possuíam gado caprino, ovino ou porcino.

Só a primeira declaração possui a separação entre bois, vacas e bezerros, todas as outras registam os bovídeos como reses, termo que significa qualquer quadrúpede que serve para alimentação do homem.

Nesta altura o concelho de Alcoutim possuía mais a freguesia de Cachopo, hoje de Tavira, possuindo povoações que pertencendo a outras freguesias faziam parte do termo de Alcoutim, o mesmo acontecendo em sentido contrário já que os designados “montes do Rio” pertenciam à freguesia de Alcoutim mas ao termo de Castro Marim e os que pertenciam à freguesia de Vaqueiros e estavam para lá da Ribeira de Odeleite ao de Tavira.

Fizemos os cálculos e verificámos os seguintes resultados, tomando em consideração as freguesias: Alcoutim 180 exemplares, Pereiro (107), Martim Longo (96), Giões (91), Cachopo (56), Vaqueiros (55) e do Termo (alguns montes de Odeleite e Ameixial) (67).

Verificámos também que a média por possuidor é de 4,43, havendo um único manifesto com 2 exemplares e um máximo de 9. De uma maneira geral os manifestos andavam à volta de 4 / 5.

Os números indicam-nos que a parte serrana tinha uma existência muito menor pois encontrava-se ainda numa fase de desbravamento, pelo menos é o que os números apresentados sugerem.

Pensamos que as reses existentes seriam da raça mertolenga e destinadas principalmente ao amanho das terras pelas características que possuem.

Muitíssimo mais tarde, nos fins do século XIX, aparecem os bovinos de raça turina, trazidos talvez da região ribatejana, destinados à produção de leite, não se utilizando por regra nos trabalhos agrícolas. (4)

A existência de cercas explica-se porque vacas, ovelhas, cabras e porcos andavam soltos. (5)

Agora, alguns acontecimentos que respigámos nos arquivos locais e têm um sentido histórico.


[O Sr. Júlio das Cortes Pereiras, apesar da sua avançada idade continua a fazer o que sempre fez, a criar "reses"]
Em 1874 o Administrador do Concelho informa que no concelho não tem grassado moléstia alguma epidémica em qualquer das espécies de gado, tendo contudo morrido três reses no monte da Palmeira e quatro no das Cortes Pereiras por haverem bebido nos pegos onde se alaga linho e adoçam tremoços por descuido dos rapazes que os guardavam. (6)


Já em 1875, na freguesia de Vaqueiros, mais propriamente nos montes das Preguiças e da Casa do Galego, havia uma epidemia no gado vacum que já tinha dado origem à morte de seis cabeças, havendo mais doentes. Os animais deixam de comer, ficam de pêlo arrepiado, tremem e não obram. (7)

Anos depois, 1885, na mesma freguesia grassa novamente uma moléstia semelhante, já que os animais apresentam sintomas muito parecidos.

Os moradores instam junto do Administrador do Concelho no sentido do Intendente da Pecuária do Distrito de Faro aqui se deslocar ou indicar o que deviam fazer para combater tal mal que tantos prejuízos estavam causando.(8)

Anos depois vamos encontrar novamente problemas de enfermidade no gado bovino doença que apresenta os seguintes sintomas: apresentam-se tristes, pêlo eriçado, coxos das quatro patas, criando entre as unhas um ninho de vermes, uma bolha na língua deitando muita baba, passados 3 ou 4 dias rebenta outra deitando muito pus mas por enquanto não tem havido casos de morte. Pediam-se providências. (9)

Os animais transaccionavam-se nas grandes feiras do Baixo-Alentejo, tendo grande fama a Feira de Garvão, Castro Verde, Aljustrel, etc.

Em 1891 o Administrador do Concelho, Manuel José da Trindade e Lima, encarregou um residente em Afonso Vicente (Alcoutim) de ir vender o seu gado, constituído por 4 bois e 4 vacas afilhadas à Feira de Aljustrel, o que não conseguiu fazer segundo afirmou, deixando-o a cargo de um António Jacinto.

Trindade e Lima acabou por mandar outro homem da Corte Tabelião receber o gado, pagando o que fosse devido, seguindo com ele para a Feira de Almodôvar, que era a mais próxima. (10)

Em 1929 é aprovada uma alteração ao Código das Posturas no sentido de evitar que os animais fossem tratados com crueldade, obrigados a conduzir pesos excessivos e que andassem demasiadamente magros e feridos.

Uso tradicional era dar “vacas de meias”, o que significava que um comprava, o outro criava e o produto da venda das crias (ou mães) era dividido ao meio.

Em 1971 estavam registados no concelho 346 bovinos.

Não podemos precisar, mas serão bem poucos presentemente no concelho a manter tal actividade.

NOTAS
(1) – “Pequenos Apontamentos – Gados”, Trindade e Lima, O Povo Algarvio, Tavira, de 18 de Maio de 1974.
(2) – “ O Algarve sob o ponto de vista pecuário”, Eduardo Gomes Calado, Boletim da Junta de Província do Algarve, 1940
(3) – Manifeztoz e Arolam toz da Camera doz gadoz. Contém 180 pp faltando-lhe as 60 iniciais em que poderão estar incluídos manifestos de ano anterior. Tudo indica e como é norma existir um prazo para o cumprimento da obrigação, parece-me que estas páginas se não terão tudo terão a grande parte dos manifestos que no hipotético fim do prazo são mais numerosos e de montes mais distantes.
(4) –“ O Algarve sob o ponto de vista pecuário”, Eduardo Gomes Calado, Boletim da Junta de Província do Algarve, 1940
(5) – O Algarve Económico – 1600-1777, Joaquim Romero Magalhães, p.139.
(6) – Of. Nº 94 de 21 de Setembro de 1874.
(7) – Of. Nº 40 de 11 de Outubro de 1875.
(8) – Of. Nº 99 de 14 de Agosto de 1885.
(9) – Of. Nº 94 de 27 de Julho de 1893 ao Intendente da 9º Região Pecuária do Distrito de Faro.
(10) – Of. Nºs 95 e 97 de 9 e 15 de Julho de 1891 para o Administrador do concelho de Aljustrel.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Martim Longo, montes indicados nas Memórias Paroquiais (1758) e que não identifico



[Monte dos Gagos, também indicado nas Memórias mas este plenamente identificável. Foto JV, 2009]


Já escrevi neste espaço sobre alguns montes desaparecidos ou abandonados no concelho de Alcoutim e lembro-me de o ter feito em relação às freguesias de Alcoutim, Pereiro e Giões. Quanto às de Martim Longo e Vaqueiros necessitava de mais informação que ainda não consegui obter o que pretendia fazer junto das pessoas mais idosas. Podem desconhecer que nesses sítios houve habitações mas de uma maneira geral o nome rústico acabou por ficar e manter-se para identificação da propriedade rústica.

Estes topónimos foram obtidos nas respostas dadas pelos párocos aos questionários, conhecido por Memórias Paroquiais (1758).

Em relação à freguesia de Martim Longo encontrei os seguintes topónimos que não sei identificar: Monte de João d`Álvares, Monte da Fonte Santa, Monte da Rosa ou da Zorra, Monte da Amendoeira, Monte do Residouro, Monte do Azinhalinho (é indicado também o monte do Azinhal) e o que presumo ser Monte das Línguas (?) e Monte da Vila (?). É-me difícil ler estes dois topónimos.

Penso que para os naturais da freguesia alguns destes nomes serão do seu conhecimento, principalmente se são originários de alguns dos actuais montes que lhes estejam mais próximos.

Aproveito a oportunidade para lançar um apelo a visitantes / leitores que tenham conhecimento destes montes desaparecidos (?), qualquer informação (http://jose.varzeano@gmail.com), para que numa possível visita à freguesia possa ter um ponto de referência.

Aos genealogistas do concelho e sei que os há com alguma elevação, faço a mesma proposta, já que de uma maneira geral nos assentos de baptismo e de óbito aparece a indicação toponímica.

Ainda em recente pesquisa verifiquei que em 1838, no monte da Minhova, freguesia de Giões, faleceu gente. Os jovens de hoje sabem onde é ou foi o monte da Minhova?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A palanca


Utilizo este termo porque foi com ele que conheci o utensílio relativamente vulgar no concelho de Alcoutim.
Quando o ouvi pronunciar fiquei admirado, já que eu só o conhecia por alavanca. Respondiam sempre que conheciam o termo alavanca mas aqui é uso chamarem-lhe palanca.

Só mais tarde e quando me debrucei sobre o assunto, compreendi a razão para que tal acontecesse. É que palanca vem do castelhano palanca, por sua vez do latim
Palangae. Mais um dos muitos termos que os alcoutenejos foram buscar aos vizinhos espanhóis, como já tenho referido várias vezes.

Se alguns dos nossos dicionários trazem o termo como sinónimo de alavanca, nos quais se inclui o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – Encyclopaedia Britannica do Brasil, 5ª Edição, 1981, outros ignoram-no com este sentido, como por exemplo o Dicionário Prático Ilustrado” Lello” (dir. de Jaime de Séguier, 1972.

Palanca (ou alavanca) é uma barra inflexível que se usa para mover ou levantar corpos pesados e igualmente para abrir buracos de dimensões variáveis conforme a necessidade. Sabendo que em Alcoutim abunda o xisto melhor se compreende a sua utilização, ainda que hoje a maquinaria faça todas estas coisas.

A barra de ferro tem numa das extremidades um bico facetado e na outra uma espécie de pá que se utiliza em diversas situações com mais eficiência do que o bico.

É fácil de ajuizar a sua grande utilidade.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Várzea, pequeno monte da freguesia de Vaqueiros mas ainda activo



A notícia mais antiga que possuímos desta pequena povoação é a que nos fornece as Memórias Paroquiais de 1758 em que nos é apresentada como Vargem, uma das variantes de Várzea que ainda pode ser ouvida pelos mais idosos habitantes do concelho, tal como Varja. Estas duas variantes existem na nossa toponímia ainda que Várzea seja muitíssimo mais usada como topónimo, existindo no país mais de cento e cinquenta e trinta no plural.

Várzea é uma campina cultivada, chã, planície, palavra de cunho inconfundível pré-romano. As várzeas situam-se normalmente nas proximidades de cursos de água e é o que aqui acontece, ainda que esta povoação se situe numa pequena elevação, até para fugir a inundações. Os habitantes desenvolviam a sua actividade na várzea da Ribeira de Odeleite que lhe passa junto, tornando os terrenos muito mais produtivos devido a serem de aluvião.

Em 1758, segundo as já referidas Memórias Paroquiais, tinha três vizinhos ou seja três fogos habitados.

Quando em 1984/85 se fez um estudo para a instalação de uma Central Fotovoltaica, o que veio a acontecer no Vale da Rosa, esta povoação foi uma das equacionadas para a sua execução e segundo o inquérito feito tinha 38 habitantes, em nove fogos, havendo quatro emigrantes. Ficava a 5 km da estrada municipal. Tinha poço com bomba elevatória a 300 metros e existia escola primária. Os moradores tinham nove rádios.

Hoje, (2011) segundo informação recolhida tem 18 habitantes.

Tem energia eléctrica e depois da distribuição de água por fontanários a mesma foi levada aos domicílios em 2006. (1)

O telefone fixo chegou em 1985. (2)

Em 1999 foi construído um pontão com a colaboração de Junta de Freguesia. (3)

[Outro aspecto da povoação. Foto JV]

O grande benefício chegou com a estrada municipal nº 508 e consequente ponte sobre a Ribeira de Odeleite, que era um obstáculo a transpor principalmente no Inverno. Os montes da zona deixaram de ficar isolados como era habitual.

A Várzea é alcançada através de um pequeno desvio desta estrada.

Em 1992 procedeu-se à pavimentação dos seus arruamentos (4) e em 1999 foi instalado um painel com sete caixas de correio, (5)

A escola foi construída em 1964/65 e ainda é referida no Diário da República nº 38 de 14 de Fevereiro de 1985 (IIª Série).

Foi reaberta em 1992 devido à existência de número suficiente de alunos para o efeito, mas acabou por fechar pouco tempo depois.

A Câmara Municipal e a Junta de Freguesia, numa acção conjugada, prepararam-na em tempo record para receber alunos e professor. A Junta de Freguesia não esqueceu a instalação de um parque infantil no recinto da mesma. (6)

Pensamos que o edifício está entregue a uma associação local de caçadores.

É conhecida a produção hortícola que vai abastecendo as povoações do concelho, além de abastecer vendedores dos mercados de Estói e Vila Real de Santo António. Sobre este aspecto constitui uma excepção no concelho de Alcoutim.

Ultimamente os seus habitantes têm-se reunido uma vez por ano num pequeno convívio recebendo para o efeito o auxílio da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia.

Situa-se a 15 km da sede de Freguesia, Vaqueiros e a 36 da vila de Alcoutim, concelho a que pertence.

Notas
(1) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 13 de Dezembro de 2006, p. 14.
(2) – Jornal do Algarve de 30 de Maio de 1985.
(3) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 7 de Março de 2000, p.11.
(4) – Boletim Municipal nº 10, de Abril de 1992, p. 5
(5) – Alcoutim, Revista Municipal nº 6 de Janeiro de 1999, p. 11
(6) – Boletim Municipal nº 11, de Setembro de 1992.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Açorda


O substantivo feminino açorda deriva do árabe ath-thurdâ, significando para alentejanos e algarvios sopa feita de caldo de bacalhau, de outro peixe... ou água fervida que embebe fatias de pão temperadas com azeite, alho, poejo e coentros.Não há açorda sem pão migado, fervido, esmagado, azeite e alho, que tem por base muitos gostos principalmente ligados aos produtos do mar, mas a açorda que pretendemos referir é aquela que é atribuída a alentejanos e algarvios, como acima se diz.

Ainda hoje é um prato muito usado em todo o concelho de Alcoutim, principalmente no Inverno por ser quente.

Por aquilo que nos tem sido dado observar, a açorda em Alcoutim raramente é feita na água de bacalhau ou de qualquer outro peixe e isso tem a ver com velhos hábitos, pela dificuldade da chegada do peixe e também por uma questão económica, pois o dinheiro não abunda para esse “luxo”.

Alhos, sal, coentros e poejos ou mesmo pimentos são os condimentos deste simples prato. É tudo pisado em conjunto, entenda-se que entre coentros, poejos ou pimentos, escolhe-se apenas um.

O pão de tipo caseiro e preferencialmente duro corta-se em pequenas fatias (no Alentejo é normalmente aos cubos). Põe-se previamente água a ferver, suficiente para poder ensopar o pão e escalfar os ovos necessários, um ou dois por pessoa.

No recipiente , tigela alta ou pelangana, deita-se o que se tem macerado e depois a água com os ovos. Tempera-se de azeite. Finalmente a pouco e pouco deitam-se as sopas de pão que embebem parte do caldo.

O alcoutenejo costuma acompanhar com peixe, de preferência assado.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A opinião manifestada por visitantes / leitores



Pequena nota

É também hábito nesta altura referir a opinião manifestada por alguns dos visitantes / leitores que tiveram a amabilidade de nos enviar electronicamente as suas opiniões durante o último ano. Pensamos que não nos falhou nenhuma.

Não passam de opiniões que naturalmente agradecemos e que acabam por ser importantes para a continuação do nosso trabalho.

A todos o nosso agradecimento incluindo os três leitores que nos apresentaram erros de identificação em três fotografias e se não fosse a sua observação e a chamada de atenção,, possivelmente continuariam na mesma.

Duas das fotografias são da nossa autoria e foram por nós mal legendadas. Já são uns milhares e a legendagem não é feita quando a foto é tirada, por vezes só se realiza meses depois e com base na memória que já vem apresentando as suas falhas.

A outra fotografia não é da nossa autoria, foi retirada de alguma publicação, pela falta que tínhamos nessa área. Ou a retirámos mal e cometemos o erro ou então ele já existia. Apesar da procura efectuada, ainda não a conseguimos encontrar.

Os três erros apontados já foram corrigidos, os dois primeiros de imediato e o terceiro mais tarde, pois tivemos necessidade de obter a fotografia de substituição.

Mais uma vez e a todos o nosso agradecimento. Temos o seu aval para continuar.


JV




CORRESPONDÊNCIA ELECTRÓNICA

(…) quero felicitá-lo e dar-lhe os parabéns pelo excelente trabalho e tempo que tem dedicado ao meu concelho, graças a pessoas como o senhor, outras pessoas irão conhecendo um concelho pobre mas de ricas pessoas.
Eu sou (…), minha filha que se encontra na (…), tb admira muito o seu trabalho que é de louvar.
(…)
Quero desejar tudo de bom para o senhor e seus colaboradores, para que continuem com o vosso precioso trabalho.
(…)
A M


Parabéns ao “Pai” pelo 2º Aniversário do “Filhote” que cada vez está mais um latagão de que se pode legitimamente orgulharem.
A F


Felicito-o pelos dois anos de profícuo trabalho no Alcoutim Livre.
Não será fácil, quando a matéria a tratar se reporta a uma pequena terra, manter uma produção constante e de manifesta qualidade. Suponho que só o grande amor pelo objecto do estudo e pela busca do saber e da verdade pode sustentar um trabalho tão pertinaz e consistente.
Da minha parte, como alcoutenejo [e por quanto tempo mais haverá alcoutenejos?], agradeço-lhe e faço votos para que possamos continuar a usufruir da sua lição (e dos demais colaboradores do AL).
AM


Venho por este meio agradecer toda a informação colocada no seu Blog “Alcoutim livre”.

A minha avó vivia na casa ao lado (…) e é com muita saudade que leio as histórias do “Monte da minha Avó”.

Vou mostrar à minha mãe, que vai adorar de certeza.
C G


É com muito apresso que a si me dirijo para o felicitar pela autoria do blogue Alcoutim Livre. Nasci em Lisboa (...) mas tenho as minhas raízes nessas terras alcoutenejas. Os meus avós paternos e avó materna de (…) e o meu avô materno da (…). Desde sempre que para aí fui passar férias e lembro-me, que quando adolescente detestava ir para o meio do nada, como eu dizia. Mas, à medida que os anos foram passando, cada vez fui valorizando mais essas terras e essas gentes, e hoje, (…) volto ciclicamente à casa que era dos meus avós e agora é nossa. Quando estou em Lisboa continuo a recordar os cheiros, as cores, os sabores e as gentes dessa terra maravilhosa. Confesso... é nessa calma que melhor consigo retemperar o corpo e a mente, o mesmo acontecendo com o meu marido, que de Algarve, só conhecia o litoral (…)
Foi por tudo isto que fiquei feliz ao encontrar este blogue. Ao ler os seus posts revivi muito do que os meus pais e avós me foram transmitindo, as estórias, os termos, a etnografia, enfim a História e todas as memórias do passado que é necessário preservar para o futuro. Tenho como formação inicial o curso de História e fiz investigação em História Local (…). Tinha um sonho, quando tivesse tempo, escrever para os meus sucessores a história das gentes de Martinlongo e Alcoutim, para que a memória não se perdesse, agora encontrei um blogue que tem tudo isso e muito mais.
(…)
Mais uma vez parabéns e obrigada pelo seu trabalho de investigação que muito nos orgulha.
C N


(…)
Sem dúvida, o Alcoutim Livre continua a maravilhar-me e a fazer-me sentir mais próxima desse cantinho de Portugal que tanto prezo, e onde, tal como o Sr. Amílcar Felício, tantas vezes me refugio sem estar lá.
S M



Muito obrigado pelo artigo publicado em 5 do corrente em ALCOUTIM LIVRE, que me traz a resposta que várias vezes já solicitei quer à Junta de Martilongo, quer ao Município de Alcoutim, sem que até ao momento tenha obtido qualquer resposta.
Agradeço tudo o que nos possa escrever sobre o assunto,quer para este Forum, quer para jornais da região.
(…)
L M


Foi com prazer e curiosidade que li o seu artigo no Alcoutim Livre de 01 Agosto 2010 e que me ajudou a entender a provável origem do meu nome de família que desde sempre me provocou curiosidade pela sua invulgaridade.

Embora nascido em Torres Novas e actualmente a residir em (…), toda a minha família é originária do Alto Alentejo (Monforte e Arronches).

De facto e curiosamente uma parte da minha família directa é Reigota e outra Arreigota, talvez devido à origem da palavra ou ao engano dos notários em tempos já idos (o meu pai e uma irmã são Arreigota, enquanto que os seus irmãos são Reigota).
Há inclusive ramificações da família que herdaram estes dois nomes distintos.

Desculpe-me incomodar a sua privacidade com este e-mail, mas senti que tinha que lhe transmitir que a sua pesquisa de certo modo ajudou-me a entender a mim e à minha família a possível origem do nome, pois irei comunicar-lhes este facto.

Obrigado e cumprimentos de um outro Ribatejano,
L A



[Os obreiros.]

Não quero deixar de felicitar, o Autor do blogue Alcoutim livre e todos os seus colaboradores pelo seu 2.º aniversário.
Parabéns, pelo excelente trabalho desenvolvido, pela quantidade e qualidade de informação produzida colocada diariamente no blogue é, na minha modesta opinião um exemplo para todos quantos escrevem e muito em particular para todos os Alcoutenejos.
Obrigado, pela forma exemplar viva e apaixonada como escreve, sobre o meu Concelho e as suas gentes, os lugares, tradições, os caminhos, as ribeiras e o rio Guadiana, a que eu gosto de chamar “rio do mundo”.
Graças a existência do seu blogue, a sua paixão e dedicação a esta causa, muitos Portugueses conhecem hoje melhor Alcoutim e as suas realidades, as suas riquezas e fragilidades. José Varzeano traz para a opinião pública, aquilo que é responsabilidade de outros.
Como Alcoutenejo, sinto que tenho para consigo uma enorme divida e estarei lhe grato para todo o sempre. Muita da informação que foi colocada no blogue ao longo destes dois anos de existência era certamente do desconhecimento de muitos Alcoutenejos e, está agora em porto seguro, constituindo um extraordinário acervo.
O seu blogue é um sítio onde mato saudades e aprendo todos os dias. Com o trabalho que tem desenvolvido, com o manancial de informação que já colocou no blogue Alcoutim livre revela uma grande sensibilidade para a escrita e consegue ver realidades que outros teimam em não querer ver, ou por mais que olhem não conseguem ver.
Obrigado e Parabéns,
R M


Venho acompanhando o seu blog "Alcoutim Livre" desde a algum tempo e quero felicita-lo pelo excelente trabalho de promoção e difusão da história e cultura de Alcoutim.

Sou neto de (…), do monte d (…). Sou de uma geração já nascida e criada em Lisboa, mas as minhas raízes moram no Sotavento Algarvio – as férias foram sempre passadas em casa dos meus avós (meus avós maternos são da freguesia de...), motivo pelo qual os seus escritos têm especial interesse para mim. Uma das memórias que retenho de meu avô, é justamente este a folhear o seu livro "Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio".

O seu blog, juntamente com os seus livros (o do concelho de Alcoutim e o mais recente "A Freguesia do Pereiro - do passado ao presente" têm sido uma preciosa ajuda nas investigações genealógicas que tenho feito ultimamente.

É nesse sentido que lhe escrevo, para lhe colocar algumas questões, isto se não for abuso.
CP



Desculpe incomodá-lo em primeiro lugar.
Eu estou procurando a etimologia do nome ALCOUTIM e não encontra nenhuma indicação.
Estou muito grato se você puder me dar uma indicação.
Eu nasci em Alcoutim, mas nunca viveu em Portugal. Então, desculpa o meu Português aproximativo.

Muito muito obrigado. O seu Blog e fantastico
S E


Quero dizer-lhe que sou um leitor assíduo do seu blog.
(…)
Gostava de dizer-lhe que nasci num pequeno Monte, (…) Martim Longo. Pergunto para quando me dá o prazer de ver este monte nas suas páginas, se não é atrevimento da minha parte, caso aconteça terei muito gosto em colaborar e enviar-lhe uma foto aérea do povoado.
(…)

Antes do mais, utilizo este meio de comunicação, para lhe agradecer, do fundo da alma, a satisfação que me propiciou, ao publicar na INTERNET, através do seu blog, tão vasta resenha sobre tão pequeno monte, que me viu nascer (…); dando desta forma a oportunidade aos conterrâneos e não só, de lerem algo sobre o mesmo.

Como os tempos mudam! Há vinte anos tal não seria possível, como a tecnologia avançou! O mundo composto de mudança.

Há pouco tempo, no blog, um alcoutenejo elogiava o (…), considerando-o o maior historiador sobre Alcoutim, revejo-me nessas palavras, pois não tendo (…) formação nessa área procura nos alfarrábios e noutras fontes, divulgando todo esse legado que com o passar dos anos acabaria por desaparecer.
A A



Parabéns pelo seu blog, que considero uma lufada de ar fresco na história do Concelho de Alcoutim. Tenho um grande respeito e admiração pelo trabalho que tem procurado desenvolver em prol dos alcoutenejos, reavivando a memória das gentes, da qual faço parte e que muito me orgulho. Permita-me que me apresente: Chamo-me (…) e fui aluno da sua esposa, aí pela 3ª classe. Tenho recordações bem vivas, da amabilidade e profissionalismo da minha professora em (…). Recordo-me ainda de um Senhor, na altura bem jovem, que visitava por vezes a esposa, na escola primária e que nos ensinava umas canções (ficou-me qualquer coisa, como “ digo-dai, dai “), penso tratar-se do Senhor José Varzeano!

Embora a minha formação superior não seja no âmbito da história, sempre me interessei pela mesma. (…)
(…)

Escrevo-lhe este email, porque gostaria de um dia me encontrar com o senhor para falarmos sobre este assunto e voltar a rever a minha professora.
(…)
E P

domingo, 19 de junho de 2011

3º ANIVERSÁRIO




Passa hoje o 3º ANIVERSÁRIO da existência deste blogue, pelo que é altura, tal como fizemos nos aniversários anteriores, indicar alguns números e fazer as considerações que consideramos oportunas.

Além de termos mantido os propósitos que nos levaram à sua criação, conseguimos um número de “postagens” elevado, quase diário, pois a média é de 0,74 (812:1095).


A nível de volumes de formato A/5, estamos a completar o XII que se conclui no fim do mês. O número de páginas ronda as 3600.

Enquanto a média de visitantes / dia no 1º ano foi de 12,5, no 2º aumentou para 38,9 e agora cifrou-se em 90,9 (33179:365) o que constitui um aumento bastante considerável.

O nº total de visitas foi de 47.179 pelo que brevemente estaremos nas 50 mil.

Já fomos visitados por 80 países o que não deixa de ser significativo e já temos tido visitas diárias estrangeiras superior a 20, com relevo para o Brasil, EUA, Espanha e França, como aliás, o contador mostra.

Houve necessidade de, além de criar novas rubricas, desdobrar algumas que possuíam números dilatados, o que originava maior dificuldade na procura por parte dos visitantes / leitores e até nossa.

A Câmara Escura continua a ocupar a primeira posição em número de “postagens” (79) o que procuramos fazer com espaço de tempo aproximado. Quanto aos conteúdos apresentados tentamos igualmente que sejam diversificados. Como se tem indicado vai aparecendo alguma colaboração neste sentido.

A Etnografia ocupa a segunda posição com 76 entradas e é rubrica muito procurada por pessoas de diferentes regiões do país, principalmente estudantes que por vezes nos contactam pedindo informações complementares.

O Espaço dos Amigos teve de ser desdobrado pelos vários colaboradores para uma mais rápida consulta. Gaspar Santos, o primeiro que se disponibilizou já deu a público 39 textos de inegável valor e que ajudam a compreender melhor Alcoutim em todos os seus aspectos, José Temudo, depois de uns bons textos em prosa, tem-nos brindado ultimamente com a sua poesia, sendo o nosso poeta de “serviço”. (25).

Amílcar Felício continua a enviar-nos mensalmente as suas ricas crónicas impregnadas de um estilo muito próprio, onde o realismo, a graciosidade e até a brejeirice são seu apanágio. (18).

Publicámos os 14 artigos que conhecíamos do nosso saudoso Amigo Luís Cunha, pelo que proporcionámos aos nossos leitores o seu conhecimento que de outra maneira não seria fácil. Enriquecemos assim o conteúdo do blogue.

Daniel Teixeira, apesar de ter o tempo extremamente ocupado principalmente com o Jornal e a Rádio RAIZONLINE, ainda conseguiu arranjar espaço para nos dar a conhecer algumas recordações alcoutenejas e debater connosco aspectos de uma futura divisão administrativa e em relação à área alcouteneja. Afinal, o que pelo menos nós colocávamos distante pelos aspectos que referimos parece estar bem próximo, não por vontade dos nossos políticos mas por imposição do FMI. Segundo dizem, está previsto iniciar-se o trabalho para meados do próximo ano! Iremos ter a redução de “tachos e panelas”, depois queremos ver para onde irão. Não vai existir grande problema pois grande parte e ainda uns jovens há muito que têm a reforma choruda garantida. Mesmo assim, chorarão pelos lugares, não pelas benesses que usufruem, mas pelo amor ao povo, principalmente aos velhos muitas vezes abandonados pela própria família! As razões apresentadas nada têm a ver com a realidade.

José Miguel Nunes direcciona a sua escrita para outras áreas e só esporadicamente aqui chega (6).

O cronista Fernando Lino está presentemente muito ocupado ainda que continue a mostrar-se interessado em colaborar.

O Escaparate (66) mantém-se activo e com os mesmos propósitos sendo uma referência para quem gosta de ler e conhecer obras publicadas.

Os Ecos da Imprensa (53) continuam a sua caminhada, pois ainda estamos distantes de publicar neste espaço tudo o que escrevemos (em papel) sobre Alcoutim e o seu concelho.

Desdobrámos igualmente a rubrica Geral que naturalmente era muito abrangente. Optámos por dividi-la pelas cinco freguesias, mantendo uma, quando efectivamente a matéria abordada é de âmbito concelhio.

Fizemos o mesmo em relação aos Montes do Concelho que agora aparecem divididos pelas freguesias e um Geral quando tem esse sentido.

Já faltam poucos montes para abordar nas freguesias de Martim Longo e de Vaqueiros.

Continua a ser uma rubrica muito apreciada pelos leitores que por vezes nos perguntam quando chega e vez do seu “monte”.

Criámos em boa hora a Gastronomia / culinária já com 17 entradas.

Algumas das rubricas estão praticamente esgotadas e outras são de carácter circunstancial.

Pensamos que fizemos a análise mais genérica sobre o assunto. Outras poderão ser feitas.

Antes de terminar queremos apresentar aos nossos leitores o quadro a que temos acesso do número de visitas que se verificaram a partir de Abril de 2009 até 18 de Junho corrente e nos termos que já referimos anteriormente.

1º - Alcoutim Livre, imparável! (10.07.2010) – 266

2º - D. Fernando de Meneses, 1º Conde de Alcoutim (03.04.2009) – 241

3º - A Igreja da Espírito Santo, matriz do Pereiro (19.04.2010) – 115

4º - A Capela de Santa Justa (06.06.2010) – 103

5º - Convívio – Festa 2010 – Tacões - Alcoutim (13-08.2010) – 87

6º - A medida do tempo (11.09.2010) – 85

7º - Acreditar num futuro melhor (30.09.2010) - 66

8º - Água-pé “Alcoutim Livre” (10.09.2010) – 64

9º - O candeeiro a petróleo (09.03.2010) – 60

10º - Da origem das Festas de Alcoutim aos “seios” de gr... (03.04.2010) – 58


Verifica-se que são 9 postagens de 2010 e l de 2009.

Vamos terminar com as mesmas palavras que escrevemos faz hoje um ano:

O ALCOUTIM LIVRE só existe porque tem visitantes / leitores em número suficiente que o justifique.

É para eles que aqui estamos. O nosso muito obrigado pelas visitas e pela divulgação.

CRITIQUEM, APOIEM E DIVULGEM O ALCOUTIM LIVRE, UMA VOZ LIVRE NO DESERTO SERRANO.

sábado, 18 de junho de 2011

SALAZAR a instauração da ordem



Em formato de 17X24 cm e 317 páginas, numa edição de Livros Horizonte, 2010, é um trabalho que só agora acabei de ler, ainda que me tivesse sido oferecido no último Natal pelo meu Amigo e Colaborador desde a primeira hora deste blogue, Eng. Gaspar Martins Santos.

A figura de Salazar é fascinante em todos os parâmetros que possa ser abordada e tem-no sido, continuará a sê-lo por muitos anos e daí a atenção que muitos investigadores lhe dedicam.

O autor, Arnaldo Madureira, economista e professor universitário, tem-se dedicado ao período que cobre o “Estado Novo” já com várias publicações nesta área..

O trabalho está dividido em três partes, O Início da Nova Fase do Projecto Salazarista, A Caminho do Novo Regime Político, terminando em O Estado Corporativo.

Além das Fontes obtidas em bibliotecas e arquivos, apresenta uma vasta bibliografia referindo igualmente muitas publicações periódicas da época.

É um livro indispensável para quem gosta deste período da nossa história.

Mais uma vez o agradecimento ao nosso Amigo pela oferta.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O poço do cercado das Asneiras

[Ribeira de Cadavais. Foto JV, 2010]


Este poço, ainda que tivesse sido particular e que há muito se encontra entulhado, foi importante para a vila de Alcoutim como adiante indicaremos.

Não sabemos quando o mandaram entulhar mas não mentimos se dissermos que foi há mais de quarenta anos.

Alguns dos mais idosos alcoutenejos recordarão o seu nome, mas não serão muitos.

Sabemos que se localizava junto à Ribeira de S. Marcos, talvez lá para os sítios da Amarela, esta sim, designação ainda muito conhecida dos alcoutenejos.

Este topónimo de “Amarela” é muito antigo pois no século XV são doados a D. Fernando de Meneses, Conde de Alcoutim, uns moinhos no Esteiro da Amarela. (1)

Houve sempre dificuldades de encontrar água potável para as populações locais e em anos de estiagem aumentavam.

Os seus proprietários, quando os poços públicos secavam, facultavam a água deste poço à população e assim aconteceu a quando da construção da estrada distrital Alcoutim-Pereiro.

Em 1876 o Presidente fez saber à Câmara que o poço denominado das “Asneiras” e que por cedência da senhoria, D. Júlia Xavier de Brito, foi no ano anterior aprofundado à custa do município na condição do público nele se abastecer, de que então tanto se carecia e que antes de mandar fazer qualquer obra, devia ser ouvido o novo possuidor, António José Ramos Faísca Caimoto. (2) Estando este presente na sessão municipal, declarou nenhuma dúvida ter em ceder à população a água do referido poço, sempre que se desse estiagem ou falta de água nos poços públicos, obrigando-se a Câmara a fazer no referido poço os reparos que carecer. (3)

Desconhecemos as razões que levaram ao entulhamento do poço, alguma haveria para o efeito. Aqui fica este pequeno apontamento com um sentido histórico.


Notas
(1) – Liv. I dos Mystic.
(2) – Pensamos que era genro da anterior proprietária que tinha casado com Augusto Carlos Pinto.
(2) - Acta da Sessão da C.M.A. de 21 de Setembro de 1876

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O monte de Clarines (Alcoutim),de ontem e de hoje

(PUBLICADO EM STILUS, REVISTA DE CULTURA ALGARVIA, JAN/DEZ DE 2001)

[Entrada da povoação. Foto JV, 2009]

Há anos que tencionava escrever algo sobre esta pequena aldeia, na Serra Algarvia designada por monte, chegando mesmo a iniciar o escrito que acabei por não concluir.

Já fiz publicar alguns apontamentos sobre montes do concelho de Alcoutim, mas ainda nenhum da freguesia de Giões.

Todos os lugares, por mais pequenos que sejam, têm algo para se dizer, podemos é não o conhecer suficientemente bem para o fazer.

Conhecemos Clarines em 1974, quando a estrada ainda não estava asfaltada e o troço de acesso ao monte era uma miragem.

CLARINES suscitou-nos sempre uma certa curiosidade e já o visitámos várias vezes, encontrando sempre novos motivos de interesse.

Iremos começar por localizá-lo, tendo como ponto de referência a sede do concelho a que pertence - Alcoutim. Uma vez aí, tomamos a estrada nacional nº 122 - l que nos leva seis quilómetros andados ao Cruzamento ou Quatro Estradas. Seguindo em frente, tomamos a estrada nacional 124 e percorridos oito quilómetros passamos pela aldeia de Pereiro. Continuando a rolar pela mesma estrada, cerca de dois mil metros depois cortamos à direita, seguindo a indicação toponímica de Tesouro. Entrámos na estrada municipal nº 507, estreita mas asfaltada. O movimento rodoviário é quase nulo. Passamos pelo pequeno monte do Tesouro, da freguesia de Pereiro, descemos e ultrapassamos a ponte sobre o Barranco do Malheiro que divide esta freguesia da de Giões. Pouco depois, nova povoação surge, são os Farelos. Continuando na mesma estrada, voltamos a cortar à direita tomando a pequena estrada nº 1044 (cerca de dois quilómetros) que nos leva ao monte que procuramos - CLARINES.

Ao aproximarmo-nos da pequena povoação, os terrenos vizinhos estavam limpos, isto é, desprovidos de mato.

À esquerda, o Centro de Convívio local, casa arrendada, com uma divisão e onde funcionava um televisor. (1) Era o local de reunião.

Chama-nos a atenção uma interessante moradia ao gosto regional. Baixa e de área considerável, destaca-se no telhado, de telha de canudo, engraçada e altaneira chaminé, de influência alentejana. Vidraças de quatro e seis vidros. Porta de madeira e de postigo saliente e envidraçado. O branco da cal impõe-se e a ocre amarelada faz o contraste nas cercaduras das aberturas e noutras barras.

As ruelas são estreitas e desalinhadas e ainda se pode ver um ou outro forno de cozer pão, alguns em ruína e outros praticamente desactivados, funcionando uma ou outra vez, em dias especiais e isto, enquanto houver quem o saiba fazer e já poucos são.

Igualmente é possível ver palheiros, também quase todos sem utilização. Com portas de madeira que rodam por um original sistema que consiste num buraco feito numa laje de xisto e onde encaixa, pau de azinho ou zambujo de forma curva e que se fixou às três ou quatro tábuas que constituem a porta. É claro que o sistema é utilizado nos dois gonzos. O ferrolho, igualmente rudimentar como não podia deixar de ser, a lingueta encaixa num buraco feito na pedra da ombreira. Eram todos iguais na região e de fabrico local, tendo a sede da freguesia fama de ter bons ferreiros, que aliás existiam em todo o concelho.

De referir igualmente o “boqueirão”, ou “biqueirão”, abertura rectangular feita na parede mais alta, onde o lintel é quase sempre um ou mais paus de madeira rija, com relevo para o zimbro que consideram a mais resistente ou, menos frequente, uma pedra comprida de grauvaque, aqui designado por pedra rija.

O boqueirão é fechado na sua grande maioria das vezes pela colocação harmoniosa de pedras sobrepostas e nas casas de lavradores e nem sempre, por porta de madeira nos mesmos moldes da porta de entrada. Era por esta abertura na parede (boqueirão significa grande boca ou abertura) que se metia anualmente a palha no palheiro indispensável para a manutenção dos animais. A utilização da pedra está relacionada com a sua abundância e o trabalho, visto que não pesa pois trata-se de uma tarefa realizada uma vez no ano.

Depois deste olhar, pronunciada descida leva-nos a uma baixa onde se situa a capela cuja alvura é notória.

A primeira vez que visitámos Clarines, tivemos bastante dificuldade em fazer tal descida, na altura um rudimentar caminho e a capela encontrava-se em completa ruína. Hoje, tudo é diferente. Tudo mais arranjado, mais condições de vida mas ... muito menos gente.


[Vista parcial da povoação. Foto JV, 2009]

Em frente e em posição mais elevada, a restante povoação constituindo um beco mais ou menos alinhado, casas típicas, de paredes de xisto, rebocadas nas frontarias e caiadas, onde junto das portas as malvas e gerânios floridas de cores variadas dão brilho ao local já que são misturados com cactos de troncos de configurações diferentes. Vasos de origens dispares e alguns pendentes das paredes, tornam o local bucólico. De notar ainda uma simples e interessante chaminé.

Não faltam também os ocres, com predominância do amarelado e do azul vivo para realçar as portas e janelas com barras mais ou menos direitas.

A minha atracção por este monte, penso que começou pelo topónimo, enigmático, com uma sonoridade que nos cativou e que verificámos ser único no País, pelo menos não aparece nos dicionários da especialidade que normalmente consultamos.
José Pedro Carvalho (2) admite que Clarines possa ser o plural de clarim.

[Habitação típica. Foto de JV, 2009]

É povoação muito antiga, provavelmente de origem romana ou mesmo anterior. É possível que se tenha desenvolvido a partir de um edifício religioso que se situava nas proximidades de uma capela tardo - medieval / moderna, hoje restaurada, como nos indica a Professora Doutora Helena Catarino.

A presença humana em Clarines e suas redondezas, vem de longe. O período calcolítico está representado no Cerro da Perdigôa, a cerca de 2 km da aldeia, rodeado por pequenos cursos de água, características que no seu conjunto se assemelham às do Cerro do Castelo de Santa Justa.

Os vestígios da Idade do Bronze / Ferro, situam-se na Cerca do Jogo e no Cerro das Curraladas e são representadas por cistas (vasos funerários) e materiais diversos.
Neste último local foram encontradas telhas decoradas e cerâmica comum: bordos, paredes de potes, tampas com bordo em bisel, asas e fundos planos.

O período romano é notado na Cerca das Oliveiras onde se encontraram materiais de construção e recolheram fragmentos de ânforas e de cerâmica comum.

No mesmo local está representada a ocupação muçulmana igualmente por materiais de construção e cerâmicas, destacando-se as não vidradas representadas por panelas, pucarinhos e pucarinhas. As vidradas são de cor melada, decorada a óxido de manganés.

No sítio do Reguengo, topónimo que significa propriedade do rei, foram também encontrados vestígios da presença tanto romana como islâmica.(3)

Foi recolhida uma placa epigráfica de mármore do período visigótico e estão incrustados nas paredes da capela fragmentos de elementos decorativos de calcário, de frisos ou pilastras da mesma época.

[Capela de NªSª da Oliveira ou de Clarines. Foto JV, 2009]

A minha outra atracção por este monte foi a existência da Capela de Nª Sª da Oliveira, ou Nª Sª de Clarines, por aqui se situar.´

Contra o que é habitual, situa-se numa baixa entre os dois pólos da povoação da povoação que se encontram em posição mais elevada.

Sª da Oliveira por, segundo a lenda, ter sido numa destas árvores que apareceu. No tronco da oliveira, junto à qual se erigiu, existia uma concavidade à maneira de nicho, aproveitada pelos crentes que padeciam de dores de cabeça, que lá a introduziam para assim ficarem livres desse padecimento. A fé era tanta que chegavam a levar como relíquia, pedaços do tronco.

Tinha romaria na primeira oitava da Páscoa da Ressurreição. (4)
Nos primeiros dias de 1566 já se diz que é muito antiga. É descrita como “huma soo casa pequena; as paredes são de pedra e barro desguarnecidas, madeirada

d’aguieiros, telhado de telha vãa de duas ágoas (...). O portal he d’alvenaria redondo com suas portas fechadas.

Interiormente, o altar era d’alvenaria cuberto com huns mantens e nelle huma imagem de Nossa Senhora de vulto muito velha. Tem hum çeo de quortinas de pano da terra sobre o altar. (5)

Os priores de Martim Longo achavam-se na posse immemorial de receberem e utilizarem (...) e ofertas pertencentes às ermidas da Senhora da Oliveira do monte de Clarines e de São Bento de Alcaria Queimada. (6)

Por volta dos anos cinquenta dos nossos dias, a capela estava completamente em ruína e a imagem da padroeira recolhida na igreja matriz da freguesia, colocada no altar das Almas, junto de Nª Sª das Neves, onde a admirámos. (7)

Nesta capelinha faziam-se novenas com intenção de que a chuva caísse, proporcionando melhores colheitas.

A ideia do restauro foi sempre uma constante, mas foi-se protelando até que se constituiu localmente uma comissão que, com a colaboração da Câmara Municipal, conseguiu o restauro, o que muito dignifica os clarinenses, procedendo-se a abertura ao culto no dia 6 de Agosto de 1989, após o regresso da imagem de Nª Sª da Oliveira, entretanto restaurada na cidade de Beja.

Em fins da década de sessenta rebolava numa gaveta de secretária da autarquia, uma planta para o restauro da capela que penso se terá perdido e da qual desconheço a origem.


[Imagem de Nª Sª da Oliveira. Foto JV, 2010]
Ainda que só a tenhamos visto exteriormente, parece-nos que o seu restauro procurou manter a traça primitiva e a descrição de 1566 ainda hoje a identifica de certo modo. Sabemos que tem uma pia de água benta, de pedra e muito antiga que está embutida na parede, ao lado direito da entrada.

O portal, de arco de volta inteira e de pedraria, é muito antigo e até existe uma oliveira, na sua frente, já não muito nova, mas sem buraco no tronco !
Como já dissemos, elementos arquitectónicos visigóticos foram reaproveitados nas paredes, (8) quando deviam estar num museu.

A pastorícia e a cerealicultura foram as actividades fundamentais, o que se generaliza a todo o concelho, ainda que as mulheres tenham tido fama e certamente proveito de boas tecedeiras.

Em 1771 encontrava-se manifestado gado no qual avultam ovelhas e cabras embora o número de reses (gado bovino) também seja significativo.

O capitão (de Ordenanças), Rafael da Palma Pereira é o maior manifestante, mas é igualmente importante o manifestado por José Rodrigues, Domingos Afonso e António Rodrigues. (9)

Nos princípios da década de noventa ainda havia cabras e ovelhas e uma tecedeira trabalhava linha de algodão e lã.

[Porta da Capela mantendo a pedraria original. Foto JV, 2010] A florestação deu originou a existência de viveiros de pinheiros e azinheiras.

A nível de ensino sabemos que o vereador da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, José Teixeira, em 1934 propôs e foi aprovado, o pedir Superiormente a criação de vários posto de ensino para o concelho, entre os quais um para este monte, comprometendo-se a Câmara a fornecer o material necessário para o seu funcionamento e bem assim tomasse o encargo da casa e iluminação, enquanto funcionasse. (10)

Este pedido deve ter sido aceite e sabemos que nos fins da década de quarenta, Maria dos Santos era a regente do Posto. Nesta altura só os montes mais populosos e importantes aspiravam a possuir um posto escolar onde os seus filhos aprendessem as primeiras letras.

Este posto veio a dar origem na década de sessenta à criação de uma escola perto do monte dos Farelos que recebia as crianças deste monte e as de Clarines.


A posição fronteiriça do concelho dava origem à passagem ilegal de produtos. Em 1876 é preso em Clarines um indivíduo por crime de contrabando. (11)

[Oliveira fronteira à Capela. Foto JV, 2010]
Em 1932 o poço do monte beneficiou de grande reparação, tendo dirigido os trabalhos o lavrador José Gomes Alves. (12)

Hoje a população tem água fornecida por fontanários, dispõe de energia eléctrica e os arruamentos pavimentados em 1989. (13)

No decorrer dos tempos alguns naturais da povoação desempenharam funções de responsabilidade a nível local. Assim, José Pereira Jacinto é o Juiz Eleito da freguesia em 1854/55 e três anos depois faz parte da Junta de Paróquia

Como vem acontecendo em todo o concelho, o monte tem vindo a perder população de uma maneira muito acentuada desde a década de cinquenta.

Sabe-se que em 1839 tinha vinte fogos, sendo nessa altura suplantado a nível de freguesia por Alcaria Alta (43) e Farelos (30).

Em 1976 num recenseamento feito pelos serviços concelhios de saúde, foram-lhe atribuídos 95 habitantes, número só ultrapassado por Farelos (98).

No censo de 1991 já tinha descido para sessenta e cinco, agrupados em vinte e cinco famílias que se alojavam em vinte e nove habitações. Mantinha assim a segunda posição, continuando os Farelos em primeiro com oitenta e sete, por isso a uma distancia muito mais acentuada.

Actualmente e segundo informação de um morador, a população não chegará a duas dezenas. Caminhar-se-á a passos largos para o total despovoamento ? Esperemos que não.

Aqui fica o que foi possível compilar sobre este pequeno monte cuja origem se perde no recuar dos tempos.


NOTAS
(1)-Boletim Informativo , Delegação Regional do Sul,Faro,1989
(2)-Dicionário Onomástico Etimológico , Horizonte/Confluência.
(3)-"O Algarve Oriental Durante a Ocupação Islâmica", Helena Catarino in Al`-Ulyã ,nº6 da Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, 1997/98.
(4)-Dicionário Geográfico , Vol. 17 - 1758.
(5)- Visitações da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio, Hugo Cavaco, Edição da C. M. de Vila Real de Santo António, MCMLXXXVII.
(6)-Da Certidão que passou o Ver. Prior da Igreja de São Sebastião de Boliqueime, termo de Loulé, Francisco José de Barros, 11 de Julho de 1791.
(7)-Informação prestada por D. Catarina Mestre, natural de Giões e que foi professora durante muitos anos no concelho.
(8)- "Vestígios Arqueológicos", Helena Catarino, in Alcoutim - Revista Municipal nº 1, Maio / Junho / 1955.
(9)-Tomo de Manifestoz Arlam toz da Camera doz Gadoz , iniciado em 1771 (?)
(10)-Acta da sessão da C.M.A. de 29 de Novembro de 1934.
(11)-Of. nº 66 de 1 de Agosto de 1876 do Administrador do Concelho de Alcoutim.
(12)-Acta da sessão da C.M.A. de 12 de Maio de 1932.
(13)-Boletim Municipal nº 4, de Abril de 1989.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aspectos demográficos da Freguesia de Vaqueiros em 1871

>[Igreja Matriz de Vaqueiros. Foto JV, 2010]

Desta vez o alvo da nossa curiosidade e pesquisa foi a freguesia de Vaqueiros, a freguesia desde sempre mais abandonada dentro do abandonado concelho de Alcoutim.

Escolhemos o ano de 1871 como fizemos em relação à freguesia do Pereiro. Pesquisámos nascimentos e óbitos e obviamente tirámos algumas conclusões.

Tiveram lugar 47 nascimentos atendendo aos baptizados realizados e em contrapartida verificaram-se 37 óbitos, pelo que o saldo é positivo, 10, superior ao verificado no mesmo período na freguesia de Pereiro.

Em relação aos nascimentos dos 47 verificados, 28 foram do sexo masculino e 19 do feminino, estando os Homens em vantagem.

Tomando em consideração os óbitos, verifica-se que faleceram 23 do sexo masculino e 14 do feminino.

A nível de média de idade e não considerando crianças até aos sete anos, a média de falecimento dos homens foi de 51 anos enquanto das mulheres se pautou por 47.

A nível de progenitores, lavradores e trabalhadores ocupam a grande fatia, enquanto as mulheres se ocupam principalmente no governo de sua casa.

Para nós foi significativo que das mulheres que deram à luz, (21%) eram tecedeiras, além de existirem 3 madrinhas com a mesma profissão.

Naturalmente que nas mulheres já com idade não adequada para procriar deviam de existir muitíssimas mais, o que nos leva a concluir que há 140 anos tecer na freguesia de Vaqueiros era uma actividade ocupacional. Penso que hoje pouco ou nada deve restar, a não ser algum tear que tem escapado ao “fogo” lá numa arrecadação onde pouco se vai e ainda faz lembrar a avó.

Apesar de em número mais reduzido, encontrámos maiorais, moleiros, ferreiros, sapateiros e alfaiates, isto entre lavradores e jornaleiros.

Quando as pessoas devido às avançadas idades ou às circunstâncias da vida não se podiam bastar, refere-se no termo que viviam “do amor de Deus”..

Apresentamos seguidamente um quadro explicativo das origens de nascimentos e óbitos:



Logicamente verifica-se que o maior movimento se dá na sede de freguesia, seguido de Alcaria Queimada, Pão Duro, Zambujal e Alcarias, já na altura dos mais importantes montes da freguesia.

[Actual cemitério da freguesia de Vaqueiros]

Verificamos que não aparecem representados entre outros os montes de Bentos, Casas, Balurquinho, Jardos e Pomar.

Em contrapartida nota-se que montes como o Galego, Ferrarias, Mesquita, Montinho e Monte Novo, hoje desabitados, apresentavam movimento.

Podemos nesta pesquisa confirmar que a Casa do Galego, como tínhamos encontrado numa acta da Câmara Municipal de Alcoutim, é nesta altura ainda assim designada, o que nos ajuda a compreender melhor o topónimo.