domingo, 16 de agosto de 2009

Os parreiros


[A caminho da Lourinhã]

Há uns anos atrás li numa acta da Sessão da Câmara de 17 de Março de 1877 que entre uns tantos requerimentos apareciam estes que além do nome da pessoa apresentavam uma designação a todos comum.

José Corvo, Parreiro da Lourinhã
José Luiz, Parreiro do Vinagre
António Felipe, Parreiro do Pontal (1)

Estes requerimentos solicitavam uma indemnização motivada pelos estragos provocados pela Grande Cheia do Guadiana que tinha devastado as margens do rio.
A Câmara, conhecendo a razão dos requerentes, a todos informou positivamente.

Neste pequeno apontamento não está em causa a formalização do pedido e dos resultados que daí vieram, mas sim saber o que seria um parreiro.

Dicionário para a esquerda, enciclopédias para a direita e o termo nunca apareceu. Certamente que se tratava de um regionalismo.

Era natural relacionar o termo com “parra de videira”mas não dava para ir mais além.

Foi um tio por afinidade e natural de Alcoutim que acabou por me explicar o que era um parreiro pois nos seus tempos a actividade existia sendo exercida nas margens do rio.

O parreiro era um homem que se comprometia a guardar os bens agrícolas que existiam nas margens do rio e numa determinada zona que pudesse vigiar. Contratava verbalmente com os proprietários das várzeas uma espécie de “maquia” a receber por esse trabalho e que era calculada em função da área, do número de árvores e das culturas praticadas.

Não admira que fosse escolhida a designação de parreiro já que em tempos passados as margens estavam cobertas de vinha e seria esta talvez a primeira preocupação. Depois devia de se ter estendido a outras culturas.

Reparar que as zonas das suas intervenções, neste caso, aparecem bem definas: Lourinhã a Norte de Alcoutim e Vinagre e Pontal a Sul.

Se as margens do rio foram devastadas com as enxurradas, não eram apenas os proprietários os prejudicados, os parreiros perderam igualmente a sua “maquia”.

Há muitos anos que esta actividade deixou de existir pelo abandono agrícola das várzeas do rio pelo que o termo se foi esboroando com o decorrer dos anos.

Não consta do Dicionário do falar Algarvio, de Eduardo Brazão Gonçalves.

Aqui fica esta pequena explicação para quem desconheça o termo.

NOTA

(1) - Em 1867 era parreiro no Pontal, Filipe José que consta como testemunha num assento de casamento. Possivelmente será ascendente do  indicado.