segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Finou-se figura típica de Cortes Pereiras (Alcoutim)

(Publicado no Jornal do Baixo Guadiana nº68, de Outubro de 2005)

Uns dias antes tinha falado com ele no monte de Afonso Vicente onde se tinha deslocado, o que por vezes fazia, para pagar as quotas na “Sociedade” local e falar com um pastor no sentido de adquirir um borrego para uma almoçarada, comemorativa do seu septuagésimo sexto aniversário que passaria no dia 12 de Setembro.

Com o indispensável boné e o cachimbo fumegando, seguia-o o companheiro “calcinhas”, um pequeno canito preto, seu verdadeiro amigo e companheiro certo, nos maus e bons momentos. Não pensávamos que era a última vez que o víamos!
Dois ou três dias passados, a notícia corria célere nos montes da freguesia de Alcoutim situados a norte da Ribeira de Cadavais:- o Zé Goias, como era popularmente conhecido José Romão Góis, de seu nome, tinha ido de ambulância para Vila Real ou Faro, onde já teria chegado sem vida.

O Zé Goias, que enquanto teve idade para isso guardou gado e sabia lidar com animais de raça asinina, pediu a uma vizinha a burrinha para ir apanhar, pela manhã, uma carguinha de uvas, que pensava ter numa pequena fazenda no sítio da Silveira.

Aparecendo horas depois a burra sozinha em casa da proprietária, esta estranhou o facto e deu o alarme pelo que dois homens se disponibilizaram a ir procurá-lo, tendo-o encontrado prostrado, ainda com sinais de vida.

Compareceram os bombeiros que deram cumprimento à sua missão.

José Góis, aqui nasceu e por aqui foi vivendo durante todo este tempo, mantendo sempre grande ligação com a sua e várias juventudes que foram passando, onde tinha amigos. Foi sempre considerado um moço e não um homem!

Era dos sócios mais antigos da Associação Unidos do Monte, das Cortes Pereiras, que frequentava assiduamente. Era normalmente lá que o encontrávamos, nunca negando a oferta de amigos e conhecidos de uma bebida, de preferência um copinho branco traçado com gasosa.

Era aquilo que vulgarmente se diz “um pobre diabo” mas quando tinha um copinho a mais, tornava-se um pouco implicativo.

Em jovem e durante muitos anos, Zé Goias aguentava com as queixas motivadas pelas patifarias que os outros faziam, era ele que tinha as costas largas e muitas vezes chamado ao “posto” sem ter culpa nenhuma!

Conhecia todas as propriedades rústicas da zona e a quem pertenciam assim como as famílias e suas ligações, apesar de ser analfabeto.

Vivia com o seu “calcinha” numa pobre casita.

Teve a morte que todos ou quase todos desejamos. Nalguma coisa havia de ter sorte.

José Gois, devido às circunstâncias da vida, acabou por aparecer várias vezes nos écrans televisivos.

Veio a ser sepultado no cemitério da vila de Alcoutim, no dia 28 de Agosto, numa cerimónia com muita dignidade realizada, segundo nos consta, por iniciativa de duas familiares apoiadas nos cônjuges, e com um acompanhamento à base de pessoas de Cortes Pereiras, Vascão, Afonso Vicente e Santa Marta, montes que bem conhecia e que desejaram prestar-lhe a último homenagem.

O Presidente da Junta de Freguesia de Alcoutim, não quis deixar de estar presente.

Os humildes também merecem ser lembrados. Zé Goias continuará a ser lembrado pelos seus conterrâneos e amigos, por muitos anos.

Que a terra lhe seja leve. Até um dia, Zé Tijolo.