quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Castelhanos, um "monte" com nome especial


[Monte dos Castelhanos, vista geral. Foto JV, 2009]

Neste roteiro que há décadas temos vindo a efectuar pelos montes do concelho, leva-nos hoje a este monte da freguesia de Martim Longo que pela sua amplitude e tenacidade de suas gentes teve sempre um papel importante na freguesia.

Situa-se a 4 km da aldeia de Martim Longo a que está ligado por estrada asfaltada, sem grandes desníveis, correndo a caminho da Ribeira do Vascão, limite por este lado com o concelho de Mértola, havendo por isso a transição do Algarve para o Alentejo.

Em 1992, quando foram tiradas estas notas, o planalto onde se situa ainda era utilizado para a cerealicultura e num ou noutro sítio mais alto apareciam algumas amendoeiras. Na altura, os terrenos encontravam-se quase todos limpos de mato.

A pavimentação da estrada teve lugar em 1991, tal como os arruamentos do monte. (1)

O piso desta estrada foi substancialmente melhorado em 2000. (2)

O Centro Recreativo situava-se no lado esquerdo da estrada no sentido Martim Longo – Ribeira do Vascão. Era o local de convívio dos seus moradores e em 1988, na missão que lhe cabe, a Câmara Municipal mandou instalar uma máquina de café. (3)

É possível que uma herdade então existente e propriedade dos Condes de Alcoutim, designada por Carrascal ou Castelhanos, património que já vem do Senhor e Alcaide de Alcoutim, João Freire de Andrade, tivesse dado origem à povoação.

Sem meios de comunicação para explorar a herdade teria que haver fixação de gentes, hipoteticamente começada pelo responsável da mesma (a que se veio a chamar feitor) e mais criadagem, não esquecendo os escravos de que há registos no concelho de Alcoutim.

Ficou o nome de Castelhanos como poderia ter ficado Carrascal, de origem vegetal e de que há exemplos, além de Portugal, na Galiza e no Brasil.

Com o confisco dos bens do 6º Conde de Alcoutim, degolado no Rossio em Lisboa em 1641, por conjura contra D. João IV, os bens passaram à Casa do Infantado, criada a favor dos segundos filhos do rei. Mais tarde, com as lutas liberais, personificadas por D. Pedro e D. Miguel, o liberalismo vencedor acabou por alienar todo esse património de que ficaram leves resquícios a nível nacional como por exemplo o Palácio de Queluz.

Neste caso o foro foi remido em 1859 por 224.640 réis a favor de António Pereira. (4)

Em 1848 tem-se conhecimento que vivia neste monte um Manuel Pereira que exercia o lugar de vogal efectivo do Conselho Municipal e que um ano antes era o Juiz Eleito da freguesia. (5)

Recuando no tempo há notícias (Séc. XVII) de um lavrador local, de nome Afonso Guerreiro, que foi capitão de ordenanças e Juiz do geral, de Alcoutim.


[Castelhanos. Vista parcial com placa toponímica. Foto JV, 2009]
A nível de topónimo, a minha habitual fonte de consulta (6) indica-me além desta outra povoação na freguesia e concelho de Castro Marim, havendo outras no singular feminino e no plural, tendo todas uma origem semelhante ainda que os motivos sejam ou possam ser diferentes e não fáceis de determinar. Quase todas se situam a sul do Tejo e próximas ou não muito distantes da fronteira.

Como se sabe castelhano é o natural de Castela e o designativo já andava pelo menos no século XV ligado aos nomes próprios (antropónimos).(7)

O intercâmbio fronteiriço na zona de Alcoutim existiu sempre e pelos mais variados motivos, nomeadamente de trabalho, de contrabando e políticos.

Os castelhanos é que teriam dado origem ao topónimo, o que se desconhece é a razão que o motivou.

Não esquecer que por vezes a permanência prolongada num país ou numa região dá origem à aglutinação desses nomes sendo por demais conhecido que os portugueses depois de muitos anos no Brasil, onde angariaram alguns meios de fortuna, ao regressarem às suas terras de origem começaram a ser conhecidos por “Brasileiros”.

Eu conheci na freguesia de Alcoutim um indivíduo que por ter estado em Espanha alguns anos e ao regressar à sua terra natal ficou sendo conhecido por Joaquim Espanhol o que nunca foi. Transmitiu ao filho, nascido nas Cortes Pereiras, esse epíteto.

O que se teria passado em relação ao nome do monte de Castelhanos? Não sabemos, demos só algumas pistas.

Ainda que as Memórias Paroquiais (1758) indiquem o Monte dos Castelhanos como fazendo parte da freguesia de Martim Longo, não indica a sua população.

Em 1839 Silva Lopes (8) indica como tendo 29 fogos, número na altura só suplantado na freguesia por Santa Justa e Pessegueiro.

O censo de 1911 indica 103 habitantes, passando para 155 em 1940. Vinte anos depois perde 30, passando por isso a contar com 125. Muito mais pronunciada é a descida na década seguinte pois desce para 77. Entre esta data e 1991, ainda que continue a verificar-se uma descida, existe uma maior estabilidade. Em 1981 são 68 os habitantes e em 1991 passam a ser 62, sendo apesar disso dos mais populosos da freguesia. A partir daqui não tenho elementos mas atendendo ao que se passa em todo o concelho o decréscimo populacional teria continuado.

A Associação de Caçadores de Castelhanos e Laborato tem a seu cargo uma zona de caça associativa e foi contemplada em 1995 com um subsídio de 500 contos conferido pela Câmara Municipal. (9)


[Ponte sobre a Ribeira do Vascão. Foto JV, 2009]

O caminho entre esta povoação e o Laborato, que lhe fica próximo, foi arranjado em 1995, tal como o rústico que nos leva à Ribeira do Vascão. (10)

A pavimentação dos seus arruamentos estava concluída em 1991 (11) e o fornecimento de água ao domicílio foi realizado dez anos depois. (12)

A construção de uma ponte sobre a Ribeira do Vascão, que liga os concelho de Alcoutim e de Mértola, tendo como povoações mais próximas Castelhanos (Alcoutim) e Penedos (Mértola) começou a ser equacionada em 1992 (13) e o início dos trabalhos está previsto para 1995/96.

Em 1997 os trabalhos já estão em curso indo a estrutura ter 60 metros de comprimento e 8,5 de largura. (14). Com as grandes chuvadas de Novembro desse ano, o leito da ribeira chegou a uma altura de 7 metros e a enxurrada destruiu a estrutura que estava pronta a receber o betão. (15)

Em Dezembro de 1999 a ponte já está aberta ao público segundo noticia a imprensa regional (16), existindo, contudo, na ponte, por baixo do brasão do município de Alcoutim, a data de 1998.

Vestígios arqueológicos nos “Palheirinhos do Cavalo” onde a tradição diz ter existido uma grande pedra com a pata de um cavalo, daí o micro topónimo.

Numa pequena elevação situada próximo da estrada, foram encontradas telhas decoradas e vários fragmentos, incluindo de ânforas, possivelmente do período tardo-romano.

Sabe-se também que no sítio da “Casa da Canela” foi registada em 1883 uma mina de cobre e outros minérios. (17)

Foi até agora o que conseguimos reunir sobre esta povoação, da freguesia de Martim Longo, concelho de Alcoutim.

NOTAS:
(1) – Boletim Municipal, nº 8, de Abril de 1991.
(2) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 3, Março de 2000, pág.13.
(3) - Boletim Municipal, nº 3, de Setembro de 1988.
(4) – Livro de Registo de Rendas dos Prédios e Juros de Capitais Pertencentes à Fazenda Nacional no concelho de Alcoutim – termo de abertura de 13 de Março de 1867. in Arquivo da então Repartição de Finanças de Alcoutim.
(5) – Acta da Sessão da C.M. de Alcoutim de 9 de Dezembro de 1847.
(6) – Novo Dicionário Corográfico de Portugal, A.C.Amaral Frazão, Editorial Barreira, Porto, 1981.
(7) – Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Horizonte/Confluência, 1993, I vol. Pág.370.
(8) - Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, Algarve em Foco, Editora, 1988.
(9) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 2 de Dezembro de 1995, pág. 21
(10) – Alcoutim, Revista Municipal nº 1, de Maio/Junho de 1995, pág. 24.
(11) – Boletim Municipal nº 9 de Dezembro de 1991, pág. 2
(12) – Alcoutim, Revista Municipal nº 8, de Setembro de 2001, pág.2.
(13) – Boletim Municipal nº 10 de Abril de 1992, pág. 7
(14) “Mértola com nova ponte”, Correio da Manhã de 5 de Maio de 1997.
(15) – Jornal do Algarve de 6 de Novembro de 1997.
(16) – Postal do Algarve de 16 de Dezembro de 1999.
(17) – “O Algarve Oriental durante a ocupação islâmica”, Helena Catarino, in Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98, I Vol., pág. 201 e 287.