segunda-feira, 7 de março de 2011

A E.N. Nº 122 no que se refere ao concelho de Alcoutim

Pequena nota
Este texto foi extraído de” Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio, (Subsídios para uma monografia)”, 2ª Edição, em preparação, não comportando, por falta de actualização, as últimas alterações verificadas.

O IC 27 veio colocar esta via em posição absolutamente secundária, por enquanto a partir do entroncamento para as Cortes Pereiras.
Comentava-se na altura a distância a que ficaria a vila, o acesso ao IC 27 não veio a ficar mais próximo.


JV



Raul Proença, no seu conhecido Guia de Portugal (1927), diz que a vila era apenas servida pela estrada que a liga à aldeia do Pereiro, sendo a única sede de concelho que não se encontra ligada às outras e à capital do distrito e que a riqueza metalúrgica da região impõe a construção da estrada de Vila Real - Mértola, por Alcoutim, e a construção da que há-de ligar com São Brás de Alportel, por Martim Longo e Cachopo.

Iremos referir o que nos foi possível obter sobre a estrada nacional nº 122 e “ramais”.

A Comissão Administrativa da Câmara Municipal deliberou que um seu representante fosse a Lisboa a fim de junto do Ministério das Comunicações, “clara e desassombradamente” exponha o estado de abandono a que o concelho tem sido votado desde sempre, especialmente no tocante a vias de comunicação e que seja feito sem demora o estudo da estrada de Vila Real- Alcoutim- Mértola, estrada essa que em parte resolverá o problema das comunicações.(1)

Em 1934 e em resultado de nova ida à capital de um seu representante, a Câmara é informada de que na J.A.E. foi prometido e garantido que dada a impossibilidade absoluta da estrada ao Vascão ser feita directa a esta vila, visto ser uma estrada de longo curso e esse estudo ter de ser feito do Vascão directo ao ponto marcado entre a Corte da Seda e os Balurcos e será feito um ramal desta vila para o Vascão. (2)

Cerca de um ano depois (3) a Câmara fica alertada com a notícia da possível alteração do traçado da estrada a passar a quinze quilómetros da vila, com manifesto prejuízo para a mesma e para os povos da freguesia e sem vantagens nenhumas para o resto do concelho.

Foi deliberado pela Edilidade enviar mais uma vez uma delegação da Comissão Administrativa, imediatamente, para junto das autoridades competentes protestar energicamente contra a modificação do traçado. Foi aconselhado que o Presidente da União Nacional no concelho, acidentalmente em Lisboa, acompanhasse tal delegação.

[Ponte sobre o Ribeiro dos Ladrões. Foto JV, 1993]

Na sessão de 27 de Junho de 1935 é comunicado o resultado. Assim, afirma-se que a estrada será construída dentro do plano e estudo já efectuado e que dentro em breve chegará a este concelho uma brigada técnica da J.A.E. para completar o estudo do troço entre Corte da Seda e a Ribeira do Vascão, pelo que não se efectuará qualquer alteração.
Em 1939 (4) o Governador Civil comunica ao Presidente da Câmara que tinha sido concedida a verba de 1700 contos para a estrada do Vascão, ao quilómetro seis da estrada de Alcoutim ao Pereiro.

De 1920 a 1940, nenhumas obras se fizeram no concelho. Apenas estão em construção as estradas 106 - 2ª e 108 - 2ª que ligarão o concelho ao resto do País, com o qual Alcoutim não tem vias de comunicação, indispensáveis ao seu progresso e desenvolvimento. À estrada 106 - 2, faltam as pontes nas Ribeiras de Beliche, Foupana, Odeleite e Vascão. A conclusão dessa obra é de maior importância e urgência. É assim que o número especial de O Século - 1940 (Comemorações Centenárias de 1140 e 1640) se refere a Alcoutim.

Sobre os desvios da estrada de Alcoutim para as Quatro Estradas ou Cruzamento, como passou a ser designado o local, já demos explicações documentais. O povo contava (e ouvi-o muitas vezes) que isso tinha tido lugar por interesses pessoais de gente importante da vila, o que não nos parece ter qualquer justificação.

Cerca da década de quarenta do nosso século, houve alterações na estrada de Alcoutim ao Cruzamento, processando-se principalmente o corte de algumas curvas, como ainda hoje se pode verificar.

O acesso à vila que teria sido pela parte alta (Portas de Tavira), passou depois para a parte baixa (Portas de Mértola). As camionetas tinham muita dificuldade em passar pelas ruas medievais que são a Rua Portas de Mértola e da Misericórdia. Para que isso acontecesse, as pessoas, tinham que se meter em casa. A empresa concessionária dos transportes públicos tem um carro de trinta e quatro lugares para pôr ao serviço mas não o pode fazer por não poder passar nestas ruas. (5)

Em 1951 começam as demolições das casas que permitem a variante de acesso à praça que segundo nos informaram teve lugar em 1956.

Em 1967 construiu-se o troço (C.M. 1058) de acesso ao Marmeleiro.


NOTAS
(1) – Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 31 de Março de 1934.
(2) – Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 13 de Junho de 1935. Pensamos que a designação de Vascão está incorrecta, querer-se-ia dizer da vila até esse ponto e mais tarde conhecido e designado por Cruzamento ou Quatro Estradas.
(3) – Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 25 de Fevereiro de 1939.
(4) – Diário Popular de 15 de Maio de 1850.
(5) – Jornal do Algarve de 13 de Julho de 1984.