sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Barrada, povoação dinâmica à beira da estrada



Pertence à freguesia de Martim Longo, ficando-lhe próximo, a cerca de 3 km de distância e muito perto da EN 124, do seu lado esquerdo, que atravessando a Serra do Caldeirão, no sentido norte/sul nos leva ao Barranco do Velho, de onde se podem tomar várias direcções.

Por esse facto, é dos poucos “montes” do concelho que ainda possui um pequeno estabelecimento comercial, beneficiando do movimento da estrada e onde se pode tomar uma bebida fresca ou quente, conforme a época do ano, além de um pequeno restaurante recentemente criado.

O topónimo, que consta do Novo Dicionário Corográfico de Portugal (1), é muito frequente no país, tal como o seu plural. No primeiro caso são conhecidas nove e no segundo, três.

Barrada significa terra de semear em encostas, fora das vargens, segundo José Pedro Machado e que já se atesta no país em 1258. (2) Ainda que conheçamos pouco da zona, pensamos que o topónimo se ajusta plenamente.


A agricultura, principal actividade destas gentes, andou sempre ligada à pastorícia e temos conhecimento que no século XVIII, António Dias, deste “monte”, faz na Câmara o manifesto dos seus gados, constituído por bovinos, caprinos e ovinos. (3)

Em Maio de 1844 pairou sobre esta região uma horrível trovoada que devastou as searas. (4)

Fazia parte da Junta de Paróquia de Martim Longo, em 1858, José Rodrigues residente neste “monte”.

Abordaremos agora o aspecto populacional pois é sempre importante analisá-lo.

No censo de 1911 tem 128 habitantes e ocupa a 5ª posição a nível de freguesia. Em 1940 o número passa para 176 e sobe ao 2º lugar, só ultrapassado por Santa Justa.
Vinte anos depois mantém o lugar passando a população a ser de 190 habitantes. A partir daqui começa o decréscimo em todo o concelho e dez anos depois, ou seja, em 1970, o número era de 146 e tinha sido ultrapassado pelo Pessegueiro.

Em 1981 viviam no monte 121 pessoas e dez anos depois, segundo os últimos dados, oficiais que possuímos, eram 114.

Presentemente, conforme indicação que pedimos e recebemos, rondará a meia centena.

Como se verifica por estes dados, esta povoação foi sempre das mais importantes da freguesia.




Não possuímos indicações quanto à criação do posto escolar que teria existido e depois transformado em escola que presumo ter encerrado em 1989. (5) Em 2000 o edifício é adaptado e inaugurado um núcleo museológico denominado “Espelho de Nós”que a informação diz pretender traduzir as origens daquela povoação, com a ligação da comunidade à Serra do Caldeirão. (6)

Não o conhecemos nem tencionamos conhecê-lo e o seu acesso está condicionado.

Como por todo o concelho, mais ou menos acentuadamente, tomando em consideração vários factores de interesse, também neste monte existiam fornos comunitários para cozer o pão, existindo regras ancestrais para a sua utilização, de forma a que todos pudessem usufruir dos mesmos. (7)

De referir igualmente, nas proximidades da povoação, uma eira situada na encosta de uma pequena elevação.

Após o 25 de Abril este monte tomou a fama de ser a povoação mais “esquerdista”, pelo menos da sua freguesia. Efectivamente não se tratava de esquerda ou direita, mas sim aproveitar as oportunidades para vencerem as grandes dificuldades da vida.

É nesta altura criada uma Cooperativa Agro-Pecuária que em 1987 comprava bens intermédios, alugava máquinas (2 tractores, 1 debulhadora, 1 moinho de martelos); produzia farinha e azeite que vendia. Possuía armazéns para a secção de compra e venda de produtos (8) para cuja construção a Cooperativa foi apoiada pela Direcção Regional de Agricultura do Algarve, (9)

Em 1985 foi criada uma queijaria através do programa Leader. (10)

Fracassou a tentativa de turismo rural levada a efeito em 1995.


Existe uma associação designada por Centro Cultural e Recreativo da Barrada onde os associados se juntam para conversar, tomar uma bebida ou disputar uma partida de “sueca” ou de “três setes”.

Em frente da sede social o espaço disponível foi ajardinado. (11)


Construiu-se ultimamente uma casa mortuária.

Após um interregno, realizou-se recentemente a Festa Anual.

É dos poucos montes do concelho que possui saneamento básico, acabado de efectuar.


NOTAS
(1)– A.C. Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1981
(2)- Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Horizonte/Confluência, 1º Vol., 1993, pág.220.
(3)– Manifeztoz e Arolam toz da Camera doz gadoz, pág. 59
(4)– Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 3.11.1844.
(5)– Jornal do Algarve de 29 de Março de 1990.
(6)– Jornal O Postal de 15 de Junho de 2000.
(7)– “Potencialidades turísticas do nordeste algarvio – I”, Susana Faísca, in Jornal do Algarve de 24 de Abril de 1985.
(8)– Caracterização da Produção Animal do Baixo Guadiana, Engs. C. Alves da Costa e A. Costa Cardoso, 1987.
(9)– Jornal do Algarve de 14 de Fevereiro de 1985.
(10)– Jornal da Serra de Novembro de 1995
(11)– Alcoutim, Revista Municipal, nº 6 de Janeiro de 1999, pág. 9