quarta-feira, 5 de maio de 2010

Vaqueiros, a freguesia serrana (...)

Pequena nota
Vamos hoje publicar mais um artigo do nosso saudoso amigo, Luís Cunha que foi publicado no Diário Popular, desconhecendo quando mas que o foi efectivamente após 23 de Maio de 1968, data em que foi enviado.
O autor não lhe dá título certamente porque os que enviou anteriormente foram alterados pelo jornal. Como não possuímos o jornal mas só a cópia do que foi enviado, optámos por ir buscar o título às primeiras palavras que o autor escreveu.

JV






Escreve

Luís Cunha



Vaqueiros, a freguesia serrana do concelho de Alcoutim, é talada no seu maior comprimento pelas duas enormes ribeiras da Foupana e Odeleite.

Uma curta estrada de poucos quilómetros, única em toda a freguesia, que se destinava a dar acesso às povoações totalmente isoladas, vai ligeiramente além da aldeia de Vaqueiros e termina ao encontrar os primeiros acidentes da vertente de Odeleite.

Daí se avista uma panorâmica de extraordinária grandiosidade:- mo emaranhado confuso das pregas, encobertos pelas dobras do enrugamento, anicham-se em pequenos aglomerados populacionais; - mais além as serranias da vertente portuguesa do Guadiana e lá ao fundo, a alguns quilómetros, as do lado espanhol.

É uma região de estranha beleza a que o escalvado dos serros confere pavorosa desolação.

Nela se implantaram esses pequenos povoados, sem preocupações com as comodidades de acesso, ou melhor, em conformidade com os meios da época – a pé ou cavalo – e tudo assim resta ainda hoje, adormecido, inacessível ao progresso, totalmente isolado e a enormes distâncias, sem comércio, sem sobras numa agricultura de fome.

[A aldeia de Vaqueiros nos dias de hoje.]

Até há bem poucos anos, o transporte dos mortos para o cemitério da aldeia, fazia-se com o cadáver amarado entre dois molhos de palha no dorso de um burro, uso que terminaria pela afronta e vexame ante os de fora mas ainda agora o povo diz que “ao mortos matam os vivos no caminho” tal o acidentado que só permite estreitas veredas de pé posto onde não cabem dois homens a par.

A designação porque são conhecidos alguns lugares “Horta dos guerrilhas”. “Cemitério dos guerrilhas”, informam-nos ter a região sido assolada com alguma insistência pelas famosas hostes do celebrado “Remexido” que se sabe ter atacado também a vila de Alcoutim incendiando a Câmara e demais repartições.

Povo pobre e atrasado mas de boa índole, a emigração levou-lhe a mocidade, e os efectivos que restam, clamam e bem merecem, pela continuação de duas estradas começadas há anos e que se destinavam a ligar os povoados cortando perpendicularmente as ribeiras. – Bem pouco pedem para o muito que precisam.


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