terça-feira, 24 de maio de 2011

António Simão Vieira, possivelmente o 1º chefe Republicano no concelho de Alcoutim

[Carlos Vieira na Praça da República em Alcoutim homenageando o tio-bisavô. Foto JV]

Nasceu em Vila Real de Santo António, filho de Sebastião do Rosário Vieira e de Francisca Cecília da Encarnação (ou Vieira) (1820-1878) e neto materno de António Vieira, marítimo, natural também de Vila Real de Santo António e de Maria do Carmo Torres, nascida em Figueirita, Espanha, Diocese de Sevilha.

Francisca Cecília faleceu na Vila de Alcoutim em cujo cemitério foi sepultada e à data de sua morte deixou sete filhos.

António Simão Vieira faz um primeiro casamento com Joana da Encarnação Vieira e tendo enviuvado contrai segundo matrimónio com Maria da Assunção Gomes, de 34 anos, natural de Martim Longo, filha de Francisco Gomes Delgado e de Maria Isabel das Dores, ambos daquela freguesia e na altura já falecidos.

[Capela de Sto. António onde provisoriamente funcionou a escola masculina. Óleo de JV]

Testemunharam o acto duas figuras importantes locais, João José Viegas Teixeira, político, natural de Vaqueiros e que entre outros exerceu os lugares de Presidente da Câmara, Administrador do Concelho e Procurador Régio, o homem que procurou criar o concelho de Martim Longo, que faleceu em Aiamonte e Justo António Torres que morreu solteiro, proprietário e comerciante, além de político pois foi Presidente da Câmara, Administrador do Concelho e igualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim.

Admito que a avó espanhola de António Simão Vieira, Maria do Carmo Torres tivesse ligações à conceituada família Torres uma das dominantes no concelho de Alcoutim em finais do século XIX e que tenho conhecimento ter ligações a famílias do país vizinho.

À data deste segundo casamento (1872), é designado como empregado da Alfândega de Alcoutim.

Sei que um António Simão Vieira por Mercê de D. Pedro V de 18 de Fevereiro de 1858 foi nomeado Chefe de Armados da Alfândega da Vila de Alcoutim e que em 18 de Novembro do mesmo ano passaria por Mercê do mesmo rei, a Chefe de Guardas da mesma Alfândega.

Tenho conhecimento que deste 2º matrimónio nasceu pelo menos uma filha na vila de Alcoutim em 10 de Setembro de 1878 e quando António Simão Vieira já era designado como professor de instrução primária, segundo o assento de baptismo da filha. Outra documentação já o indica exercendo essas funções (professor temporário) em 1876, funcionando a escola, com dezanove alunos, nos baixos da Câmara.

[Proximidades da antiga Rua do Esteiro, em Alcoutim. Foto JV]
Devido à grande enchente do Guadiana em Dezembro de 1876 a escola masculina não funcionava por ainda não estar pronta a Capela de Sto. António, o que irá acontecer, segundo o administrador do concelho, dentro de dois ou três dias.

Entretanto a escola é transferida para uma casa situada na Rua do Esteiro, pertencente à viúva e filho de Paulo José Lopes, pagando-se de aluguer 1100 réis por mês.

O professor não aceita de bom grado a mudança, tendo-se gerado grande polémica.

Em 31 de Agosto apresenta-se a requisitar as chaves e iniciar as aulas.

O Prof. Vieira mostra-se um homem activo e indica à Câmara as grandes vantagens de se adoptar nas escolas o método de ensino de João de Deus. Apresenta um alvitre compatível, segundo ele, como os fracos recursos do Município, para o sobredito método poder difundir-se neste concelho. A Câmara mandaria a Faro um professor leccionar-se no dito sistema pois naquela cidade está pessoa habilitada oficialmente a fazê-lo. Depois, o referido professor viria ensinar os demais existentes no concelho.

A Câmara foi deixando o assunto de sessão para sessão e nunca mais resolveu.

Em 1881, na feira de S. Marcos, na aldeia do Pereiro, o professor Vieira dá vivas à República e intitula-se chefe do partido no concelho, o que provoca escândalo.

[Feira de S. Marcos, na aldeia do Pereiro, 1989. Foto JV]

O Administrador comunica imediatamente os factos para várias entidades e acaba por levantar-lhe um auto, a instâncias do Governador, contudo, conclui que não há motivo para procedimento judicial pelo que não se atreve (no seu dizer) a remetê-lo ao Agente do Ministério Público.

O homem de ideias republicanas deixa de exercer funções em 21 de Fevereiro de 1884, certamente por pressões políticas e é substituído por Francisco Pires de Almeida.

São estes os dados que até agora consegui compilar sobre um homem que acaba por marcar um período importante da nossa história a nível local.

Compreende-se melhor o interesse do seu sobrinho bisneto conhecer algo de Alcoutim por onde passaram alguns dos seus antepassados, tendo herdado deste, algumas posições políticas.

EM GRANDE ABRAÇO PARA O CARLOS VIEIRA.

NBParte dos dados referidos foram tirados do nosso trabalho “Um século de ensino escolar no concelho de Alcoutim (1840 – 1940)” publicado no Jornal do Algarve de 4,11 e 18 de Abril de 1991.