sexta-feira, 5 de março de 2010

Alcarias Covas, montes da Freguesia do Pereiro

A primeira notícia que conheço sobre Alcaria Cova foi-me dada pelo Professor Doutor Borges Coelho que no seu trabalho em dois volumes, Inquisição de Évora, dos primórdios a 1668, publicado em 1987, refere-a pág.295 do 1ºvolume como residência de uma das vítimas da Inquisição de Évora neste período.

As Memórias Paroquiais (1758) na constituição da Paróquia do Pereiro indicam Alcarias Covas, hoje com as designações de Alcaria Cova de Baixo, Alcaria Cova de Cima e Alcaria.

Nessa altura não havia a destrinça que há hoje, e que é relativamente recente pois no século XIX ainda assim acontecia.

Nas Memórias Paroquiais que referimos, as Alcarias Covas são apresentadas como tendo 30 vizinhos e cem pessoas, sendo a seguir a Vicentes, o “monte” mais populoso.

Situam-se na parte sudoeste da freguesia, relativamente próximo umas das outras, encontrando-se além delas o desabitado monte dos Matos.

Saindo do Pereiro e seguindo pela EN 124 pouco depois encontramos um entroncamento à esquerda que seguimos, estando a utilizar e estrada municipal nº 508. Um pequeno desvio igualmente à esquerda, leva-nos ao primeiro monte, ao monte de Baixo. Deverá situar-se a cerca de 4 km da sede da freguesia.

A pequena povoação, como o nome indica, situa-se na encosta de uma pequena elevação, sendo pouco visível da estrada.

[Alcaria Cova de Baixo. Foto JV, 2010]

Em 1853/54, António Dias, deste “monte”, era membro da Junta de Paróquia do Pereiro e em 1858, Manuel Alves, o maior contribuinte fiscal da freguesia.

A criação de gado e a cerealicultura constituíram a actividade destas gentes.

[Alcaria Cova de Baixo. Poço do "monte". Foto JV, 2006]
O poço do monte foi apetrechado nos anos sessenta do século passado com bomba elevatória, que ainda se conserva. Após o fornecimento de energia eléctrica distribuiu-se a água por três fontanários e ao domicílio em 2002. (1)

As ligações telefónicas fixas foram estabelecidas em 1985.

Em 1993 os arruamentos foram pavimentados e colocadas caixas de recepção de correspondência em 1997.

Em sessão da Câmara Municipal de 2 de Dezembro de 1939 (2) é aprovada uma proposta para a criação imediata de um posto de ensino escolar, o que veio a acontecer. Mais tarde, segundo informação oral o posto escolar funcionou em Alcaria.

Foi dos primeiros “montes” que conheci no concelho, tendo estado em casa do lavrador, João Gomes Alves, (1904-1976), juntamente com o saudoso médico, Dr. João Lopes Dias.

Aí comi pela primeira vez, azeitonas de sal, que não gostei e que hoje muito aprecio. Já lá vão mais de quarenta anos!

Esta antiga casa agrícola do século XIX foi recuperada e transformada em casa de campo, proporcionando assim a quem o desejar a prática de turismo rural, cada vez mais procurado.

[Alcaria Cova de Baixo. "Casa Grande". Foto de JV, 2006]

A “Casa Grande”, como é designado o empreendimento, possui três quartos duplos e uma suite, todos com casa de banho privativa. Ar condicionado.

Sala de convívio com lareira, mesa de jogos, parque de estacionamento privativo, são mais algumas das características.

Na sua Corografia do Reino do Algarve (1841), Silva Lopes, num mapa anexo, atribui a Alcarias Covas (continuando assim a designação conjunta) e em relação ao ano de 1839, 25 fogos, número só superado, a nível de montes, por Tacões, estando em pé de igualdade Vicentes e Cerro da Vinha.

O decréscimo populacional verifica-se em meados do século passado e com acentuada incidência nos últimos anos.

Alcaria Cova de Baixo em 1991 tinha 23 habitantes, para dez anos depois passarem a ser 19.

Existe um forno comunitário.

Daqui parte um caminho pelo qual se alcança o desabitado monte dos Matos.

Fomos procurar o “monte” de Cima que fica a pouca distância.

O troço da EN 124 a Alcaria Cova de Cima e ramal para Alcaria Cova de Baixo, com terraplanagens, obras de arte, pavimentação e sinalização, foi posto a concurso por edital da Câmara Municipal datado de 27 de Abril de 1987.

[Alcaria Cova de Cima. Foto de JV, 2010]

Fica praticamente junto da estrada nº 508.

Em 24 de Junho de 1845 foi apresentado na Sessão da Câmara um requerimento dos lavradores do Pereiro e de Alcaria Cova pedindo que fossem coimeiros para o gado miúdo até 15 de Agosto próximo, os restolhos entre o caminho que vai para Martim Longo, saindo do Pereiro, e o que sai para o Tesouro para servirem de pastagem a reses e bestas.

Sem sabermos se pertenciam ao monte de Cima ou ao monte de Baixo, uma vez que não é indicado, porque na altura não era uso fazê-lo, indicamos aqueles que em 1771 fizeram o manifesto dos seus gados, principalmente caprino e ovino: - Manuel Pereira, Manuel Pereira Júnior, António Pereira, Manuel Alves, Domingos da Palma, Manuel Gonçalves e Manuel Gonçalves Cavaco.

Alcaria Cova de Cima, como o nome indica, situa-se numa posição mais elevada.

Notam-se a recuperação de várias casas, nem sempre da maneira mais adequada.

Anotámos a presença de um forno de cozer pão ao gosto da região, tendo junto a pilheira e o poial.

[Alcaria Cova de Cima. Casa típica. Foto JV, 2006]

Ainda se podem ver paredes de pedra não rebocadas e algumas circulares.

Na década de sessenta do século passado possuiu este monte uma associação com edifício próprio que se dedicava ao entretenimento das suas gentes. Nela se realizaram grandes bailes a que concorriam os jovens dos montes circunvizinhos e da aldeia, com deslocações a pé, como era próprio da época.

O edifício acabou por ser vendido quando se deu o maior êxodo das populações.

Dispôs de três fontanários, hoje eliminados, pois é fornecida água ao domicílio.

Em 1991 tinha 22 habitantes e dez anos depois o número descia para 14 em 8 fogos, segundo os Censos e sendo hoje certamente bastante menor.

Falta-nos a terceira e última Alcaria.

[Alcaria. Foto de JV, 2006]

Um pouco mais afastada, seguindo pela estrada a caminho da Ribeira da Foupana, encontramos este monte que tinha mau acesso (1989). Havia um único morador que praticava uma agricultura de subsistência e era apicultor. Vendia mel, ovos e galinhas.

Foi recentemente electrificado, o seu acesso é asfaltado e dele para o sul, desfruta-se de excelente vista.

Apresenta algumas construções de tipo moderno.

Alcaria, como variadíssimas vezes temos referido, é topónimo de origem árabe que significa a aldeia, povoação.


NOTAS
(1) – Alcoutim, Revista Municipal nº 9, de Dezembro de 2002, pág. 7
(2) – Acta da Sessão.