segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Igreja do Espírito Santo, matriz do Pereiro

Pequena nota
Das cinco existentes no concelho, é a última que nos falta referir, ainda que já lhe tivéssemos dedicado sete páginas no nosso trabalho A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», 2007.
Iremos fazê-lo agora de uma maneira mais sucinta e com base naquele trabalho.

JV




É o único templo existente na freguesia, o que não acontece com qualquer das outras do concelho.

Situa-se um pouco afastada da aldeia e em posição cimeira em relação a ela.

O templo já existia pelo menos na primeira metade do século XVI e era designado por Ermida do Santo Espírito.

Em 1758 e segundo as Memórias Paroquiais o orago era o Divino Espírito Santo e tinha cinco altares. No altar-mor as imagens do Apóstolo S. Pedro e São Sebastião. Na parte do Evangelho está o atlar de Nª Sª do Rosário com a sua imagem e junto está o altar das Almas com a imagem de São Miguel e a de Sto. António.

[Desenho de JV, anos 70]
Da parte da Epístola está o altar do Senhor Jesus com a imagem do Menino Deus e a imagem da Senhora da Consolação e um pouco mais abaixo o altar de São Marcos com a sua imagem.

O templo, tal como agora era de uma só nave e tinha duas irmandades, a das Almas e a de Nª Sª do Rosário.

Com as várias transformações sofridas, o altar passou a ser de pedraria e redondo, indicando mais uma porta, também de pedraria e virada para o sul.

O corpo do templo tinha sete varas de largo por dezasseis de comprido.

A pia baptismal que se encontra do lado esquerdo de quem entra no templo pela porta principal á considerada “hum testo de Sevilla vidrado” com o seu pé e coberto por tampa de madeira.

Pelo terramoto de 1755, (2) segundo Pereira de Sousa “não padeceo ruyna alguma...”, enquanto Pinheiro e Rosa diz que nessa altura registou-se a ruína, entre outras, da Igreja do Pereiro. (3)

Silva Lopes (4) escreveu: a igreja é medícre, tem conco altares (...) está só e num alto.
Pinho Leal (5) chama-a de pequena, velha e pobre.

O templo passou no decorrer dos séculos por situações de quase ruína, como aconteceu em meados da década de setenta do século passado.

[Cruz de ferro forjado. Foto de JV, 2006]
Actualmente tem fachada de bico com beiral. Portal rectangular, de pedraria sem qualquer interesse artístico. Porta de duas folhas de madeira, chapeadas. Por cima, uma pequena janela rectangular, gradeada. O mostrador circular do relógio que a Câmara mandou instalar em 1989, está colocado por cima da janela que areja e ilumina o templo. Sobre o bico da fachada, uma interessante cruz de ferro forjado, possivelmente saída das mãos de algum ferreiro local pois foi sempre terra destes artesãos. Sabemos que uma cruz aí colocada em 1845 custou dois mil e seiscentos réis.

[Torre sineira. Foto JV, 2006]
A torre sineira que é de secção quadrangular, tem quatro olhais. A cúpula é de forma alongada de tronco de pirâmide quadrangular e sobre a qual está colocado um cata-vento. É ornada, na base, em cada vértice, por pináculo de argamassa que termina igualmente em forma piramidal.

Possui dois sinos sendo o maior dedicado ao Espírito Santo, feito por Rafael Fernandes no ano de 1837.

Mantém-se a porta lateral para o sul que é rectangular e sem nada de interesse. A igreja, tal como no século XVI continua “cerquada de povaes ao redor das paredes (...)”

Os três botaréus da altura passaram a dois, suficientes para sustentar a actual parede.

Na abside, de talha dourada com alguns elementos de azul e vermelho, é de finais do século XVII.

Sacrário também em talha, do século XIX.

[O interior do templo. Foto JV, 1989]

Além deste altar, existem mais quatro, dois de cada lado, no corpo da igreja e que são:- das Almas, de Nª Senhora da Consolação, de Nª Senhora do Rosário e de Sto. António.

Os retábulos constituem um dos conjuntos mais valiosos da serra algarvia.

A imaginária também tem o seu interesse. Nª Sª da Conceição (séc. XVIII) São Marcos (séc. XIX), Nª Sª do Rosário (sé. XVIII), Arcanjo São Miguel, Nª Sª da Consolação, Sto. António, São Pedro e São Sebastião são exemplares que possui. (6)

O retábulo de São Marcos recebeu obras de conservação em 1774. (7)

A pia baptismal é de pedra sem qualquer trabalho de realce e encontra-se num recanto coberto por abóbada de berço.

No adro e em frente do portal, existiu um cruzeiro que foi removido, o que aconteceu igualmente às ruínas do passal.

Foi um curato da apresentação do bispo e passou a priorado. (8)

O cura tinha 360 alqueires de trigo e 70 de cevada. (9)

O pároco em meados do séc. XIX recebia por babtizado ½ alqueire de trigo e 180 réis e por óbito 350 réis. (10)

[A construção do estéctico mamarracho. Foto de A. Teixeira, 2008]

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NOTAS

(1) - “Visitações” da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio, Hugo Cavaco, 1987
(2) –O Terramoto do 1º de Dezembro de 1755 em Portugal e um estudo monográfico, Francisco Luiz Pereira de Sousa, 1909
(3)–“São Pedro na arte religiosa do Algarve”, Pinheiro e Rosa, in Correio do Sul, Faro, 1 de Junho de 1967.
(4)–Corografia do Algarve, 1841
(5)–Portugal Antigo e Moderno.
(6)–A Escultura de Madeira no Concelho de Alcoutim do séc. XVIi ao séc. XIX, Francisco Lameira e Manuel Rodrigues, 1985
(7)–Livro2 das Contas da Fábrica da Parochial Igreja do lugar do Pereiro, termo de abertura de 13 de Junho de 1767, pág. 19.
(8)–Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
(9)–Portugal Antigo e Moderno, A.S.B. Pinho Leal, Vol. 6, 1875, p.686
(10)–Corografia do Reino do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841.

NB
A Igreja já foi assaltada pelo menos duas vezes e que eu saiba só foram recuperadas algumas imagens.
JV