sexta-feira, 3 de abril de 2009

D. Fernando de Meneses, 1º Conde de Alcoutim

Pequena Nota
Temos vindo a organizar no decorrer dos anos algumas notas biográficas sobre os condes de Alcoutim, o que iniciámos em parte quando demos a público Alcoutim, capital do nordeste algarvio (subsídios para uma monografia), 1985, numa edição da Câmara Municipal de Alcoutim e há muito esgotada.
Atendendo a que presentemente possuo mais alguns elementos sobre esta figura, vou tentar passá-los com alguma ordem para o “papel”.



D. Fernando de Meneses devia ter nascido por volta de 1463, sendo filho de D. Pedro de Meneses, 1º Marquês de Vila Real e de sua mulher, D. Beatriz de Bragança.

Veio a casar, por amor e contra vontade de seu pai com D. Maria Freire de Andrade, que segundo as crónicas era muito formosa, mas com o aval de seu primo, o Rei D. Manuel, isto por voltas de 1486.

A data da criação do Condado não é pacífica, enquanto Anselmo Braamcamp Freire, no Vol.III de Brasões da Sala de Sintra afirma que a criação teve por base uma Carta de D. Manuel I datada de 15 de Novembro de 1496, a Nobreza de Portugal e a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira pretendem 13 de Junho de 1497, havendo ainda quem opte por 1520, quando Alcoutim recebeu foral novo concedido por aquele Rei.

A origem do título teve por base o casamento com D. Maria Freire de Andrade, Senhora de Alcoutim, da linhagem dos Freires de Andrade, Senhores da vila de Bobadela, hoje concelho de Oliveira do Hospital.

A História Del Reyno de Portugal, de Manuel de Faria Y Sousa, de 1730, em títulos que concedeu D. Manuel, sem referir data, diz: À los Primogénitos de los Marqueses de Villareal, El de Condes de Alcoutim.
Por Carta Régia de D. Manuel I de 25 de Novembro de 1496, é nomeado Fronteiro-mor do Algarve e na qual já o identifica como Conde de Alcoutim.

Foi igualmente Condestável do Reino, funções que tinham sido exercidas por D. Afonso, filho bastardo de D. Diogo, duque de Viseu e que foi apunhalado por D. João II.

Em 1490 D. João II mandou-o a Ceuta onde praticou notáveis actos de guerra contra a moirama, conseguindo vitórias memoráveis, como aconteceu em Targa e Casimî.
Com ele encontravam-se os irmãos mais novos, D. António de Noronha, D. Diogo de Noronha e D. Henrique de Meneses, tendo armado Cavaleiros estes dois últimos na presença da fidalguia.

Era muito aclamado pelos soldados a quem transmitia confiança e coragem militar.

Ao regressar à Corte o rei honrou-o com rasgados elogios e agradecimentos.

Foi o 4º Capitão de Ceuta onde muito se distinguiu e possivelmente lá teria conhecido João Freire de Andrade que viria a ser seu sogro.

Emitiu parecer favorável ao abandono das praças do Norte de África, por entender que o Reino não podia suportar as despesas da sua manutenção.

Fez parte do pequeno número de portugueses que se correspondia com o humanista siciliano, Cataldo Sículo (Palermo 1455 – Lisboa 1517) e nos quais se incluía o rei D. Manuel.

Desde 1498 que o hospedava em sua casa como preceptor dos filhos, nomeadamente D. Pedro de Meneses, que veio a ser o 2º Conde de Alcoutim e D. Leonor de Noronha.

Acompanhou o rei, entre outros, a Valença de Alcântara quando este foi receber por mulher, D. Isabel, viúva do príncipe D. Afonso, filha de Fernando de Aragão e de Isabel de Castela e que veio a morrer de parto em 1498 e também na romamgem que fez a Santiago de Compostela e querendo o rei passar por incógnito, nomeou-o para ser respeitado por toda a comitiva.

Vem a exercer pressão sobre o rei, tomando em consideração os feitos realizados e consegue que seu irmão D. António de Noronha seja feito Conde de Linhares.


[Conquista de Ceuta, óleo de Rocha Vieira]

D. Fernando de Meneses e D. Maria Freire, além de D. Pedro que lhe sucedeu no título, foram pais de D. João de Noronha, capitão de Ceuta, D. Nuno Álvares de Noronha, que foi governador da mesma Praça, D. Afonso de Noronha, 5º Vice-rei da Índia, D. Leonor de Noronha e D. Maria de Meneses.

Foi Conde de Alcoutim até 1499, data do falecimento de seu pai, passando a usufruir o título de 2º Marquês de Vila Real. Já como Marquês de Vila Real encomenda a construção da Igreja Matriz de Caminha.

Foi igualmente 2º Conde de Valença (1 de Setembro de 1499) com o Senhorio da mesma vila e do de Caminha.

Faleceu em Almeirim em 1523 e jaz no Convento de S. Francisco de Leiria, para onde foi trasladado do de Santarém, em que esteve depositado.

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Corografia do Reino do Algarve, Frei João de S. José, 1577.
Corografia Portugueza, Padre António Carvalho da Costa, 1702/1712. pág. 11.
Dicionário Ilustrado de História de Portugal, Edições Alfa, 1986.
Estudo sobre o Século XVI, Américo da Costa Ramalho, 2ª Edição, IN-CM, 1982
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
História da Arte Portuguesa, Vol. 2, dir. de Paulo Pereira, 1995, pág. 323.
Historia Del Reyno de Portugal, por Manuel de Faria Y Sousa, MDCCXXX, en Amberes, pág. 256
História do Ensino em Portugal, Rómulo de Carvalho, 1986
História Genealogica da Casa Real Portugueza, António Caetano de Sousa, Edição QuidNovi/Público, Academia Portuguesa da História, Vol. V, 2007 (fac-similada da ed. de 1738)
O Domingo Illustrado, Agosto de 1897, pág. 103.
Portugal Antigo e Moderno, A.S.B. de Pinho Lel, Vol.11. pág. 955
“Portugal no Começo do Século XVI: O relatório do veneziano Lunardo da Cà Masser”, Vitorino Magalhães Godinho, in Revista de História Económica e Social, nº 4 – Julho/Dezembro, 1979, Sá da Costa Editora.
http://genealogia.sapo.pt – em 2002.09.02