quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Figos lampos (brancos)



A figueira, que parece originária do Oriente, tem sido sempre uma árvore de referência do Algarve, pela sua boa adaptação aos terrenos e ao clima e pela qualidade dos seus frutos de paladar agradável e dulcíssimo.

Apesar de ser uma cultura em decadência, o figo seco do Algarve continua a ser procurado por todas as casas da especialidade que querem tê-lo devido ao interesse sempre manifestado pelos compradores e constituiu, em tempos, produto de acentuada exportação.

Em meados do século passado a sua cultura ainda era uma actividade importante no concelho de Alcoutim, fazendo-se a plantação nos terrenos mais propícios, ou seja nos mais baixos e por isso, normalmente mais frescos, sendo as margens do Guadiana terrenos privilegiados para a cultura, sempre necessitada de muito sol.

No concelho de Alcoutim, o figo funcionava, na altura, como um dos sustentáculos da economia familiar, já que a sua existência proporcionava, em verde, a alimentação humana e os de inferior qualidade a dos animais, nomeadamente dos porcos. Na época própria,as pessoas deslocavam-se para os seus terrenos na margem do Guadiana, levando consigo os porcos.

Aí procediam à sua apanha e secavam-nos (local designado por almanxar) em esteiras de funcho, de cana ou de outros arbustos, enquanto os porcos iam comendo os que de pior qualidade que ficavam pelo chão.

O tempo era de calor e as pessoas dormiam nas propriedades junto ao rio em cabanas ou ao relento.

[Figueira carregada de figos. Foto JV, 2010]

Depois de secos eram transportados nas bestas para casa onde se procedia à selecção. Os de melhor qualidade destinavam-se ao consumo humano após a adequada preparação, havendo arcas de castanho onde eram acondicionados, bem espalmados uns sobre os outros e misturados com funcho e ervas doces.

Quando se ia trabalhar para o campo, uma mão cheia de figos no taleigo constituía muitas vezes a alimentação possível.

Os de pior qualidade destinavam-se ao suplemento alimentar de bestas e gado e guardavam-se em grandes canastras.

A folha da figueira constituía também alimento de vacas, ovelhas ou cabras.

Além disso, a destilação do figo proporcionava uma aguardente que fazia sempre jeito ter em casa.

A figueira-lampa dá duas camadas, sendo a segunda mais abundante, em meados de Agosto.

Conhecem-se cerca de 600 espécies de figueiras.