quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As pilheiras



O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa – Verbo, 2001, define pilheira como regionalismo, vão na parede, onde se arrumam vários objectos.

Os outros dicionários da língua portuguesa que consultámos, nomeadamente o de Domingos Barreira, 4ª Edição, 1984, Editora, 5ª Edição, 1977 e Torrinha, 1946, todos definem como cantareira aberta na parede.

A primeira que apresentámos é sinónima da comum aos outros dicionários, em que cantareira é substituída por vão.

Este regionalismo tem plena aplicação no concelho de Alcoutim visto ter sido um processo de arrumação muito utilizado pois as casas eram quase desprovidas de móveis e também não havia muito para lhe pôr: pelanganas, tigelas, púcaros alguidares e pouco mais.

Estas pilheiras tinham na parte cimeira uma pedra comprida de grauvaque e na base, onde se empilhavam (daí o nome) as peças, uma ou mais lajes afeiçoadas com barro misturado com areia recolhida no barranco mais próximo. Em melhores construções já aparecia o tijolo de burro que possibilitava uma estrutura diferente. Existiam também pilheiras para pôr os cântaros da água (de barro ou de folha zincada), isto nas melhores casas e em que muitas vezes a parte cimeira era feita em arco com o auxílio de aros de barril e canas.

Pilheiras das mais rústicas, já poucas existirão como se compreende. Há contudo quem não as dispensasse mas feitas em termos modernos, como não podia deixar de ser, que os mestres e materiais possibilitam.

Existe outro tipo de pilheira e foi esta que primeiro me chamou a atenção que só vi no concelho de Alcoutim e que não se encontra definida nos dicionários que consultámos.



Trata-se de uma pedra, normalmente de xisto, saída da parede, perto da porta e numa posição elevada. Não me esqueço que a primeira que me lembro de ter visto foi no monte da Corte da Seda e a minha curiosidade levou-me a perguntar para que era aquela laje saída da parede. A resposta não se fez esperar, dizendo-me que aquilo era uma pilheira e que se destinou, em tempos mais antigos, a colocar o tacho das papas para arrefecer pois ali estava mais protegido da bicharada, cães e gatos.

Com o decorrer do tempo verifiquei depois que a sua existência era vulgar pelos montes.

Das três que conheci em Afonso Vicente, ainda existem duas, apesar das moradias terem sido restauradas, os seus proprietários entenderam conservá-las como símbolo de um passado que é preciso preservar.