segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Zorrinhos, "montes" na cumeada do Pereirão


Vamos hoje procurar os montes dos Zorrinhos, freguesia de Martim Longo e situados no planalto do Pereirão.

Deixámos o Pessegueiro seguindo pela mesma estrada que começa a descer. Nas redondezas notam-se caminhos rurais indispensáveis aos seus moradores para se deslocarem ás propriedades.

A azinheira domina os campos. Agora subimos e percorremos uma recta em vários planos. Ao fundo vislumbramos algumas casas. Voltamos a subir e encontramos uma curva à esquerda. Sinalização sobre a possível presença de gado.

Uma placa indica-nos à esquerda os Zorrinhos. Estes designados de Cima devido à sua posição geográfica. É um monte pequeno. Anotámos a existência de uma vacaria com ordenha mecânica e uma nova habitação cuja construção nada tem a ver com o tipismo da povoação. Nas poucas casas existentes, já imperam as portas e janelas de alumínio.

O edifício da escola do ensino primário, que recebia as crianças das redondezas, quando as havia, encontra-se encerrado por falta de alunos desde 1988. (1) Estava em mau estado de conservação.

Os Zorrinhos de Cima ficam a cerca de 3 km do Pessegueiro.

Voltámos à estrada que atravessamos para ir ao encontro dos Zorrinhos de Baixo, um pouco mais afastados da estrada do que o seu homónimo, talvez mil metros.

Situa-se num plano e à sua volta os terrenos estavam limpos e aproveitados.

A energia eléctrica só chegou em 1983 (2) e a distribuição de água por fontanários concluída em 1989. (3) No mesmo ano foi adjudicada a obra de pavimentação dos arruamentos que se encontravam concluídos em 1991, já que foram muitos os montes contemplados. (4)

A notícia mais antiga de que temos conhecimento sobres estes “montes” é a que nos fornece as “Memórias Paroquiais”, Vol. 22, nº 69, pág.441, de 1758, em que o pároco de Martim Longo, ao responder ao ponto 6 do questionário, escreveu “ … Montes dos Zorrinhos = e são três deste mesmo nome, referindo seguidamente o Monte da Casa Nova, que se lhe segue pela ordem natural.

Enquanto hoje só nos referimos a dois, o de Cima e o de Baixo, nessa altura existiria outro,(do Meio?) certamente constituído por um ou dois fogos que teriam desaparecido ou que foram aglutinados por qualquer um dos outros.

Temos alguns dados populacionais. Em 1911 são-lhe atribuídos 37 habitantes, que em 1940 passaram para 48, mas vinte anos depois tinha descido para 40. Em 1970 os Zorrinhos de Cima tinham 26 habitantes, mais seis que os de Baixo. Em 1981 somavam os dois 33 (5) e em 1991 eram 26 os habitantes e um total de doze edifícios.(6)

Hoje, pensamos que serão bem menos, tomando em consideração a desertificação, cada vez em ritmo mais acelerado.

Rusticamente a zona foi dominada pela Herdade dos Zorrinhos que fazia parte do património dos Condes de Alcoutim, passando depois para a Casa do Infantado e que o liberalismo alienou, sendo o foro remido em 1859 por José Gonçalves e no valor de 263$592 réis. (7)

Pensamos que esta herdade, como aconteceu com outras no concelho, teria dado origem à pequena povoação.

José da Costa Afonso, deste monte, exerceu vários lugares a nível político- administrativo no concelho, sendo Juiz de Paz em 1847 e vereador fiscal da Câmara, pelo menos em 1850.

Deixámos para o fim o topónimo que em nossa opinião oferece algumas explicações.

Zorro é substantivo masculino de origem castelhana. O feminino é nome popular dado usualmente à raposa (8) com um sentido de matreira, manhosa.

De Zorra ou Zorro, resultaram Zorral (local abundante em raposas), Zorreira (cova ou ninho de raposa) e Zorrinho, seu diminutivo. Todos estes termos existem na toponímia portuguesa, de uma maneira geral ao sul do país, no Alentejo e no Algarve. Se encontrámos onze vezes zorra como topónimo, zorrinhos (como povoação), só existe o da freguesia de Martim Longo, segundo o Novo Dicionário Corográfico de Portugal, de A.C. Amaral Frazão.

Zorro pode também significar filho bastardo ou de pai incógnito, podendo ser considerada uma razão para a sua explicação.

Como quase sempre acontece, falta o facto histórico para a cimentar.

Ainda que o termo tenha outros significados, pensamos que o primeiro indicado é o que mais se ajusta à situação.

Se a escrita fosse Zurrinhos, como vimos escrito no Plano Director Municipal de Alcoutim, a explicação seria diferente já que teria por base zurro, acto de zurrar, voz de burro. Pensamos que o foi que por mero erro ortográfico, desconhecendo se entretanto foi corrigido. (9)

E termino dizendo que é nos Zorrinhos de Cima que vive uma das cinco crianças registadas no concelho durante o ano de 2007! (10) O casal merecia um prémio.

NOTAS

(1) Boletim Municipal nº 4, de Abril de /89
(2) Jornal do Algarve de 20 de Janeiro de 1984
(3) Boletim Municipal nº 5 de Setembro de/89.
(4) Boletim Municipal nº 9 de Dezembro de/91.
(5) Os Montes do Nordeste Algarvio, Cristiana Bastos, pág. 74, Lisboa, 1993.
(6) Censo Populacional de 1991
(7) Livro de Registo de Rendas dos Prédios e Juros de Capitais Pertencentes à Fazenda Nacional no concelho de Alcoutim, termo de abertura de 13.03.1867.
(8) Dicionário do Falar Algarvio, Eduardo Brazão Gonçalves, 2ª Edição - Algarve em Foco.
(9) Diário da República, nº 285, 1ª Série B, de 12 de Dezembro de 1995, pág. 7760.
(10)"Alcoutim, Crianças contam-se pelos dedos da mão", Mário Lino, in Expresso de 20 de Setembro de 2008, primeiro caderno, pág. 21