terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Igreja Matriz de Vaqueiros



O simples mas gracioso templo, que tem por invocação S. Pedro, no dizer de Pinheiro e Rosa, (1) é mais antigo que a criação da freguesia, sem contudo dever recuar dos princípios do século XVI.

Silva Lopes (2) classifica-a como “mediana com três confrarias de certos rendimentos “ e Pinho Leal (3) como “Egreja ordinária e pobre”. O Dicionário "Portugal" (4) informa que “é pobre e nada tem de notável”.

Estas duas últimas referências baseadas uma na outra, como tudo indica, não correspondem de maneira nenhuma à realidade, como a seguir justificaremos.

Templo quinhentista, que estava quase concluído em 1565, (5) foi remodelado no século XVIII. (6) É daí que lhe vem o frontão da fachada principal e a torre sineira, principalmente a sua cobertura, de estilo barroco tardio. (7)

A frontaria é baixa e o frontão fantasiado com pináculos nos cantos e ao centro uma cruz de ferro forjado.

A porta, de arco quase ogival, é decorada com cabeças de anjos nas pilastras.

A torre sineira, à esquerda da fachada, fica à face da mesma e é de quatro olhais, cujos frontões acompanham a cornija do varandim, em cujos cantos se erguem fogaréus do mesmo tipo da cúpula, sobre a qual se situa um cata-vento figurando um galo, símbolo da vigilância e muito vulgar nas torres das igrejas.

A torre tem dois sinos. O maior, de 0,50 m por 0,95 de diâmetro, pesa 140 kg. Há nele uma cruz e a legenda: S. PEDRO ORA PRO NOBIS - ANNO DE 1779. Já não é o que fora posto em 1755, para o qual a confraria do Santíssimo despendera 2000 réis.

O menor, que mede 0,40 m por 0,46, pesa 70 kg. Além da cruz tem as seguintes inscrições: ESTE SINO MANDOV FAZER O Rº. Pe JOSÉ MARIA REIS - ANTÓNIO FERNANDES PAULO ANDADEV O FEZ EM 1860. (8)


Sobre a capela-mor também existem florões.

A porta lateral da fachada direita é igualmente quinhentista.

Pouca ruína teve do terramoto de 1755 pois apenas abriu algumas pequenas rachas na sacristia e campanário e essas ainda se não repararam pela pouca ruína que ameaçam, segundo refere a “Memória Paroquial”



É de uma só nave que dá acesso à capela-mor, mais estreita e de planta rectangular.

O retábulo do altar-mor, do século XVI, enquadra duas pinturas sobre tábua, da mesma época, figurando Sant ‘Ana e S. José. O arco que precede o altar da Senhora da Soledade está ornado com pinturas ao gosto do século XVIII. (6)

Cadeiral maneirista.

A imagem do padroeiro que apresenta um báculo na mão esquerda e uma chave na direita é pintada, dourada e estofada e encontra-se no nicho principal do retábulo da capela-mor. (9)

Na indumentária havia uma bolsa de corporais de seda branca bordada a ouro em relevo no anverso e a sedas matizadas no reverso, devendo tratar-se, segundo Pinheiro e Rosa, de peça do século XVIII.


Uma pequena custódia de prata lavrada e ostensório radiado que já existia em 1790 e um cálix do século XVIII, de prata dourada e relevada com motivos vegetais, sendo a ornamentação do pé e base toda em escudetes irregulares, constituem peças de ourivesaria a mencionar.
Existia um livro litúrgico datado de 1621. (1)

A Junta de Paróquia foi autorizada em 1860 a lançar uma derrama com o fim de fazer face à despesa com a fundição de um sino e a compra de um paramento roxo. (10)

Em 1884 a mesma Junta apresenta a Sua Majestade uma petição solicitando um subsídio para poder compor a Igreja Paroquial que se achava em ruínas. A Câmara Municipal que para o efeito a tinha de confirmar fá-lo atestando a veracidade do alegado. (11)

Em 1988 a Câmara Municipal mandou colocar um relógio na torre.

O templo situa-se num extremo da aldeia, tendo à saída do adro um escadório que nos leva ao largo principal.

Está inscrito na matriz predial com uma superfície coberta de 274 m2 e 600 de logradouro, que na última visita que lhe fiz, encontrava-se mal cuidado.

Tenho conhecimento que recentemente recebeu obras de restauro que não conheço.

NOTAS

(1)-“São Pedro na Arte Religiosa do Algarve”, Pinheiro e Rosa in Correio do Sul de 1 de Junho a 13 de Julho de 1967.
(2)-Corografia do Reino do Algarve.
(3)-Portugal Antigo e Moderno.
(4)-Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues.
(5)-Alcoutim - Algarve - Portugal (Brochura Turística), Francisco Ildefonso Lameira.
(6)-Tesouros Artísticos de Portugal , Selecções do Reader’ s Digest, 1976.
(7)-“Um olhar sobre as Igrejas de Alcoutim” (Folheto Turístico) Ed. C.M.A.
(8)-Vozes de Bronze , P. José António Pinheiro e Rosa,1946.
(9)-A Escultura de Madeira no concelho de Alcoutim do séc. XVI ao séc. XIX , Manuel Rodrigues e Francisco Lameira,1985.
(10)-Acta da Sessão da C.M.A. de 8 de Agosto de 1860.
(11)-Acta da Sessão da C.M.A. de 7 de Agosto de 1884.