quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Como aparece um topónimo



Os antigos habitantes das Cortes Pereiras, Vascão, Afonso Vicente, Santa Marta, Coito, assim como da vila e outras povoações circunvizinhas, nas suas caminhadas para a vila ou nas deslocações para trabalhos do campo através de pequenas carreteiras ou caminhos de pé posto, trilhados durante séculos por pessoas e animais de carga e sela, foram encontrando determinados pontos de referência para se poderem situar.

São aproveitados para tal, acidentes do terreno, a existência de água e outras circunstâncias.

O conhecimento ia naturalmente passando de pais para filhos, pelo que era uma linguagem que todos dominavam e utilizavam com frequência.

Não sendo oriundo da região, não aprendi com os familiares estes saberes, mas bem depressa se me aguçou a curiosidade e sem conhecer os locais fixei entre outros “a voltinha das noivas”, as “águas nascidias”, “a alfarrobeira” e “o carapeto” situados nos caminhos que serviam esta parte norte da freguesia de Alcoutim.

Entretanto, nos anos 60 do século passado, foi construída a estrada para servir o Monte do Sol, só tendo seguimento após o 25 de Abril, construindo-se a ponte sobre a Ribeira de Cadavais o que motivou a vila ter deixado de ser um beco sem saída, situação que veio a ser melhorada com a construção da estrada marginal.

Sendo assim, alguns pontos de referência deixaram de ter uso pois as estradas deixaram naturalmente alguns fora dos seus trajectos.

A alfarrobeira ficou-lhe próximo, pelo que, mesmo viajando de automóvel continua a ser referência.

Porque é que se dizia sem confusão por exemplo - começou a chover quando íamos à alfarrobeira - e toda a gente sabia onde era? Era e é a única existente por aquelas paragens.

Os terrenos por ali não devem ser propícios a tal cultura mas naquele local uma semente arranjou condições para germinar, contudo as sementes que foi criando nunca conseguiram vender as condições adversas que encontravam.

Há uns anos um incêndio no mato acabou por devorá-la mas isso não evitou que as pessoas mantivessem a mesma referência.

Quando isto aconteceu perguntei a uma octogenária se a alfarrobeira era muito velha. Respondeu-me que quando era “moça pequena” já tinha aquele tamanho.

Tempos depois começou a notar-se que a alfarrobeira tinha rebentado e em 2009 já tinha o aspecto que a foto apresenta.

Ali, aconteça o que acontecer, será sempre A ALFARROBEIRA mesmo que ela desapareça.