domingo, 22 de março de 2009

Balurcos (...) (2ª Parte)

ACTIVIDADE
Numa perspectiva de actividade podemos dizer que os balurquenses se dedicaram fundamentalmente à criação de gado e à agricultura, nomeadamente a cerealicultura, mas nunca repudiaram outros meios de produção como a farinação com a instalação de moinhos de vento (o que acabou por ficar ligado ao topónimo), o artesanato representado por sapateiros, cesteiros e alfaiates, ferreiros e ferradores, entre outros. Foi sempre local de comerciantes / negociantes que se dedicavam aos produtos locais, como a amêndoa, a alfarroba, a azeitona e o trigo.

Com estabelecimentos comerciais mistos anotámos, em meados do século passado, José Gonçalves Santos (Balurco de Cima), Domingos Mateus da Silva, Joaquim Neto da Conceição (Balurco de Cima), João L. Anica, José Dionísio (Balurco de Baixo) e António Afonso (Cerro).

Ferradores, José Joaquim (Montinho do Cerro) e Manuel Rodrigues.

[Moinho da Casa Branca, 1989]

A nível de criação de gado temos conhecimento que na segunda metade do século XVIII faziam o seu manifesto de gado na Câmara de Alcoutim, principalmente reses (gado bovino), Manuel Gomes, António Mestre, José Martins, Francisco Fernandes, Gaspar Gonçalves, Manuel Teixeira e Domingos Afonso. (1)

Relacionado com esta actividade pastoril está o facto de Custódio Domingues do Balurco de Cima ter arrematado o corte de carnes na vila de Alcoutim, em 1868, ficando obrigado a fornecer semanalmente, a preços fixos, conforme a época, chibato e carneiro.

Aproveitando a força do vento e o cultivo dos cereais, os homens de então construíram na sua área vários moinhos, tendo sido o último a deixar de laboral o da Casa Branca, cerca de 1960. Por outro lado, um natural do Deserto disse-me que o moinho perto do seu monte era o único que possuía búzios.

O Plano Director Municipal de Alcoutim (2) refere um moinho de vento situado no Balurco de Cima.

Com a cessação destes, funcionou durante muitos anos no Balurco de Baixo uma moagem.

Também no sítio do Poço Velho laborou um lagar de azeite, de varas, pertencente à Sociedade de Azeites do Guadiana, Lda. Isto em meados do século passado.

Foi importante um conjunto de teares, tipo Jacquard, instalado no Balurco de Baixo e que veio substituir com grande vantagem o simples tear manual utilizado pelas aldeãs nos mais recônditos lugares do país. Apesar disso, também não durou muito.

A primeira escola de condução automóvel existente no concelho situou-se no Balurco de Cima.

O Rádio Clube de Alcoutim transmite do Cerro.

Hoje os Balurcos já estão providos de bares, restaurantes e casas de pasto.Com a abertura de estradas proliferou o comércio ambulante pelo que tudo já chega aos montes, desde o pão ao peixe, passando pela carne, mercearias, roupa e calçado.

POVOAMENTO/POPULAÇÃO

A primeira informação quantificada quanto ao número de pessoas existente nos Balurcos é-nos dada no questionário de 1758, conhecido por Memórias Paroquiais.
Na freguesia de Alcoutim à vila são atribuídos 126 vizinhos o que dava 373 pessoas e a seguir os Balurcos (é assim que é designado) com 107, o que na proporção daria 316 pessoas.

Só em 1839 voltamos a dispor de elementos relacionados com a população através do mapa fornecido por João Baptista da Silva Lopes (3) que indica para a vila apenas 76 fogos, enquanto para o conjunto de Balurco(s) de Cima, 31, Cerro (que devia ser Balurco(s) do Meio) 17 e Balurco(s) de Baixo 29, o que perfaz 77, superior à vila.

[Balurco de Cima, 2009]
Outro dado que possuímos e por nós recolhido no Arquivo Distrital de Faro (4) indica-nos que em 1850 na freguesia de Alcoutim nasceram 77 crianças, 11 na vila e onze nos Balurcos e isto é mais um dado que explica a importância dos Balurcos no contexto concelhio.

No Censo de 1991 os Balurcos ocupavam o terceiro lugar a nível populacional do concelho com 214 habitantes sendo 150 em Balurco de Baixo e 64 em Balurco de Cima. O primeiro era ocupado por Martim Longo com 535 e o segundo por Alcoutim com 405. Significa isto que o monte tinha mais população do que qualquer uma das restantes sedes de freguesia, ou seja Giões, Pereiro e Vaqueiros.

O monte mais populoso e importante começou por ser o Balurco de Cima, mas após a construção da E.N. 122 ligando Mértola a Vila Real de Santo António que passou a servir o Balurco de Baixo, este começou a desenvolver-se por isso, como era bem notório, em 1991, com uma população em mais do dobro superior àquele. Já em 1976 era o monte mais habitado, com 112 moradores, enquanto o Balurco de Cima tinha 92. (5)

Hoje, com o IC 27 é o Balurco de Cima que lhe fica mais próximo mas os transportes colectivos continuam a utilizar a EN 122.

(continua)