domingo, 28 de novembro de 2010

Maria Helena Peças Magalhães Bernardes



Foi hoje a enterrar no cemitério dos Capuchos, da cidade de Santarém, esta nossa familiar que contava 72 anos.

Não era uma familiar próxima pois éramos primos em 3º grau. Fomos criados na mesma rua até cerca dos vinte anos e sempre funcionámos como primos direitos. A sua mãe mamou na minha avó e a minha, na avó dela.

Nos bons e maus momentos precisávamos sempre da presença um do outro como acontece a quem é próximo.

Filha única de filho único, foi consequentemente neta única pelo lado paterno.

Adorava o avô que praticamente a criou e acompanhava-o para todo o lado.

Irreverente por natureza, conhecia toda a gente no bairro onde nasceu e praticamente sempre viveu. Dizia-nos que só podia viver ali.

Ainda que tivesse sido boa aluna na primária, negou-se sempre a continuar o estudo que não gostava. A sua predilecção ia para as artes manuais e até o teatro que praticou com amadorismo.

Gostou sempre de versejar e ainda que não o tivesse feito com técnica, os seus poemas transmitiam sempre algo de muito profundo.

Reproduzimos aqui um dos seus mais curtos e melhores poemas , escrito em Santarém a 12 de Julho de 1961.


TARDE
Quando, se quando
um quando
chegar por fim

Talvez o quando
Não seja quando para mim. (*)


(*) A minha vida (autora) foi feita assim, chega tudo tarde que deixa de ter sentido. (quando)



Como a imagem representa, organizei-lhe artesanalmente uma compilação dos seus versos em 1993 e a que deu o título de Poemas Artesanais, o que muito a sensibilizou.

A compilação (feita à máquina de escrever) reúne versos desde 1954 até 1993 e é constituída por 165 páginas A/5 incluindo prefácio e nota biográfica.

Não quis deixar de me enviar, como sempre fazia, os últimos versos que fez


Em amorosa comunhão

Os Inácios (*) juntos estão

Com os familiares seus

Vivendo todos este dia

Com amor e alegria

Até me dizerem Adeus.


Setembro de 2010.

(*) Inácios, são a família do marido que anualmente se reúne na vila da sua origem.

Era a despedida como se veio a verificar.

Maria Helena, encontrando-se a poucas horas do seu perecer procurou que o marido que tinha junto de si me contactasse para se despedir de mim, enviando um beijo para mim e toda a família pois ia morrer, como veio a acontecer.

Ficam comigo os teus versos para sempre te recordar.

Condolências para quem sentir a dor.