domingo, 21 de março de 2010

Fontes de Zambujo montes do sul da Freguesia do Pereiro

Iremos hoje abordar estas três pequenas povoações relativamente perto umas das outras e que se distinguem, como é habitual, por de Cima, de Baixo e do Meio.

As Memórias Paroquiais (1758) apresentam-nas no seu conjunto tal como indicamos.

Situam-se como o título refere na parte sul de freguesia, aquela que sem dúvida tem melhores solos no aspecto agrícola e é por lá que se encontra o maior e melhor número de árvores, principalmente oliveiras e azinheiras.

Enquanto no nosso trabalho, A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», 2007, fizemos a abordagem separada, aqui vamos fazê-la em conjunto até porque há dados que são fornecidos sem qualquer distinção.

Para as encontrarmos, uma vez na sede de freguesia, a aldeia do Pereiro, tomamos já dentro dela o caminho municipal nº 1051 e que foi concluído em 1988.

Passamos o Barranco da Aldeia e depois o da Fornalha. Deixamos à direita dois moinhos há muito desactivados e mais adiante o despovoado monte da Silveira.

A estrada ainda que estreita é asfaltada e suficiente para o movimento que suporta. Foi repavimentada em 2001. (1)

Começa-se a descer e as oliveiras a aparecer nos terrenos mais baixos, enquanto nas encostas algumas amendoeiras.

Um pequeno desvio à esquerda leva-nos a um “monte” situado bem no alto de um cerro, estamos na Fonte Zambujo de Cima.

[Fonte Zambujo de Cima, 1992. Foto JV]

Grandes “arramadas”próprias de antigo lavrador local para recolha dos animais que trabalhavam a terra. Além dos burros, machos e mulas o lavrador não dispensava um macho bem gordo e aparelhado que o conduzia onde necessitava, aldeia, vila e montes circunvizinhos e que constituía um sinal de abastança.

[Chaminé de 1967. Foto JV, 1992]
Junto ao “monte” ainda havia terrenos limpos e produtivos. Uma eira e chaminé interessante datada de 1967.

Energia eléctrica só depois do 25 de Abril. A água foi distribuída por cinco fontanários e levada ao domicílio em 2005(2). Existiam três furos artesianos particulares.

As ruas da povoação foram pavimentadas em 1993 e colocado painel de caixas do correio em 1996.

Fica a 4 km do Pereiro.

A pastorícia era actividade importante para os moradores, 15 em 1991 e 11 dez anos depois, segundo os censos populacionais. Já em 1771 o era como provam os manifestos feitos por António Rodrigues, João da Palma Cavaco e Manuel Lourenço e constituído por centenas de cabeças, nomeadamente cabras e ovelhas.(3)

As Memórias Paroquiais (1758) referem como produtos da terra trigo, cevada, centeio e linho (quesito 15).

[Fonte Zambujo de Cima, 2006. Foto JV]

A nível histórico referimos que com o liberalismo, António Gonçalves, natural de Alcaria Ruiva, concelho de Mértola, e que veio casar com a filha de um lavrador local (Ana Cavaco) (4), presidiu à Junta de Paróquia entre 1835/38 e em 1839 era o Procurador Fiscal na Câmara de Alcoutim. Em 1850/51, exerceu o cargo de Juiz Eleito da freguesia em que residia.

Foi vereador na Câmara de Alcoutim pelo menos em 1854 tendo assumido a presidência da mesma entre 1855/58.

António Cavaco e José Guerreiro eram dos maiores contribuintes da freguesia.

Igualmente em 1858, António Botelho pertencia à Junta de Paróquia e José Guerreiro foi Juiz Eleito em 1854.

O já referido António Cavaco ou outro com o mesmo nome, juntamente com outros lavradores da freguesia, em 1891, comprometeram-se a adiantar “verbas que estavam em falta por alguns fregueses”, a fim dos serviços da padroeira (igreja matriz) poderem funcionar até ao pagamento das importâncias em falta, isto desde que a Junta de Paróquia não lançasse por enquanto a contribuição (derrama) que a lei lhe facultava.(5)

Fomos procurar a segunda Fonte de Zambujo. Voltámos a percorrer em sentido inverso o pequeno ramal que nos tinha levado ao monte de Cima, voltando assim à estrada municipal 1051. Mil metros andados encontramos o pequeno núcleo populacional que procuramos. Era lá que se encontrava, por ter uma posição central, a escola do ensino primário que reunia as crianças dos “montes” próximos, desactivada em 1982 por falta de alunos e aproveitada, após restauro e adaptação, para núcleo museológico, A Construção da Memória, inaugurado em Junho de 1998 (6) mas depressa encerrado como não podia deixar de ser.

Ainda havia (1992) um rebanho de 100 ovelhas. Dois fontanários para três moradores.

Em 1931 foram concedidos 500$00 para arranjo do poço existente, trabalho fiscalizado pelo vereador da Comissão Administrativa da Câmara, José Teixeira.(7)

[Lombada ou Fonte Zambujo do Meio. Foto JV, 2006]

Alguém, um dia, trocou, por pura ignorância, o topónimo Lombada por Lombardos, isto aconteceu já depois do 25 de Abril quando se fez a actualização de um primeiro folheto turístico mandado editar pelo então presidente da Câmara, Luís Cunha. O desdobrável, a cores, veio cheio de gralhas o que aborreceu bastante aquele nosso Amigo, como nos manifestou. Com a Corografia do Algarve, de Silva Lopes, aconteceu o mesmo como se pode verificar.

Já fomos acusados do erro nos pertencer por na chamada “Monografia de Alcoutim” termos publicado um mapa do concelho onde o erro existe. Acontece que este mapa nos foi fornecido pela Câmara Municipal e só posteriormente o detectámos.

O que mais nos confrange é a Entidade responsável continuar a insistir no erro apesar de todos os reparos feitos. Fá-lo por teimosia ou ignorância.

Lombada é a Fonte de Zambujo do Meio já que se situa entre a de Cima e a de Baixo. Era esta a designação que se lhe atribuía pelo menos em meados do século passado.(8)

O topónimo Lombada, de que existem vários exemplos no país, é de origem topográfica, do substantivo feminino lomba.

Para alcançar o “monte” que nos falta, o de Baixo, continuamos a descer na mesma estrada, para pouco depois subirmos, pois a pequena povoação situa-se numa elevação.

Distará cerca de 6 km da sede da freguesia.

[Oliveiras e montado. Foto JV, 2006]

A zona que percorremos, ainda que acidentada e contrariamente ao que acontece noutros locais é bastante arborizada, com algum montado e oliveiras provenientes de enxertia de zambujeiros, além de amendoeiras.

Em 1991 são-lhe atribuídos 20 habitantes para no censo seguinte serem 15.

Temos elementos que em 1992 existiam oito moradores em quatro fogos.

[Fonte Zambujo de Baixo. Foto JV, 2006]

O monte recebeu energia eléctrica, arranjo das ruas e o fornecimento de água praticamente na mesma altura que os seus homólogos.

A última vez que lá estivemos (2007), só dois fogos eram habitados com efectividade.

A estrada termina neste “monte” e existe um caminho para as Soudes.

As Memórias Paroquiais de 1758 atribui às Fontes de Zambujo 23 vizinhos (fogos) e setenta e duas pessoas e Silva Lopes, na Corografia do Algarve, 1841, mas referente ao ano de 1839, indica que as Fontes do Zambujo têm 16 fogos.

Nos dois últimos censos existem duas indicações:- Fonte Zambujo e Fonte Zambujo de Cima. Pensamos que a designação de Fonte Zambujo corresponde ao que designamos como a de Baixo e a do Meio.

Deixámos para o fim aquilo que costumamos fazer no princípio, a abordagem do topónimo.

Trata-se de um topónimo composto por Fonte e Zambujo e de fácil explicação.

No nosso país, na Galiza e no Brasil, “Fonte” é um topónimo muito frequente, só ou acompanhado, existindo também variadíssimos derivados.

A existência de água e consequentemente de “fontes” foi sempre indispensável e importante para a fixação do homem, o que aqui veio a acontecer. Para a distinção de qualquer outra recorreu-se ao reino vegetal optando-se pelo zambujo (zambujeiro ou azambujeiro) certamente devido à sua existência na zona e que por enxertia veio a originar oliveiras.

O topónimo tem sido designado ao longo dos tempos por Fontes de Zambujo, Fontes do Zambujo ou Fonte Zambujo, o mais recente.

É o que se nos oferece dizer sobre estes “montes” hoje quase despovoados.


NOTAS

(1) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 8 de Setembro de 2001, pág. 3
(2) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 11, de Janeiro de 2005, pág. 9.
(3) – Livro de Manifestoz e Arolam. to da Camera doz Gadoz, iniciado antes de 1771 (faltam folhas)
(4) – Assento de Óbito nº 19, de 8 de Setembro de 1866 (Freguesia do Pereiro), in Arquivo Distrital de Faro.
(5) - Acta da Sessão da Junta de Paróquia do Pereiro de 21 de Janeiro de 1891.
(6) - “Alcoutim inaugura Museu do Pereiro”, in Jornal do Algarve de 2 de Julho de 1998.
(7) – Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 6 de Agosto de 1931
(8) – Vide acta da Sessão da Junta de Freguesia do Pereiro de 28 de Fevereiro de 1942