segunda-feira, 18 de maio de 2009

Outro tipo de Pilheira



Já aqui abordámos em tema próprio, as PILHEIRAS nos vários tipos que conhecíamos e entre os quais havia alguma analogia.

Ao pretendermos analisar outro tipo de “objecto”que conhecemos já praticamente em desuso e perguntando como se designava, todas as pessoas me responderam – PILHEIRA!

Há vinte ou trinta anos vendo a funcionar uma num monte da freguesia de Vaqueiros perguntei à utilizadora, como se chamava aquele “utensílio”. A resposta foi rápida - uma fornilha. Pensei, será termo importado ou influenciado pelos vizinhos espanhóis que estão relativamente perto e duas zonas separadas pelo Guadiana mas que tiveram muitas relações de trabalho e mesmo consanguíneas. Fornilha, possivelmente em vez de Fornalha.

A designação de fornalha ou de fornilha, ajustava-se bem ao seu desempenho.

Desejando agora voltar ao assunto, até porque os poucos exemplares existentes deixaram de funcionar e por isso são removidos na primeira oportunidade, comecei por perguntar num monte da freguesia de Alcoutim, como se chamava aquilo. As pessoas responderam-me todas o mesmo: PILHEIRA!

Ao dizer-lhes que a designação de pilheira nada tinha a ver com as outras que eu conhecia e que já referi nesta página, acrescentando que me tinha sido referido como fornilha, o que no meu entender, mais se ajustava, disseram-me que aqui, foi sempre PILHEIRA.

Só depois descobri a analogia. É que esta pilheira muitas vezes era feita no prolongamento dos piais (poiais) onde se colocavam os alguidares de barro para lavar a louça e onde eram empilhados, isto é, encostados à parede para escorrerem. Possivelmente virá daí o termo.

Entrámos depois na sua funcionalidade.

Por estas bandas e possivelmente por todo o concelho, todas as famílias possuíam este “governo” que utilizavam principalmente nos meses mais quentes de Verão.

Estamos a anos luz da electricidade, gás de botija era coisa desconhecida e o pouco petróleo que se comprava tinha por destino os candeeiros de chaminé de vidro para a iluminação e em substituição das antigas candeias abastecidas por azeite, ou para uso de candeeiros para ir ao palheiro tratar do gado.

Era a lenha que produzia a energia necessária para a confecção das refeições, para o aquecimento das casas e para aquecer o forno para cozer o pão semanalmente.

A lenha grossa era pouca, principalmente originária de alguma árvore que secou ou então de alguma limpeza (desbaste). A mais utilizada era a proveniente de mato, nomeadamente a esteva que se trazia diariamente para casa, em faxinas, carregando os burros.

Depois era colocada no monturo onde se ia buscar para o que fosse necessário, mas tomando em conta que quem não poupa lenha, não poupa nada que tenha, como diz o povo no seu rifão.

Nos princípios do século passado as refeições eram feitas na casa ou “casinha do fogo”, onde a um canto se fazia o fogo. Levantava-se uma telha de canudo para facilitar a saída do fumo que é sempre incomodativo. Só as pessoas mais abastadas tinham já uma chaminé, tipo alentejana.

Nos meses quentes do ano e para evitar que a casa do fogo ficasse muito quente, os alcoutenejos começaram a fazer o fogo na rua e nos piais (poiais), engendraram um local onde pudessem fazer o fogo, começando por delimitar um espaço que consideravam suficiente, construindo duas pequenas paredes, espaço que foi evoluindo com a colocação de uma espécie de telhado para proteger o local e uma chaminé por onde saía o fumo. A esteva estava ao lado para ir mantendo a combustão.

Muito mais tarde e em novas pilheiras deste tipo, acabaram por Abril um espaço, na parte inferior onde se colocava a lenha.

Era aqui que se confeccionavam as refeições, umas vezes as vasilhas postas directamente em contacto com o fogo, outras com o auxílio da trempe ou do triângulo, conforme a vasilha e o que se confeccionava.

Fazia-se o café ou aquecia-se a água na chocolateira e a panela de barro onde se faziam os “jantares”, era posta logo pela manhã para ir cozendo o grão ou feijão e onde depois se juntaria a carne e outros ingredientes.

Entrando em completo desuso, acabaram por ser substituídas, nalguns casos, por grelhadores de fabrico prévio, de um formato com a mesma inspiração e que se destina, como o nome indica, a grelhar peixe ou carne.