sábado, 1 de agosto de 2009

Rosmaninho, minha flor

Poemas de
José Temudo


ORVALHO DO MAR

Porque te chamaram assim,
meu Lindo rosmaninho?
Longe de mim pensar
que não fosse por carinho!
Que poeta, cego de amores,
ousou imaginar
que uma delicada haste de flores,
fosse orvalho do mar?
Porque te chamaram assim,
doce rosmaninho,
perdido nos secos cerros de Alcoutim,
entre estevas e alecrim?


Vila do Conde, 19 de Abril de 2007.


Uma simples flor
é mais do que apenas uma flor!
É forma,
é aroma,
é cor,
é vida!
Indiferente ou sentida?
Tem sentimentos uma flor?
Alegrias, tristezas, segurança, temor?
Se lhe falo com carinho,
o que sente o rosmaninho?
Só pode sentir amor!


24 de Dezembro de 2007.


ROSMANINHO SECO

Velho e relho,
ressequido, desfolhado,
sem cor, sem beleza,
sem odor, sem vida
que outra vida atraia,
meu rosmaninho querido,
o que te resta?
Se em ti já nada presta,
porque te manténs de pé, orgulhoso,
como se vivo fosses, formoso?
Se já por nada te interessas,
se já a ninguém interessas,
porque persistes
simulando vida,
se já não existes?
Assim seco e desnudo,
esta é aquela hora,
de te ires embora,
de mansinho,
meu triste rosmaninho,
meu pobre Zé Temudo!


Vila do Conde, 19 de Abril de 2007.


Um dia, quando eu for nada,
peguem em mim
e plantem-me, solitário,
num cerro duro e seco de Alcoutim.
Verão nascer, crescer e florir,
um forte e cheiroso tufo
de estevas, de rosmaninho e de alecrim.


Vila do Conde, em data incerta.


Pequena nota

É a primeira vez que apresentamos uma entrada de POESIA no ALCOUTIM LIVRE.
Fazemo-lo com muito prazer e até porque é área em que não entro. Não fui dotado com esse dom, ainda que haja na minha família várias pessoas que com ele tenha uma relação próxima.

Sendo assim, só o Espaço dos Amigos poderia colmatar essa falha o que hoje é feito por este Colega e Amigo, o que muito me orgulha.

Se é patente o bucolismo do poeta, o que não me admira, não deixa de surpreender-me a forte ligação que mantém com esta pequena vila raiana. Que se tivesse manifestado quando foi “arrancado pela raiz”, ainda que seja de admirar, compreende-se; o que para mim é difícil de entender é a permanência desse apego por toda a vida, chegando ao manifesto de“plantem-me solitário/ num cerro duro e seco de Alcoutim.” para alimento “de estevas, de rosmaninho e de alecrim.”

Recorrendo às palavras do autor,” mais não são do que um reflexo da saudade e do carinho que sempre senti por Alcoutim.”

Poucos até hoje têm sabido sentir assim Alcoutim.

Obrigado, Bom Amigo pela lição de fascínio que uma pequena terra pode motivar!



[Rua de Alcoutim onde viveu José Temudo na década de 30 do século passado. Foto JV, 2009]