quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

EFEMÉRIDE - Comemoram-se hoje 623 anos do Tratado de Alcoutim

Pequena nota
São passados quase 17 anos que escrevi este pequeno texto que como se indica foi publicado no Jornal do Algarve, de Vila Real de Santo António. Apesar disso e se passássemos os 623 para 640, o texto podia ser publicado integralmente no próximo dia 31 de Março, já que toda a situação, pelo que conhecemos, é a mesma.

JV

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 31 DE MARÇO DE 1994)

[Alcoutim visto por Duarte de Armas, Séc.XVI]

Saindo o jornal às quintas-feiras, acontece que o dia 31 de Março coincide com aquele dia da semana.

Algum alcoutenejo se lembrou do significado da data?

Não é fácil já que estes dias só são normalmente lembrados quando deles beneficiamos de alguma coisa. E Alcoutim até tem um feriado municipal sem data e sem qualquer significado!

Acontece que a pequena vila raiana é muitas vezes só conhecida da História, por este facto!

O prof. Doutor José Hermano Saraiva, conhecido historiador e homem de T.V., confessa que só conhecia Alcoutim da História, como refere no “Itinerário Português – O Tempo e a Alma”, pág. 372. Afinal, acontece o mesmo com muita gente na qual estivemos incluídos.

Alcoutim só ficou ligada ao resto do país, por estrada, nos meados deste século e mesmo assim constituía um beco sem saída.

Na esteira desta afirmação, dois pequenos episódios.

Quando fui colocado em Alcoutim, em 1967 e apresentei os meus cumprimentos de despedida ao dirigente máximo do distrito onde servia, afirmou-me que agora tinha sorte, pois ainda há pouco só se chegava a Alcoutim pela via fluvial. Ficámos admirados.

O outro episódio parece anedota, mas não é.

Na época invernal as enchentes do Guadiana provocavam algumas vezes a suspensão das carreiras fluviais. Então, o Presidente da Câmara para comparecer às reuniões que se realizavam em Faro, tinha que seguir via Espanha, isto é, atravessava o rio para Sanlúcar, seguindo dali para Aiamonte, apanhando o barco para Vila Real de Santo António! Depois era o normal.

Não vamos aqui esmiuçar a Paz de Alcoutim. Quem o quiser saber procurá-lo-á, na Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes. Lá encontrará a descrição histórica de que não consta… aqui encontraram-se no meio do rio, em engalanadas embarcações, os reis D. Fernando I de Portugal e D. Henrique II de Castela para celebrarem a Paz de Alcoutim em 1371, que veio pôr termo à guerra entre os dois países.Esta descrição encontrei-a em Um Pouco de História, texto englobado num folheto turístico emitido pela Região de Turismo do Algarve, em 1988.

Nem as conversações se teriam realizado no meio do rio e muito menos teriam aqui estado, pelo menos nessa altura, os monarcas em conflito. É o que deduzimos da leitura do capítulo LIII da referida crónica, que pensamos ser o mais fidedigno documento histórico do evento.

Se não vamos referir as cláusulas do Tratado, os seus intervenientes e os resultados obtidos, então porque pegámos na efeméride?

Como dissemos, há pessoas que só conhecem Alcoutim da História, mais propriamente por este Tratado (já várias vezes o ouvimos questionar em concursos televisivos). Todos os historiadores que escreveram Histórias de Portugal, não o ignoraram e referem-no sempre.

[Alcoutim visto de Espanha num desenho de Hilary Payton]

A “Paz de Alcoutim”, já o escrevemos, é certamente o facto histórico mais importante passado nesta vila, até aos nossos dias mas… nada na vila o faz lembrar ou conhecer aos forasteiros. E é por isso que aqui estamos. Se um dos caminhos apontados para o desenvolvimento local é o turismo, seria bom, no nosso modesto entender, que algo fosse feito para lembrar tal acontecimento.

Mas o quê? Como fazê-lo? São capazes de aparecer algumas ideias – é preciso debatê-las e optar por aquela que seja considerada mais positiva.

Preservar o núcleo histórico onde têm sido cometidos vários “crimes” e enriquecer o Alcoutim Novo, pensamos que seriam pontos de partida para o equilíbrio desejado.

Aqui deixamos o alvitre às Entidades responsáveis, na passagem de mais um aniversário da Paz de Alcoutim.