terça-feira, 9 de junho de 2009

Alguidares


[Alguidar de amassar o pão com pelo menos 75 anos. Foto JV]

Estes recipientes têm a forma de tronco de cone invertido, sendo a boca de muito maior diâmetro do que o fundo.

Alguidar é palavra de origem árabe, de al-gidâr.

Este utensílio pode ser de barro, metal ou plástico e é utilizado em várias tarefas domésticas.

Primitivamente de barro e de uso extremamente vulgarizado, passaram a ser feitos também de esmalte, alumínio e igualmente de zinco, mas neste material para usos mais específicos.

[Alguidar para picar a carne. Foto JV]
Mais tarde e é dos nossos dias, apareceram de plástico, que de uma maneira geral dominam o mercado devido ao seu preço competitivo, ainda que sejam muito pouco usados, por inadequados em algumas tarefas.

Este pequeno apontamento irá referir-se aos mais antigos, aos de barro.

Havia-os dos mais variados tamanhos, dependendo das tarefas a que se destinavam. Os mais caros eram vidrados e apresentavam várias colorações que iam do castanho-escuro ao verde passando pelo azul e amarelo.

O rebordo não era uniforme, dependia da região da sua origem, aliás o que acontecia também com a cor.



Segundo nos informaram, as olarias de Martim Longo tinham uma decoração própria nos seus alguidares como a demonstrada no exemplar que se publica e que constitui uma réplica.


[Alguidar típico de Martim Longo (réplica)]
Entre muitas das tarefas que competiam aos alguidares de barro, no concelho de Alcoutim, contava-se a “amassadura” do pão uma vez por semana e só serviam para isso.
O exemplar que apresentamos no início deste apontamento era a isso destinado e terá pelo menos 75 anos!

Era também um alguidar de barro que em Dezembro/Janeiro de cada ano recebia a carne picada para os enchidos quando se matava o porco.

O Dr. Tito de Noronha que em 1885 foi durante um mês médico de Alcoutim escreveu numa Crónica publicada no jornal Vida Ribatejana: Bebem os comensais por tigelas, que enchem nos alguidares, sendo da praxe, para mostrar fartura, entornar-se muito líquido (leia-se, vinho) de modo que no fim da refeição a toalha mudou totalmente de cor, não tendo uma só nódoa branca.

Parece que no século XIX o vinho também se colocava em alguidares!

Como já aqui referimos quando escrevemos sobre as queijeiras, também era um alguidar de barro, previamente preparado, que recebia o azeite que depois era colocado em potes de barro e mais tarde de lata.

Outra tarefa em que se não dispensavam os alguidares era o da lavagem da loiça. Um para lavar, outro para enxaguar. Quando não se utilizava o poial da casa-do-fogo, optava-se pelo da rua, junto à casa e que ainda se podem ver muitos por todos os montes, estão alguns já modernizados, com o uso do cimento.

[Alguidar feito no Redondo com 40 anos. Foto JV]
Não há muitos anos lembro-me de ver um afonso-vicentino, que já tinha uma cozinha relativamente bem apetrechada para o meio, optar por lavar a louça no seu poial que ainda lá se encontra, isto certamente por hábito e tradição familiar.

Muitas mais tarefas estavam destinadas ao uso do alguidar que nos escusamos de referir.

Se o aparecimento do plástico veio substituir o barro em muitos trabalhos, outros mantiveram-se como o amassar do pão ou o picar da carne, pelo menos até serem executados.