quarta-feira, 11 de março de 2009

Caldeiros e caldeirões



Apresentamos hoje mais um utensílio que foi indispensável na vida dos alcoutenenses até meados do século passado e que com o decorrer dos anos foi desaparecendo quando as populações começaram a abandonar o campo e a procurar melhores condições de vida nas cinturas industriais de Lisboa e de Setúbal e depois no litoral algarvio quando o turismo se começou a desenvolver.

Só ficou a gente mais idosa. Os homens na força da vida e os jovens foram abalando uns atrás dos outros, alguns completamente à aventura contando sempre com o auxílio daqueles que por lá já andavam que os iam ajudando no que podiam.

O burro foi sempre o grande e indispensável auxiliar do homem destas paragens de solos muito pobres e por vezes inóspitos. Servia para levar as pessoas à vila, à aldeia, aos campos, às feiras e mercados das redondezas, onde fosse preciso. Por outro lado eram os transportadores de tudo o que necessitavam e levavam para casa o que se conseguia produzir, nomeadamente os cereais, azeitonas, amêndoas, alfarrobas e outros frutos que se iam colhendo. Também puxavam arados e charruas que lavravam as terras.

Quem tivesse dois palmos de terra tinha que ter um burro, ou mais, conforme a extensão dos terrenos. Ainda hoje podemos ver por todos os montes do concelho arramadas e palheiros a eles destinados mas que estão devolutos.

Vem esta pequena introdução para falar dos caldeiros e caldeirões como refere o título e se vê na fotografia apresentada.

Acompanhava quase sempre o animal este objecto preso de uma corda de sisal, grossa e comprida.

Mais um utensílio proveniente da mão do latoeiro e igualmente de folha zincada como referimos em relação a um tipo de potes para água. De base circular, a parte lateral era levemente inclinada, quando não direita e possuíam um pequeno rebordo. A largura era sempre muito superior à altura. A asa de ferro engatava em orifício seguro por bom cravejamento. As asas tinham todas o mesmo tipo, formando na parte superior uma argola que se destinava a atar a corda.

O caldeiro destinava-se a tirar água dos pequenos poços que se espalhavam por todas as baixas para o homem e o animal matarem a sede. Além desta utilização muito importante, eram usados para regar os pequenos hortejos só possíveis junto destes poços. Ao cair da tarde lá iam as moças, pois era um serviço que muitas vezes lhe estava destinado, a caminho da horta para proceder a tal tarefa.

O caldeiro era lançado à água e quando junto dela, com um movimento brusco da corda, virava-se e enchia. Depois, era recolhê-lo às braçadas.

Regam as alfaces, as cebolas, as” tomateiras”os pimenteiros, as couves os coentros e pouco mais pois era tudo em pequenas quantidades.

Os burros estão quase extintos no concelho e os caldeiros ou caldeirões, chamados assim, conforme o tamanho, rebolam por aqui e por ali com utilizações para que não foram feitos, como por exemplo, levar o comer às galinhas.

É mais uma peça para museu.