segunda-feira, 19 de julho de 2010

Alcoutim aguarda confiante que a abertura da barra restitua ao Guadiana o papel de elo de ligação

Pequena nota
Com este artigo que pensamos ter sido publicado no Diário Popular em 1968 termina a colaboração do nosso saudoso Amigo com a imprensa diária, colaboração que veio a ser premiada com um prémio pecuniário ao correspondente.
Anos depois, Luís Cunha dá início a uma nova colaboração, agora com a imprensa regional, por intermédio do Jornal do Algarve.

JV






Escreve

Luís Cunha






[O Guadiana na sua foz, em Vila Real de Santo António]

Como teste de vitalidade e segura esperança num futuro promissivo, não se abre hoje jornal algum em que se não contenham notícias denunciando o caminho certo afinal encontrado:- é aqui uma fábrica nova dando emprego a milhares de braços e alimento a milhares de bocas; - além uma outra sociedade com igual promessa, enquanto algures se instalam linhas de montagem de autos ou tractores, motos, geradores, “contactores” e sabe-se lá que mais de complicada aparelhagem eléctrica e industrial de toda a qualidade e uso.

É uma azáfama de manifestações criadoras por todo o Portugal d`aquém e d`além mar apertando mais e mais os velhos laços de família dispersa.

São fantásticas barragens, fontes novas e energia e riqueza, alicerces sólidos da edificação, pilares básicos dum movimento progressivamente ascensional.

Factores de toda a ordem, geográficos, económicos e sociais condicionam a escolha dos locais em que se ergue, -aproveitando em melhores condições as riquezas naturais do solo, aqui se monta uma nova indústria e ali uma outra de produtos de exportação beneficiando dos factores do porto; - cá é a densidade da população propícia ao recrutamento de mão de obra; - lá a própria vontade do industrial na concentração de interesses e mais longe ainda a privilegiada posição de encruzilhada.

Por todo o mundo português a vida se agita nesse impulso criador ao ritmo acelerado do jacto.

Fábricas em comboio, florestas de chaminés, é isto que diariamente os jornais anunciam: - o homem vencendo as mais adversas condições.

Mas não é justo esperar, nem talvez de desejar, que em um todo tão vasto e heterogéneo as vença a todas a um tempo.

Daí que algumas regiões dispondo de enormes reservas, riquezas potenciais, aguardem confiantes a oportunidade.

É o caso de Alcoutim medindo ainda o tempo pelo cantar do galo e altura do sol, e o espaço pela jeira e passadas do burro: - espera que a abertura da barra, restituindo ao Guadiana o papel de elo de ligação, sugira em algum espírito audacioso os benefícios que a região oferece a qualquer indústria dependente de transporte de matérias primas em quantidade e a grandes distâncias.

Alcoutim prepara-se entusiástica e confiadamente para a sua oportunidade, para não receber de chofre o primeiro impulso.