domingo, 7 de dezembro de 2008

Tremelgo, Monte de gente ilustre - Alguns respigos

Sair de Alcoutim à procura dos montes do Tremelgo, leva o seu tempo pois deverão situar-se a cerca de 36 km de distância, lá para os sítios da cumeada do Pereirão.

Tomamos o caminho da aldeia de Martim Longo, sede de freguesia a que pertencem. Continuando pela E.N. 124, três quilómetros percorridos após Martim Longo, encontramos um entroncamento à direita e seguimos por ele cuja estrada se vai estender até ao limite do concelho de Loulé, mais propriamente freguesia do Ameixial.

A construção desta estrada foi adjudicada em 1989, (1) até aí era um isolamento total.

O primeiro monte que encontramos, que se situa à nossa direita, é o Silgado, pequena povoação que desconheço se ainda é habitada, mas se o for, terá dois ou três moradores.

Continuando pela mesma estrada, asfaltada e com poucos declives, vislumbramos no lado direito, ao fundo o monte de Diogo Dias, de muito maior dimensão do que o anterior, mas para se alcançar, temos de percorrer um pequeno troço de acesso.

No lado oposto, mas sem se ver da estrada e igualmente com um pequeno ramal de acesso situa-se o monte do Azinhal.

Ainda se vão vendo alguns terrenos aproveitados agricolamente, mas na sua maioria destinam-se a pastagens, principalmente de cabras pois é considerada no concelho a zona de maior número destes pequenos ruminantes.

Na passagem de Diogo Dias encontrámos um abrigo para passageiros de transportes públicos, para assim se protegerem das intempéries.

Poucos quilómetros andados, encontramos a indicação dos montes que procuramos, à esquerda fica o designado Tremelgo de Baixo e seguindo por um estreito caminho, mas asfaltado, a pouca distância, vamos encontrar, em posição cimeira, o que nos falta, o Tremelgo de Cima e cujo caminho aí termina.


(O Monte do Tremelgo de Baixo, 2008)

É vulgar no país, e este concelho não é excepção, povoações com o mesmo nome serem distinguidas como a de cima e a de baixo, devido à sua situação, aparecendo por vezes, uma terceira, designada a do meio. Se umas vezes o topónimo se impõe a nível administrativo e geográfico, como é o caso, noutras assim não acontece, como por exemplo nas Cortes Pereiras ou em Santa Marta.

Vamos começar pelo topónimo para o qual não encontramos explicação plausível. Pretendem alguns compará-lo ao nome de uns peixes relativamente frequentes nas nossas costas e que produzem descargas eléctricas.

Se o topónimo se pode justificar na Figueira da Foz, onde existe, não nos parece o mesmo em relação ao concelho de Alcoutim.
A sua explicação poderá estar em tremer e porque não em tremedal que o Elucidário de Viterbo indica como campo ensopado em água.

O arranjo dos arruamentos foi concluído em 1991 (2) e a água ao domicílio em 2002. (3)

O Monte de Baixo tem mais fogos e consequentemente maior número de habitantes.

O seu conjunto possuía em 1911, 64 habitantes, passando em 1940 para 84. Vinte anos depois já tinha descido para 56, tendo-se estabilizado durante dez anos pois em 1970 tinha 54. Em 1981 contavam-se 32 para no censo de 1991 estar reduzido a 15!
Em 2008 o Monte de Cima tinha quatro moradores.

O Pároco que respondeu ao questionário que deu origem às Memórias Paroquiais (1758) não indica individualmente o número de fogos dos trinta e seis lugares, povoações ou montes, como a eles se refere. Indica-o como Monte do Tremelgo, sem qualquer separação.

Em 1932 a Comissão Administrativa da Câmara Municipal deliberou requerer ao Ministro da Instrução, do Governo da Ditadura Nacional, a criação de um posto de ensino (4), o que se veio a verificar devido ao número relativamente elevado de crianças. Este posto foi mais tarde, durante o período político marcelista, como aconteceu a todos os outros, transformado em Escola, sob a responsabilidade de um professor oficial e não de regente escolar.
Foi entretanto construído um edifício de raiz, próximo do Monte de Baixo e que se encontra devoluto devido à sua extinção

A pastorícia, principalmente de gado miúdo, caprino e ovino, foi sempre a actividade deste povo e que ainda hoje se mantém por parte do reduzido número de habitantes. Nos tempos passados, e como não podia deixar de ser, o cultivo dos cereais era indispensável para a manutenção da vida.

Estas pequenas povoações, aqui e desde há séculos designadas por “montes”, tiveram origem na maior parte dos casos em grandes herdades, propriedade de opulentos (para a zona) senhores que com o decorrer dos séculos se foram desmembrando por vendas e partilhas. Se nalguns casos o nome das povoações é proveniente de antropónimos (Diogo Dias, Pêro Dias, Bentos, Vicentes, Afonso Vicente, etc), em outras situações perdurou o nome das herdades (Palmeira, Soudes, Zorrinhos, Castelhanos, etc.)


(O Monte do Tremelgo de Cima, 2008)

Tremelgo deve ser um caso semelhante atendendo à categoria de seus filhos que, apesar da distância a que se encontravam da sede do concelho, nela desempenharam funções político-administrativas importantes.

Desde o Capitão Baltazar Fernandes, passando por seu filho, Cap. Martinho Fernandes, pai pelo menos do Cap. Diogo Mestre Guerreiro (n.1747), várias vezes Provedor da Santa Casa da Misericórdia entre 1771 e 1802 (5) que por sua vez deixou dois filhos, o Cap. Jerónimo Mestre Guerreiro e o Cap. José Guerreiro Mestre (n.1809), até um Sebastião Teixeira (um dos vários que com este nome existiram no concelho e que confundem os genealogistas) que casou em 1692 e que, segundo parece, pretendeu habilitar-se a um lugar no Santo Ofício. (6)

De datas posteriores encontramos o Alferes (de Ordenanças) António Joaquim (1834), Manuel Guerreiro, Juiz Eleito de Martim Longo em 1852/53, José António da Costa, exercendo as mesmas funções em 1858 e que em 1872 era vogal efectivo do Concelho Municipal.

O irmão do Provedor Diogo Guerreiro, Capitão José Guerreiro Mestre, foi membro do Conselho Municipal em 1842.

Aqui ficam os elementos que consegui compilar.
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NOTAS
(1) - Boletim Municipal nº 5, de Setembro de 1989.
(2) - Boletim Municipal nº 9 de Dezembro de 1991
(3) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 9 de Dezembro de 2002, pág. 7
(4) - Acta da Sessão da C.M.A. de 7 de Janeiro de 1932.
(5) – Alcoutim, capital do nordeste algarvio (subsídios para uma monografia), José Varzeano, 1985, ps. 249 e 250.
(6) – Alguns dos dados foram obtidos através de http://www.gneneall.net (Fórum)