sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O cântaro de barro


Quando aqui escrevemos sobre o cântaro de folha zincada, dissemos entre outras coisas que tinha substituído o cântaro de barro, vulgo cântaro de Loulé, já que era lá que se faziam.

Este útil recipiente que foi muito utilizado no concelho de Alcoutim, onde ainda o encontrei activo e em número considerável.

Tem um formato bojudo, volume avantajado e normalmente duas asas. As suas formas fazem lembrar as ânforas romanas onde poderiam ter ido buscar os seus contornos.

Se podiam ser utilizados para qualquer líquido, destinavam-se quase exclusivamente à água potável utilizada nas residências, uma função que transmitiu com vantagem para os seus homónimos de folha.

Eram transportados em cangalhas próprias, simples ou duplas, isto é, com duas ou quatro cavidades e confeccionadas em ferro pelos artesãos locais e colocavam-se no dorso dos animais de raça asinina.

Apesar dos cântaros de folha, quando apareceram, serem mais caros em relação aos de barro, tinham a vantagem de ser mais duráveis e mais leves, facilitando muitíssimo o seu manejo nas cargas e descargas.

Sempre os conheci tal como às infusas ou bilhas, tapados com uma pequena laje de xisto que arredondavam à semelhança da área do bocal.

Se na maior parte das vezes eram colocados no chão para assim serem mais facilmente usados, noutras dispunham-nos em “piais”* (poiais) de pouca altura.

Há cerca de vinte e cinco anos já tive dificuldade em adquirir dois exemplares, sendo a fotografia que acompanha este texto de um deles. Possuo contudo três velhos com mutilações, mas que não deito fora.



*Pial, forma rústica de designar o poial. Vide Dicionário do Falar Algarvio, Eduardo Brazão Gonçalves, 2ª Edição, Algarve em Foco Editora, 1996, p. 149.