segunda-feira, 26 de abril de 2010

Os olhos de mimha Mãe (Poema)

Pequena nota
Limitar-me-ei a dizer que mãe e filho passaram pelo maior desgosto que um ser humano pode passar.
JV





O Poeta

José Temudo





Em certos dias,
quando me olho ao espelho,
olhos nos olhos,
o que vejo são os olhos da minha Mãe,
cheios de alegre ternura,
olhando a criança que eu fui,
no meu fatinho de marujo;
tal como eu olhei, anos mais tarde,
para os meus filhos, ainda pequeninos,
quando os passeava, aos domingos,
junto do rio, em Esposende,
e confiava na vida
e no seu futuro.

















[D. Marina Ramos Themudo]



Noutros dias,
quando me vejo ao espelho,
olhos nos olhos,
o que vejo são os olhos de minha Mãe,
mais do que tristes,
parados, sem vida,
chorando a morte, anunciada,
da minha irmã Teresinha;
tal como os meus, também eles mortos,
choraram, muitos anos depois,
a morte do Varinho,
igualmente anunciada.

Hoje,
quando me vi ao espelho,
olhos nos olhos,
o que vi foram os meus olhos
nos olhos de minha Mãe,
cheios já de uma imensa,
desconsolação
e dorida saudade
de todos nós e da vida
que foi a nossa.



Vila do Conde, Natal de 2005.