quarta-feira, 22 de julho de 2009

As romãzeiras


[Entre muitas, três romãs colhidas em 2006 num monte da freguesia de Alcoutim. Pesaram 2980 g. Foto JV]
Estes arbustos, muitas vezes em forma de árvores mas sem nunca constituírem porte assinalável, tiveram e têm importância na vida alcouteneja, ainda que nas últimas décadas não nos pareça terem merecido a atenção dos alcoutenenses.

Da família das punicáceas (púnica gramatum, Lin.) é originária do Oriente e cultiva-se nas regiões quentes e temperadas.

O seu fruto, (comestível) a romã ou romeira, (não virá daí o hábito dos alcoutenejos chamarem romaneira à planta?) tem forma arredondada e casca avermelhada e nalgumas espécies acinzentada e encerra grande quantidade de bagos vermelhos e sumarentos.

Dá uma flor grande de um vermelho vivo. Quando está em plena floração, este vermelho vivo contrasta com o verde das folhas fasciculadas que ainda encerram a beleza de parecerem envernizadas.


Lembro-me perfeitamente que na minha região natal as romãs, os diospiros e os marmelos eram considerados frutos de classe inferior e que além de serem baratos em relação aos outros tinham pouca procura.

A “fruta” produzida em Alcoutim devido aos parâmetros conhecidos, como o solo, clima e meios de comunicação, por exemplo, era fundamentalmente constituída por figos, marmelos, romãs, uvas, algumas peras e laranjas, isto na margem do rio ou das ribeiras que devido à presença da água, possibilitava a sua cultura.

Na Cheia Grande de 1876 as notícias publicadas referem que “Desde Mértola até Castro Marim, ambas as margens do Guadiana estavam orladas e revestidas de formoso arvoredo, nomeadamente figueiras e romãzeiras espontâneas, silvestres que, pendendo sobre o rio, não só o embelezavam mas davam abrigo aos barcos, no Verão, e aos marinheiros, passageiros e pescadores. Tudo a cheia derrubou, deixando ambas as margens escalvadas e nuas”.

Praticamente todas as várzeas do rio, junto à água, tinham romãzeiras e marmeleiros que além dos frutos que davam, estabilizavam as terras o que era muito importante.

Ouvi falar aos alcoutenejos em duas qualidades de romãs, umas boas, as assarias e outras que não prestavam, as de grainha de pau.

Era vulgar ver pessoas comerem romãs acompanhadas com pão!

As alcoutenejas deslocavam-se ao S. Mateus em Mértola onde procuravam vender as suas romãs, o que faziam igualmente nos “Pagos” da Mina de S. Domingos.

Hoje, com as possibilidades de captação de água podem-se ter romãzeiras em qualquer parte e se a qualidade for boa e se tiver tratamento, obtêm-se exemplares de excelente qualidade.

Hoje a romã ombreia com qualquer outra “fruta” a nível de preço e de procura.

As romãzeiras devem ser acarinhadas pelos alcoutenejos e os seus frutos poderão ser uma referência nas sobremesas.

Não esquecer que se faz uma excelente ratáfia de romã.

Por outro lado a casca das raízes é um bom tenífugo o que significa dizer que expulsa a ténia.

A casca e coroa da romã são usadas em tratamentos de hemorroidal.