quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Soudes, o mais afastado monte da sede da freguesia a que pertence

[Vista parcial em 2010. Foto JV]

Esta pequena povoação, devido à sua situação geográfica, pertenceu ora à freguesia de Vaqueiros, ora à do Pereiro, acabando por se fixar nesta.

Verdade seja que ela fica algo distante tanto do Pereiro como de Vaqueiros, contudo, para se fazer a ligação entre o monte e a aldeia do Pereiro, era necessário vencer a ribeira da Foupana que na época invernosa não dava passagem com facilidade, enquanto que em relação a Vaqueiros, que presumo ficar mais distante, não era necessário ultrapassar esta dificuldade e a mudança verificada deve ter a ver com estas circunstâncias.

Em 1758 e segundo as Memórias Paroquiais, fazia parte da paróquia do Pereiro e Silva Lopes na sua Corografia do Algarve (1841) anota que o monte foi perdido para a freguesia de Vaqueiros, não indicando data mas que nos parece situar-se no período liberal onde se processaram grandes mudanças administrativas, principalmente em 1836.

Consultado um mapa anexo àquele trabalho e que nos fornece o número de fogos em 1839, não encontramos a povoação indicada tanto na freguesia do Pereiro como na de Vaqueiros.

Desconhecemos igualmente quando passou e se fixou à freguesia do Pereiro. Não encontrámos nem no arquivo da Junta de Freguesia nem no da Câmara Municipal documentação nesse sentido.

O problema para vencer a ribeira da Foupana foi ultrapassado com a construção de uma ponte antes de 1974, mas as estradas com que faz ligação só apareceram depois do 25 de Abril, nomeadamente a municipal nº 508.

[Ponte sobre a Ribeira da Foupana. Foto JV, 2010]

É zona habitada desde tempos recuados e o arqueólogo algarvio, Estácio da Veiga, teve conhecimento da descoberta de um tesouro monetário, constituído por diversas moedas, conseguindo ainda obter onze denários de prata achados dentro de um vaso, sendo o mais antigo do século III antes de Cristo, do fim da 1ª guerra Púnica. (1)

O topónimo desde há muitos anos merece a nossa curiosidade, já que desde criança ouvimos falar na quinta das Soides ou Soudes, perto da freguesia onde nascemos, no centro do País.

Quando chegámos a Alcoutim e tivemos contacto com este topónimo, fez-nos lembrar o das nossas origens.

Existem na nossa toponímia Soudos, Soudo, Soudas e Soides ou Soudes, mas estes dois últimos não constam dos dicionários que consultámos.

Estácio da Veiga escreveu Monte de Sodes, afirmando ser desconhecido o que significa tal topónimo, admitindo ser derivado por corrupção, de sodalis ou sodalitas, na acepção de lugar dos companheiros, da sociedade, do ajuntamento.(2)

Estarão todas estas variantes do topónimo relacionadas com o árabe sôd que significa negro ou preto?

Em Alcoutim, em 1739, ainda se trata do baptismo de um preto da Guiné com perto de vinte anos. (3) Há mais informações da presença de negros nesta zona, em épocas recuadas.

As Memórias Paroquiais indicam-na como Asoudes.

Uma herdade com este nome e que possivelmente terá dado origem à actual povoação, pertenceu aos Condes de Alcoutim passando no séc. XVII para a Casa do Infantado. O foro de 45 alqueires de trigo foi remido em meados do século XIX por José Mestre.(4)

Em 1943 a Junta de Freguesia concede um subsídio de mil escudos para a feitura de um poço.

O edifício escolar foi construído em finais dos anos sessenta do século passado, encerrando em 1989 por falta de alunos.

Nesta altura a Câmara Municipal manifesta-se contra a pretensão da Direcção Escolar de Faro de encerrar sete escolas primárias no concelho, entre as quais a deste monte. (6) Pouco tempo depois, um só casal obriga a reabri-la, voltando naturalmente a fechar.

Em 1992 a população pede a escola para nela instalar a sede de uma Sociedade Recreativa, o que parece ter acontecido.

[Antigo edifício da Escola Primária. Foto JV, 2010]

A electrificação teve lugar em 1984. (7)

A pavimentação dos arruamentos é concluída em 1991.

Depois do fornecimento de água por intermédio de nove fontanários, a mesma é levada ao domicílio em 2003. Havia quatro furos artesianos privados.

A instalação de caixas para receber o correio data de 1997.

Entretanto, é construído um abrigo para ser utilizado enquanto se espera pelos transportes rodoviários. A povoação é servida directamente pela estrada municipal nº 505.

[Abrigo para passageiros. Foto JV, 2006]

Segundo os dois últimos censos populacionais, em 1991 tinha 49 habitantes e dez anos depois (2001) tinha descido para 33.

Segundo o pároco que respondeu ao questionário, em 1758, eram-lhe atribuídos dois vizinhos (fogos) e doze pessoas, sendo dos montes menos populosos da freguesia.

É de notar que a linha divisória com a freguesia de Odeleite e consequentemente do concelho de Castro Marim passa a cerca de três quilómetros da povoação.

[Vista parcial da povoação em 2006. Foto JV]


Notas
(1)– Antiguidades Monumentais do Algarve, Lisboa, 1890.
(2)– Idem, ibidem, Vol III, pág. 71 e 72.
(3)- O Algarve Económico 1600-1773, Joaquim Romero Magalhães, 1988.

(4)– Livro de Registo de Rendas dos Prédios e Juros de Capitais Pertencentes à Fazenda Nacional no concelho de Alcoutim, termo de abertura e encerramento de 13 de Março de 1867.
(5)– Acta da Sessão de 24 de Janeiro daquele ano.
(6)- “Câmara contra
encerramento de escolas”, Jornal do Algarve, 2 de Março de 1989.
(7)- Jornal do Algarve de 15 de Junho de 1984.