domingo, 4 de abril de 2010

A Igreja de Nª Sª da Assunção, matriz de Giões


A bonita igrejinha paroquial situa-se num grande largo no ponto mais alto da aldeia e pode ser avistada quando se chega à povoação vindo de sul e alberga artefactos dos séculos XVI e XVII – é assim que é referida em recente publicação. (1)

Construída em meados do século XVI, em 1565 faltava-lhe só a capela-mor e o campanário. (2)

De fachada de bico, as três naves que as constituem assentam em dez colunas, sendo as quatro das extremidades adossadas às paredes. A cobertura é de madeira.

Os fustes são lisos e os capitéis simples, despidos de decoração.

[Portal da Igreja. Foto JV, 1974]
A porta principal é de arco perfeito e orlada de trabalhos de argamassa, sem interesse.

Porta lateral.

No bico da fachada, simples cruz de ferro forjado.

[Torre sineira. Foto JV]
Torre sineira de secção quadrangular e de quatro olhais, possui três sinos. O maior pesa 250 kg, foi feito em Lisboa no ano de 1817, sendo dedicado à padroeira, Nª Sª da Assunção. Outro, de 170 kg e que está rachado, tem a imagem de S. José e foi oferecido pelo prior José Roiz Teixeira, em 1817. Foi refundido vinte e três anos depois por conta das três confrarias locais (Santíssimo Sacramento, Nª Sª do Rosário e das Almas). Dedicado a S. Pedro, a imagem apresenta-se de pluvial, mitra e chave. (3) Era esta a situação que se verificava em meados do século passado.

A capela-mor, classificada algures de magnífica, tem tecto que apresenta pinturas do século XVIII e conserva um retábulo neoclássico. (4)

Cadeiral sem valor artístico.

Em 1758 (Memórias Paroquiais), o pároco que respondeu ao questionário diz que a Paróquia tem cinco altares, descrevendo-os assim:

No altar-mor, ao meio da tribuna, está a imagem de Nª Sª da Assunção e no meio do mesmo altar está o sacrário com o Santíssimo Sacramento. Da parte do Evangelho, num nicho está a imagem de S. Pedro Apóstolo; da parte da Epístola e noutro nicho está a imagem de Santa Catarina.

O segundo altar é o colateral da parte do Evangelho e no meio dele está a imagem de Nª Sª do Rosário e do lado do Evangelho a imagem de Nª Sª das Relíquias (5)e da parte da Epístola, Santa Luzia.

O terceiro altar está no lado do Evangelho e é o altar das Almas onde se encontra num nicho a imagem de Nª Sª das Neves, sua Padroeira.

O quarto altar é o colateral do lado da Epístola e onde se encontra a imagem de Nº Senhor Jesus Cristo Crucificado e aos pés desta, a imagem de Nª Sª do Monte do Carmo.

O quinto e último altar está no lado da Epístola, no meio do qual se encontra a imagem de Santo António de Lisboa.

Nesta altura o pároco era Cura da apresentação do Senhor Ordinário e tinha de renda oito moios de trigo e um de cevada, pouco mais ou menos. Ao coadjutor pagavam os fregueses conforme a lavoura que faziam, tendo de renda três moios de trigo, pouco mais ou menos e era igualmente apresentado pelo Senhor Ordinário.


Quando visitámos o templo, por volta de 1975, a descrição feita pela nossa guia, e complementada com outros dados, deu origem à seguinte descrição:

Na tribuna a imagem da padroeira, Nª Sª da Assunção (séc.XVI), que tem coroa de prata; do lado do Evangelho, S. Pedro Apóstolo (igualmente do séc. XVI) e do lado da Epístola, S. Domingos.

No altar colateral do lado do Evangelho, encontrava-se Nª Sª do Rosário, imagem do séc. XV (6) e também as de Nª Sª das Relíquias (séc.XVI) e de Sta. Luzia; Sto. António de Lisboa estava no altar colateral do lado da Epístola.

Os dois restantes altares, que completam o conjunto de cinco, estão junto às paredes laterais. Do lado do Evangelho, o das Almas com Nª Sª das Neves (séc. XVII) e Nª Sª da Oliveira, hoje regressada à sua capelinha em Clarines, do lado da Epístola Nº Sº Jesus Cristo, crucificado e Nª Sª do Monte do Carmo. (7)

O púlpito, quadrangular e de madeira, nada possui de interesse.

A pia baptismal, de boca circular, situa-se sob a torre sineira, muito tosca e desprovida de qualquer beleza, nota-se, contudo, uma inscrição que não decifrámos.

Entraremos agora noutro tipo de património. No que respeita a paramentos, foi considerado o mais belo e rico do Algarve.

[Nª Sª da Assunção]

Vestes sagradas: – Existem ou existiram: - paramento para missa cantada - tecido persa com fundo branco muito antigo e composto de casula, dalmáticas, pluvial, estolas, manípulos e bolsa de corporais. Véu de ombros – de lhama branca, com aplicações de lhama de outras cores e bordados a ouro. Feitos cerca de 1840, têm a particularidade de serem executados na própria freguesia.

Roupas de altar – Frontal branco, tecido oriental. (8)

Entre as alfaias sacras, destacam-se uma custódia – cálix do século XVII, de tamanho médio com campainhas pendentes do ostensório e uma bela cruz processional de prata lavrada e relevada, da mesma época. (9)

[Altar-mor]

O Bispo do Algarve D. Joaquim de Sant´Anna Carvalho (1816/1823) deixou um legado a esta Igreja, exclusivamente para paramentos e guizamentos, legado que estava sob a inspecção do Prelado Diocesano. (10)

Sabe-se que em 1877 a Junta de Paróquia pretende fazer obras na Igreja e casas da residência do pároco. (11) Dez anos depois a mesma Junta delibera aplicar quinhentos mil réis nas obras da igreja. (12)

Trabalhos realizados no fim da última década de sessenta não preservaram elementos de interesse.

A Câmara Municipal mandou instalar em 1988 um relógio na torre da igreja. (13)

O templo tem uma área coberta de 420 m2 e estava inscrito na competente matriz sob o nº 725. Mais dois prédios anexos fazem parte do património.

Em 1976 constou-me que Nª Sª da Assunção possuía bastante ouro proveniente de dádivas dos seus devotos.


NOTAS
(1) - Portugal Meridional - Gentes, tradições, fauna e flora, John e e Madge Measures, 1995, p. 77.
(2) - A Escultura de Madeira no Concelho de Alcoutim do séc. XVI ao séc. XIX., Francisco Lameira e Manuel Rodrigues, 1985, p.11.
(3) - Vozes de Bronze, José António Pinheiro e Rosa, 1946.
(4) - Tesouros Artísticos de Portugal - Edições de Selecções do Reader`s Digest – 1976, p.285.
(5) – Nesta altura já a sua Ermida do Cerro das Relíquias não estava em condições para a manter na sua casa pelo que a recolheram na Igreja Matriz.
(6) – Idem, ibidem, op.cit. em (4).
(7) - Foi D. Catarina Mestre, natural da aldeia e que dedicou uma vida inteira ao ensino, que nos identificou as imagens e nos forneceu outras informações complementares.
(8) - "Exposição de Arte Sacra" in Boletim da Junta de Província do Algarve- Centenários, 1940.
(9) – Idem, ibidem.
(10) - Of. nº 91 de 23 de Abril de 1878.
(11) - Of. nº 172 de 12 de Novembro de 1877.
(12) - Acta da Sessão da C.M.A. de 5 de Maio de 1887.
(13) - Jornal do Algarve de 3 de Novembro de 1988.